Pontualíssima, após um ano exato, o fotógrafo J.R. Duran apresenta a segunda edição de sua Rev. Nacional (lê-se “revista nacional”). Projetada, criada e editada por Duran e viabilizada pela gráfica Burti, a revista de 143 páginas – quase um livro – nasceu da vontade de publicar assuntos que tivessem a ver com o Brasil de forma mais ampla possível e também aprofundada. Temas reflexivos e fotos de Duran (não as conhecidas por sua publicação na grande imprensa, mas fotos que faz por absoluto prazer), feitas durante viagens, por decisão própria, temas que lhe despertam a vontade de fotografar, sem dúvida uma maneira de conhecer ou de se apropriar do mundo. Ou como ele mesmo escreve na apresentação: “A Rev. Nacional surgiu da ideia de aproximar o olhar do fotógrafo do motivo de seu interesse. Fazer com que a curiosidade seja o motor que desafia a descobrir novos temas, pessoas e horizontes”.
O projeto é ousado: publicar uma revista por ano durante uma década, como se ela fosse um resumo do ano que passou. Ao final de dez anos, teremos um amplo panorama sobre o Brasil. O problema não é ter ideias ousadas, pelo contrário, elas são sempre muito bem-vindas, o problema está em encontrar alguém tão ou mais ousado. Duran não teve esse problema e, desde o início, conta com o apoio e a parceria de Luiz Carlos Burti, Leandro Burti, Leonardo Burti e Caroline Steenmeijer.
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Todas as imagens são do próprio Duran, os textos produzidos por convidados como o jornalista Ivan Marsiglia, que conta os bastidores do poder, publicando trechos de seu diário quando ainda trabalhava na assessoria de imprensa da Presidência da República. Há ainda um texto delicioso de Ricardo Setti, um conto de Ronaldo Bressane, um depoimento do polêmico José Luiz Datena, gravado durante uma conversa telefônica, por exemplo.
E se os textos são um exemplo da boa escrita, que há muito anda fazendo falta na imprensa, sem dúvida são as bem cuidadas fotografias de Duran que fazem a diferença. O belo ensaio de abertura sobre o dia 2 de fevereiro e, portanto, candomblé, os retratos das aeromoças ou mesmo o tão já fotografado Rio de Janeiro. E, uma vez J.R. Duran, sempre J.R. Duran, é claro que a revista é recheada de fotos de belas mulheres nuas e semivestidas ou de biquíni, como as irmãs Bia e Branca do nado livre. Mas nada se compara ao impacto do ensaio feito sobre os homens do BOPE, que mais do que nunca se tornaram conhecidos pelos filmes Tropa de Elite 1 e 2 e por suas recentes incursões nos morros do Rio: “Por meio de uma série de retratos, tento responder uma pergunta muito simples: Quem são eles?”.
Pergunta que parece permanecer sem resposta, mas que nos leva a pensar após ver as imagens. Mas parece que isso não foi o suficiente para Duran, que resolveu surpreender ainda mais quem já estava esperando pela segunda edição. Além da revista propriamente dita, ele criou o caderno especial de quadrinhos, convidando Gabriel Bá, Rafael Coutinho, Fabio Moon e Rafael Grampá ou “os quatro cavaleiros de fino traço, de imaginação consistente e com seus delírios perfeitamente conectados ao cotidiano da imaginação“, como escreve no editorial de apresentação. Enfim, surpreendente é o próprio J.R. Duran, de mente inquieta, curioso, apaixonado por seu projeto, que se nos oferece um quilo e meio de informação também nos dá um tempo para a leitura, a degustação, e acima de tudo nos traz de volta o prazer da lenta contemplação.
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