Amilcare Dallevo Jr. me recebe em sua sala usando camiseta preta – que, no dia da foto ao lado, trocaria, como se vê, por camisa e paletó. Acabo de fazer um tour pelas novas instalações da sua tevê, aquelas que foram inauguradas pelo presidente Lula.

Ele sorri quando conto que Boni, o cara que mais conhece sedes de tevês no mundo, classificou a da Rede TV! como a número 1: “A TV mais luxuosa do mundo é a chinesa. Mas a RedeTV! ganha”, comparou Boni. Amilcare comenta: “Ele disse isso para me agradar”.
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Eu não conheço tantas tevês quanto o Boni. Das que conheço, a RedeTV!, em Osasco, São Paulo, ganha de todas em bom gosto. A área é enorme. Os prédios são baixos. As paredes que dão para o jardim central ganharam janelões. Tudo é muito bem iluminado – sobretudo, pela luz natural. Os corredores são largos.

No jardim, Amilcare instalou alguns tablados de madeira. Sobre eles, há mesas e um conjunto de sofás que é um bonito cenário pronto. Só falta o programa.

O corredor das “ilhas”, o espaço onde são editados os programas, é espacial, lembra 2001, Uma Odisséia no Espaço. A luz azul é repousante. As “ilhas” parecem controle de lançamento da Nasa. Nada daquela barafunda típica de “ilha” em outras tevês.

A eficiência também impressiona. Um novo comercial precisa entrar no ar em tempo recorde. Nem é preciso corre-corre. Basta acionar um botão. Essa mesma agilidade se revela quando é preciso pesquisar qualquer imagem de qualquer programa levado ao ar em dez anos de RedeTV!.

Não há nada over, nem na decoração, o que é raro tratando-se de emissora de TV. Algumas tevês têm instalações enormes e artistas milionários, mas entre lá e você verá a breguice em todos os detalhes.
Aqui, não. É tudo clean. Na medida exata. Vidro, transparência. Móveis confortáveis e modernos.

Um dos estúdios é tão grande que a jamanta que está lá dentro parece um caminhãozinho de brinquedo. Dá para montar os cenários do Jurassic Park tranquilamente. São 1.500 m2. Há outros dois enormes, em torno de 500 m2 cada um.

Redes de tevê mais poderosas não têm estúdios assim. O SBT gastou uma fortuna na construção do Complexo Anhanguera. Mas não montou um estúdio grande, nem sala grande. É o modelo grande por fora, pequeno por dentro. A Record também não deu bola para grandes estúdios em São Paulo. Nem a Globo, que deixou a produção das novelas para o Rio de Janeiro.

O restaurante vip tem uma atração inusitada. O cardápio de vinhos é uma espécie de kindle. Você toca no nome da marca preferida da bebida e aparece a descrição, origem, histórico, safra, etc. No mesmo momento, uma luz se acende sobre uma garrafa do vinho escolhido, na adega transparente no meio do salão. O garçom apanha a garrafa indicada pela luz e a serve.

Tim-tim!

Brasileiros – Fiquei impressionado com tudo que eu vi. Em que tevê do mundo você se inspirou? De onde você tirou isso? Disseram-me que você também opinou na decoração.
Amilcare Dallevo –
Não tirei o modelo de lugar nenhum. Porque, em primeiro lugar, a gente veio da área de tecnologia. Era o que fazíamos antes de trabalhar com TV. Desde 2000, nós separamos trinta pessoas da nossa empresa, a Tecnet, pra desenvolver sistemas para TV. E a gente vem fazendo isso desde aquele ano. E quando montamos o CTD, o Centro de Televisão Digital, a ideia foi mostrar pra quem estivesse aqui aquela tecnologia que nós usamos no dia a dia, que é bastante inovadora… E por que é inovadora? Por que a Tecnet desenvolveu isso? Seria porque é melhor que outras empresas de software? Não. Por dois motivos. Primeiro, porque o brasileiro é criativo. O brasileiro consegue ter soluções que não se teve em outros países. E segundo, porque conseguimos o apoio de uma televisão doida o suficiente pra testar todos os softwares que desenvolvemos. E aqui, a tecnologia foi implantada topdown, porque se não fosse assim, não seria. A gente foi fazendo, foi fazendo, foi fazendo… Tinha gente que era contra, meio do tipo “Ah, se fosse bom a Globo já tinha feito e não sei o quê…”, e hoje ninguém vive sem. Porque qualquer coisa que acontece aqui, todo o mundo tem 1 petabyte à disposição em imagens e pode pegar em segundos qualquer matéria desses 10 anos… “Quero esse pedaço tal; vai pra ilha 3… Vai pela rede, vai pela fibra ótica e vai pra lá.” Então, o nosso conceito hoje é diferente de qualquer televisão, seja ela do Brasil ou do mundo. Mas é um conceito de tecnologia, um conceito de você ter servidores de dados, um conceito de você ter aquele conteúdo disponível pra qualquer um dentro da empresa.

