Todo mês convidamos uma personalidade do universo cultural para escolher algum artista ou obra que tenha sido marcante em sua vida. Nesta edição, perguntamos para Tulipa Ruiz quem ela colocaria em seu “altar”. A escolha da cantora e compositora foi o Grupo Rumo, um dos principais expoentes da chamada Vanguarda Paulistana
“O meu primeiro alumbramento musical foi com o grupo paulistano Rumo. Meus pais são artistas, então, lá na infância, eu era nutrida com o que girava no universo deles. Quando tive autonomia para mexer nos discos lá de casa passei a eleger com interesse e cuidado o que colocaria na vitrola. Essa fase coincidiu com as minhas primeiras leituras, então a experiência não era só a do ouvir, mas também de mergulhar nas letras e fichas técnicas. Foi assim que cheguei no Grupo Rumo, formado originalmente em 1974, com os irmãos Luiz e Paulo Tatit, Ná Ozzetti, Ciça Tuccori, Geraldo Leite, Hélio Ziskind, Pedro Mourão, Zécarlos Ribeiro e Gal Oppido. Fiquei abismada com a descoberta, com aquelas pessoas e com aquele resultado de tantos desdobramentos. O primeiro interesse foi gráfico, as capas feitas por Gal e a artista plástica Edith Derdik me chamaram a atenção. Eram desenhos misturados com fotos e bordados. Gal fazia as fotos e tocava bateria. Aquilo me alucinava. Aquelas pessoas pensavam no som e na imagem do som. E o som, para minha surpresa, era tocado e falado, e a fala era musical. O meu pai era músico e minha mãe atriz. Foi a primeira vez que eu vi as duas coisas juntas. O texto, a intenção do texto, seus significados. Foi aí que eu entendi que a gente fala com melodia e que cada sílaba tem um sabor. Foi aí que eu conheci minha cantora predileta, a Ná. E assim foi a primeira vez que eu chorei ouvindo música. Eu gostava muito de dois discos, o Rumo e o Rumo aos Antigos. Um autoral e o outro de releituras de compositores clássicos. Foi assim que conheci Noel Rosa, Lamartine Babo e Sinhô. No disco autoral tinha uma música chamada Canção Bonita. Na história, um rapaz faz uma música para uma amiga, mas não consegue mandar a canção por carta, porque falta a melodia, e nem consegue sensibilizar o homem da gravadora para registrá-la. Ele, então, mobiliza um pessoal e ensina a música, que é passada de um para o outro até chegar na amiga. Foi com essa música que eu entendi o que era música independente. O Grupo Rumo foi a minha verdadeira universidade.”
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