São apenas palpites, mistura de feeling e achômetro, especulações feitas com algum fundamento estatístico: Kassab é favorito para ganhar de Marta no segundo turno em São Paulo e Serra caminha para uma vitória contra Dilma em 2010, eleição em que, na sua opinião, só dois candidatos fortes deverão concorrer.
Feitas as ressalvas que ele me pediu, durante um bom e demorado almoço com a equipe do iG, é bom deixar claro que não se trata de um palpiteiro qualquer. As previsões acima são de Carlos Augusto Montenegro, 54 anos, que desde os 20 comanda o Ibope, maior instituto de pesquisas da América Latina.
Para justificar seus palpites, ele utiliza argumentos diferentes nas duas situações _ a eleição municipal de domingo que vem e a presidencial daqui a dois anos. Vamos começar pelo quadro que Montenegro desenha para a sucessão presidencial e em seguida falamos das eleições de domingo.
Palpites federais
Na sucessão de Lula, Montenegro acredita que a “bola da vez” é o governador paulista José Serra, assim como me dissera, no início da campanha de 2002, fez questão de lembrar, que a “bola da vez” era Lula _ e, como sabemos, acertou..
Por um motivo principal: desde o trauma Collor, o eleitorado brasileiro não elege mais candidatos fabricados, mas apenas aqueles que têm um currículo, uma história de vida política.
Na opinião do presidente do Ibope, o PT ficou sem um candidato natural, com currículo e história, após a perda de suas principais lideranças na crise do mensalão. E agora restaria pouco tempo para construir um nome forte para concorrer com Serra.
Mesmo repetindo várias vezes que Lula sairá do Palácio do Planalto com um altíssimo índice de aprovação popular, talvez como o maior presidente da nossa história republicana, só comparável a Juscelino e Vargas, Montenegro não acredita que ele terá condições de eleger seu sucessor pelos motivos apontados acima.
“Não tem no Brasil ninguém com uma história igual à do Lula, de Caetés ao Palácio do Planalto. Mas só isso não será suficiente para eleger o sucessor. Ganhando ou perdendo em 2010, a imagem de Lula não estará em jogo. Ele não será julgado, já está na história”.
Montenegro vai mais longe: “Lula vai ter prazer em passar a faixa para o Serra porque eles estiveram juntos em quase todas as lutas políticas desde a ditadura. E o Serra, com certeza, não vai ter muito como mudar o que Lula já fez, especialmente na área social. Vai tocar o barco no mesmo rumo”.
Franco e direto nas suas análises, sem as filigranas de finos analistas políticos, o economista Montenegro, que não chegou a trabalhar nesta profissão, acredita que o próximo presidente deverá ser José Serra, “até pela falta de concorrentes”.
Na sua avaliação, as chances de Ciro Gomes são de 0% porque ele não será o candidato de Lula e há uma “fadiga de material” sentida pelo eleitorado por sua participação em campanhas anteriores: “O maior adversário do Ciro é o Ciro”. Da mesma forma, avalia que já passou a vez de Heloísa Helena, do nanico PSOL, ausente do cenário nacional desde que rompeu com o PT e concorreu com Lula em 2006.
Os dois outros grandes partidos, o PMDB e o DEM, segundo ele, não têm candidatos nem para vice e, por isso, acredita que apenas dois nomes, um da situação e outro da oposição, vão disputar para valer a sucessão de Lula.
“Não vai dar tempo de fabricar um outro candidato daqui até 2010″, afirma com convicção, sem pedir off na conversa. “Eu sempre gosto de falar em on, me sinto mais à vontade. Mas o que estou dizendo aqui são apenas palpites meus, não são análises do Ibope”.
Mesmo reconhecendo que Serra não é um político que prima pela simpatia e pelo carisma, Montenegro baseia sua análise no favoritismo do tucano em dois fatores: o seu currículo político (secretário estadual, deputado federal, senador, prefeito, governador) e, principalmente, no seu trabalho no Ministério da Saúde durante o governo FHC, “em que deixou uma marca de competência. E a saúde hoje é ainda um dos grandes problemas nacionais, como estamos vendo agora nesta campanha eleitoral”.
Palpites municipais
Sem consultar qualquer anotação ou pesquisa do seu Ibope, Montenegro faz uma viagem pelo país e vai nos falando de como vê a situação eleitoral neste momento, em cada capital brasileira, a cinco dias da abertura das urnas, falando com a naturalidade de quem analisa as próximas rodadas do Brasileirão e as chances do seu Botafogo.