Brasileiros – Quem é o cabeça disso? É você?
A.D. –
Eu sou engenheiro. Sempre trabalhei com tecnologia, muito na área de telecomunicações, mas, depois que eu entrei na área de televisão, comecei a ver como é que dava pra pôr a tecnologia na área de televisão. Porque eu sou assim: eu sou engenheiro. E agora jornalista também. A engenharia sempre me deu um negócio, que eu acho bom, que é o seguinte: você é meio fuçador. Eu sou meio fuçador. Se você falar o seguinte: “Amanhã nós vamos comprar uma rede de farmácias”. Vou dizer: “Deixa ver como é que é isso: compra o remédio, vende, tem de distribuir. O que dá pra fazer pra automatizar esse negócio? Não entendo nada de farmácia, mas vou entender”. E foi assim com a televisão.

Brasileiros – Vocês começaram na televisão quando eu estava na revista Manchete, que ficava no mesmo prédio e vocês compraram horário para produzir o Domingo Milionário…
A.D. –
Foi em 1997, 98… por aí…

Brasileiros – Era o J. Silvestre…
A.D. –
Foi uma das nossas primeiras experiências em televisão. Quando chegou 1994, a Embratel falou: “A Globo tá querendo uma plataforma pra interagir no Carnaval, quer que as pessoas deem nota para as escolas de samba pelo telefone. Vocês fazem?”. ” Sim, fazemos”. Foi a primeira vez que entramos na televisão, em 1994, a primeira vez que eu fui na Globo, que eu vi o lugar onde era feito o Jornal Nacional. Não conhecia nada disso. Aí fomos fazendo e, graças a Deus, foi um sucesso. Depois do Carnaval, fizemos Você Decide, fizemos Intercine, fizemos o sorteio de carros Mercedes-Benz com a Hebe no SBT. Passamos a produzir interatividade para todas as tevês. Foi quando em algumas tevês a gente começou a comprar horário para fazer programas para gerar ligações telefônicas, que foi o caso da Manchete.

Brasileiros – O 0900…
A.D. –
O 0900… a gente comprou lá, na época, um horário do meio-dia às 8 do domingo. Nós trouxemos de volta o J. Silvestre… Tinha o Luiz Thunderbird, que nós contratamos da MTV, o Marcelo Augusto, a Virgínia Novick, Otávio Mesquita, Sergio Mallandro… Começamos como produtores, criando programas para receber ligações. Foi isso que nos aproximou das tevês. E naquela época, a gente comprou a Manchete…

Brasileiros – Do Jaquito (o empresário Pedro Jack Kapeller).
A.D. –
Foi.

Brasileiros – Figura…
A.D. –
Exatamente. O que ele tá fazendo hoje em dia?

Brasileiros – Não sei.
A.D. –
Parece que tem uma editora com a filha, não ficou em um negócio com a filha? Não sei direito, também. E você trabalhava em São Paulo ou no Rio?

Brasileiros – Em São Paulo. E, na revista, com o Salomão Schwartzman… Quando Tão Gomes Pinto assumiu a Manchete, me convidou para dirigir a sucursal de São Paulo, dois anos antes da débâcle…
A.D. –
A Manchete tinha excelentes profissionais, gente de peso… Uma pena que era mal administrada. Tinha tudo pra dar certo.

Brasileiros – Quem montou foi o Adolpho Bloch, era um modelo muito pessoal de administrador. Sem ele, aquilo degringolou… O Jaquito não conseguiu repetir o Adolpho.
A.D. –
Eu comecei a ler aquele livro, os Irmãos Karamabloch, mas não terminei, estou no comecinho.

Brasileiros – É muito engraçado…
A.D. –
Do Arnaldo Bloch, né? Ele é primo do Jaquito. O pai dele era o Leonardo, que era irmão do Adolpho.

