Vocês devem estar acompanhando pela imprensa o drama do americano David Goldman, que disputa a guarda do filho de oito anos, orfão de mãe, com o padastro, o brasileiro João Paulo Lins e Silva.
No domingo passado, 300 pessoas sairam às ruas do Rio de Janeiro em passeata, com bandeiras, faixas e cartazes, para pedir a permanência do menino no Brasil.
Pois um outro drama, em sentido inverso, é vivido neste momento por um pai brasileiro, há um ano sem poder ver as filhas, levadas para os Estados Unidos pela mãe norte-americana, com autorização da Justiça do nosso país.
Mas ninguém até hoje saiu às ruas em defesa dos direitos de Thales Leite, um amigo baiano que conheci em Brasília quando lá trabalhei. Ex-assessor parlamentar, montou uma agência de palestras que ia muito bem até o dia em que se separou da mulher, com quem tem três filhas.
De lá para cá, Thales não tem feito outra coisa a não ser lutar na Justiça pelo direito de ver as meninas. Sem condições de tocar seu trabalho, já não tem recursos para pagar integralmente a pensão alimentícia determinada pelo juiz e vive ameaçado de ir para a prisão.
Tenho acompanhado seu sofrimento e me lembrei dele quando vi o noticiário sobre o caso do filho de David Goldman, que provocou até a intervenção do governo americano junto às autoridades brasileiras.
Thales e David vivem o mesmo drama e têm um objetivo comum, que é poder novamente conviver com seus filhos, mas as semelhanças terminam aí.
A mesma Justiça brasileira que garantiu até agora a permanência do filho de David com a família do padastro, no Rio de Janeiro, autorizou a ex-mulher de Thales a levar os filhos embora com ela para outro país.
David tem o apoio do governo e da sociedade norte-americanas; Thales luta sozinho pelos seus direitos, sem a ajuda de ninguém.
Agora há pouco, como acontece regularmente, recebi dele mais uma breve mensagem, que reproduzo abaixo, me contando como está a sua situação.
Faz tempo já deveria ter escrito aqui no Balaio sobre o caso do Thales Leite, mas só agora, com todo o barulho em torno do filho de David Goldman, me dei conta de que, muitas vezes, a notícia mais importante está na nossa cara e nós não percebemos.
“Estou há um ano sem poder ver minhas filhas gêmeas, com dez anos, e a caçula, com oito. A mãe as levou para seu país de origem, depois de morarmos juntos nove anos em Brasília.
O Juiz da Infância autorizou a saída delas sem me comunicar, suprimindo meu direito de convivência acordado meses antes por outra juíza. A Justiça se diz da Infância, mas as maiores prejudicadas foram as meninas, que queriam conviver, também, comigo.
Essa situção é a realidade de muitos pais brasileiros que encontram essa má vontade por parte de juízes e promotores, que insistem em conceder a guarda, em 97% das separações, às mães.
Resultado: elas usam as crianças como instrumento de chantagem para machucar ou exigir compensações financeiras de seus ex-maridos, desestruturando e dividindo a personalidade das crianças.
Ainda há um entendimento, por parte de juízes e promotores, de que crianças “precisam de rotina e apego às casas”.
Esta realidade parece explicar, mas não justificam as agressões às crianças, as que mais sofrem dentro dos lares, vítimas das próprias genitoras.
Crianças, ao contrário, se apegam às pessoas e, em meu caso, eram muito apegadas a mim. Se as mulheres reclamam tão frequentemente dos homens, quem foram os responsáveis pela educação deles?
Se a juíza me tivesse dado a guarda compartilhada, eu não estaria passando por esse sofrimento, nem tão pouco minhas filhas. E eu pedi para ficar com as meninas aqui e a alertei de que a mãe sairia do país com elas.
Sou, por isso, solidário ao David Goldman, não por ser estadunidense – minhas filhas também são – mas por ser o pai biológico do menino.
Quem dera a Lei de Guarda Compartilhada fosse aplicada com tanto rigor, assiduidade e propaganda, como o é a Lei Maria da Penha, criada em proteção das mulheres. Certamente, reduziria os conflitos nas relações entre pais separados e seus filhos”.
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