Bekki, Tanaka, Kenta, Hisashi, Yamagataro, Aixu, Max e Itu são japoneses de Tóquio e formam uma banda de pagode, a Y-no. Apesar de comporem e cantarem em um português, digamos, hesitante, o carisma do octeto não para de crescer. O clipe da principal música deles, Querido Meu Amor, virou hit no YouTube, com mais de 1,5 milhão de acessos.
Com entusiasmo, ainda que em um encadeamento léxico um tanto confuso, cantam em um trecho: “Eu estava viajando/Eu estava sofrendo pra te procurar/A namoração da internet é bom, né?/Eu sou garinha/Eu quis te olhar, mulher nua/Mas agora você está batendo no meu coração/Aí gatinha/Me dá uma chance pra este lixo ma-ra-vi-lho-so”.
A banda começou em 2006, quando eles, que ainda não se conheciam, descobriram um clube de samba na Universidade Sofia, em Tóquio. Em pouco tempo, os futuros nipo-sambistas já dedilhavam o batuque nas mesas, embora sofressem para desembrutecer as cinturas, quando o puxador da ocasião entoava um desafiador: “Só no sapatinho, ô, ô, ô!”.
Logo, passaram a participar das rodas. O início foi difícil por que nenhum deles tocava qualquer instrumento. “Nunca tínhamos visto pandeiro e surdo”, diz Hisashi, 30 anos, o mais articulado em português, que se engajou no desafio de desbravar os mistérios do cavaco. Ele e os demais aprenderam a tocar com os sambistas do clube e aperfeiçoaram as habilidades assistindo a vídeos e DVDs.
A decisão de trabalhar com composições em português aconteceu naturalmente. “O idioma se harmoniza com o ritmo do samba bem melhor que japonês”, diz Hisashi. Entre as influências, ele menciona desde clássicos do pagode (Negritude Júnior e Molejo) até achados menos óbvios (Boka Loka e Inimigos da HP).
Hisashi, durante quatro anos, fez graduação em língua portuguesa – seu objetivo inicial era seguir carreira na diplomacia brasileira. Já o vocalista Kenta faz aulas particulares do idioma. Os demais são familiarizados só com os cumprimentos e vocábulos cotidianos. “Escrevemos as letras em português sem a ajuda de ninguém porque nossa característica é importante, incluindo as traduções erradas”, diz Hisashi. “Mas dicionário é artigo de primeira necessidade.” Ele admite que o grupo sofre para entender as idiossincrasias da nossa língua.
Eles ainda não conseguem viver só de amor ao pagode. Assim, Hisashi e Bekki (surdo) são vendedores; Kenta e Yamagataro (bateria), engenheiros; Tanaka (baixo) é entregador; Aixu (pandeiro), funcionário de escritório; Max (banjo), estudante de Sociologia; enquanto Itu (teclado) se diz “samurai” para evitar o termo “desempregado”. A banda ensaia uma vez por semana e não tem CDs gravados, mas suas músicas são vendidas na Amazon por download.
“Amadores como nós podem por o seu show no internet”, diz Hisashi. “Gente que mora do outro lado do mundo pode assistir a nossa imagem.” De fato, a banda postou em seu site vídeos feitos por internautas brasileiros, em animados covers de Querido Meu Amor. “Vocês me ensinaram a boa pronúncia”, agradece Kenta.
A ambição deles agora é alcançar os trópicos para apresentar aos fãs brasileiros a turnê intitulada Este Lixo Maravilhoso. “Nós pedirmos alguém que nos convide para fazer um show no Brasil. Se possível, com as passargens pagas”, redigiu o empenhado vocalista blogueiro no início do ano. Eles têm na ponta da língua o que anseiam provar no Brasil: “Especialmente feijoada e churrasco! Caipirinha e chopp também!”, suspira Hisashi.
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