Como característica central desta campanha de 2008, o presidente do Ibope aponta um quadro bastante favorável para os prefeitos candidatos à reeleição, em consequência do “momento mágico que o país está vivendo”:
“O Brasil está muito bem, apesar da crise americana que se alastra pelo mundo. Por isso, o Lula está transferindo seu prestígio para todos os governantes do país, seja de qual partido for, do PT ou qualquer outro. As pessoas pensam: se está bom assim, melhor deixar como está”.
Previsão para algumas das principais capitais:
São Paulo: A análise acima é a principal razão para Montenegro considerar o atual prefeito Gilberto Kassab favorito na disputa com Marta Suplicy no segundo turno em São Paulo. Para ele, o ex-governador Geraldo Alckmin está fora da disputa, por uma série de erros cometidos na campanha. O principal deles:
“Alckmin nunca foi visto como um grande administrador, mas como uma pessoa equilibrada, séria, tranquila. Nesta campanha, ele está perdendo estas características. Fez tudo errado o tempo todo. Ele seria praticamente nomeado governador de São Paulo em 2010, porque o PSDB não tem outro candidato para a sucessão estadual. Jogou no lixo uma eleição garantida para governador e deixou o Serra numa situação muito ruim porque para ele é importante manter a aliança com o DEM para 2010″.
Porto Alegre: Pela primeira vez em 20 anos, o PT pode ficar fora do segundo turno em Porto Alegre. O prefeito José Fogaça, do PMDB, já está lá e não dá para prever com quem disputa o segundo turno. Tanto pode ser com Maria do Rosário, do PT, como contra Manuela D´Ávila, do PC do B. Aqui também Montenegro aponta o fator “fadiga de material” para explicar as dificuldades da candidatura do PT.
Rio de Janeiro: Não dá para saber quem vai disputar o segundo turno com Eduardo Paes, do PMDB, o candidato do governador Sergio Cabral. Vai depender do tamanho da “onda Gabeira” que vem se formando nos últimos dias e do voto útil da esquerda _ nele ou em Jandira Fegalli, do PC do B _ para evitar que o bispo Marcello Crivella, do PR, vá para o segundo turno. Até eleitores de Eduardo Paes podem entrar nesta onda, mas o perigo está exatamente aí, alerta Montenegro.
Ele lembra o caso de Porto Alegre nas últimas eleições. Certo de que Germano Rigotto, do PMDB, já estava no segundo turno, muitos eleitores dele votaram em Yeda Crusius, do PSDB, no primeiro, para tirar da disputa Olívio Dutra, do PT. Quem ficou de fora foi Rigotto e Yeda se elegeu.
Salvador: Vai ser a eleição mais emocionante do país, prevê Montenegro. Para ele, o ex-prefeito Antonio Imbassahy, que começou bem a campanha, já está praticamente fora e a disputa se dará entre Walter Pinheiro, do PT, e o atual prefeito, João Henrique, do PMDB, para ver quem enfrentará ACM Neto, do DEM, que lidera as pesquisas. No segundo turno, a definição é imprevisível, dependendo muito da participação que o governador Jaques Wagner e o presidente Lula terão na campanha de Pinheiro na etapa decisiva.
Belo Horizonte: Ao contrário da maioria dos analistas, o presidente do Ibope não crava a vitória de Márcio Lacerda, do PSB, já no primeiro turno, apesar dos seus poderosos padrinhos, o governador tucano Aécio Neves e o prefeito petista Fernado Pimentel. Se houver segundo turno, Montenegro acredita que a disputa se dará com o PMDB e Lacerda deve ganhar.
Recife: Deve ganhar João da Costa, do PT, no primeiro turno.
Fortaleza: Deve ser reeleita a prefeita Luizianne Lins, do PT, no primeiro turno.
Curitiba: Beto Richa se reelege no primeiro turno.
Vitória: Deve ser reeleito João Cozer, do PT, no primeiro turno.
Goiania: Deve ser reeleito Íris Rezende, do PMDB, no primeiro turno.
Uma última pergunta para Montenegro: em que capitais as disputas prometem ser mais emocionantes no segundo turno?
Montenegro; “É mais fácil vocês me perguntarem onde não vai ter emoção nenhuma. Vai ser no Rio de Janeiro, onde o Eduardo Paes deve levar, qualquer que seja seu adversário. Acho que poucas capitais terão disputa de segundo turno desta vez. Mas, onde tiver, vamos encontrar cidades rachadas meio a meio e a disputa vai se dar voto a voto”.
Em tempo: leia o que o botafoguense Carlos Augusto Montenegro falou sobre a sucessão presidencial no seu time e na CBF no blog do meu colega Maurício Stycer aqui mesmo no iG.
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