Brasileiros – É muito engraçado… O Adolpho uma vez tomou a grana da caixa do boteco vizinho da Manchete. Falou que seus funcionários é que sustentavam o bar. Pegou a grana no braço. Pra pagar os salários.
A.D. –
Tem uma história que eles contam, que eu não sei se é verdade, mas achei muito interessante. Esse caso inclui o Oscar Bloch, que era uma figura muito simpática, na Casa da Manchete, em São Paulo. Eles tinham feito uma festa enorme e, no dia seguinte, o Sindicato dos Jornalistas apareceu na porta, gritando que não pagaram salários porque deram a festa. O sindicato dizia que a festa tinha não sei quê, champanhe francês. Aí, o Oscar Bloch abriu a janela e falou: “Mas era permuta!” (risos). Não sei se a história é verdadeira, mas que é interessante, é.

Brasileiros – No Brasil, as redes de TV são historicamente de famílias. Você está fora desse padrão, é um forasteiro. Deve ter sofrido muita pressão.
A.D. –
Eu sempre digo uma coisa: o brasileiro não perdoa o sucesso. Se você vai mal, tá tudo bem. “Um incompetente, não falei? Não ia dar certo.” Mas se você for bem… dizem que tem alguma falcatrua nisso. O brasileiro adora achar culpado. Quando nós compramos a tevê, começaram os boatos. “Aí tem alguma coisa, os caras são sócios de alguém, da Telefonica, dos cassinos de Las Vegas, do FHC…” Eu tenho uma lista de sócios que a imprensa arrumou pra gente. E éramos só eu e o Marcelo (Marcelo Carvalho, sócio e vice-presidente da RedeTV!). No dia 5, quando tinha de arcar com a folha de pagamento, nunca apareceu outro sócio desses pra dar o cheque, só nós dois. Isso a gente sofreu no começo. Imagine a chuva de pedra que caiu aqui. A gente foi pondo as coisas no lugar e agora conseguimos acertar e estamos aqui para trabalhar. É muito legal trabalhar. A gente não conseguia. Só tinha de resolver problemas.

Brasileiros – Mas, escuta, tem algumas coisas aqui que me impressionaram. Um estúdio que eu vi parece Hollywood…
A.D. –
É o maior estúdio da televisão brasileira. Você sabe que eu estive em Los Angeles, na Universal e vi que o nosso estúdio G não fica devendo nada aos estúdios deles. Tá certo que eles têm dez como esse. Em termos de altura, volume, área, tudo é muito grande. A gente pretende fazer dramaturgia, não novela.

Brasileiros – Filmes?
A.D. –
Minisséries. A gente acredita em conteúdos curtos. A sociedade mudou. Se você perdeu a história naquela semana, não tem problema. Você assiste na outra, não precisa ser todo dia, no mesmo horário

Brasileiros – A fórmula mágica do Boni – duas novelas com um jornal no meio – está no fim?
A.D. –
Eu acho. Porque a sociedade tem mudanças. Hoje em dia, você não chega mais em casa às sete da noite, você chega às nove; hoje em dia, mais da metade do contingente que trabalha não são homens, são mulheres; hoje em dia, as pessoas querem jantar fora, querem ter uma vida social mais ativa. É diferente. Há 40 anos, meus pais ficavam seis meses na frente da televisão, assistindo a mesma novela, no mesmo horário! Hoje, tem muitas opções. Eu entro na internet e posso ver o que é que está acontecendo no mundo naquele instante. Por que é que eu vou esperar domingo pra saber? A sociedade mudou, a tecnologia mudou, um monte de coisas mudou. Então, a televisão tem de mudar, tem de acompanhar. Não adianta falar: “Ah, era bom do jeito que era”. Tá bom: era bom naquela época; agora não é mais.

Brasileiros – Quer dizer que você não apostaria um tostão em novela?
A.D. –
Não. A Globo, por exemplo, produz novela melhor que ninguém. São as melhores do mundo. E as novelas que a Globo faz hoje têm muito mais qualidade que as novelas produzidas na década de 1980, só que na década de 1980 a novela dava 80 pontos, agora dá 40. Por quê? Se tá melhor, se tá mais benfeita, se tá bem produzida, por que é que dá menos? Ora, porque a sociedade mudou. Então, é a isso que a televisão tem de chegar.

Brasileiros – Há uma tendência nas revistas também de conteúdo mais curto, como esse que você defende para a TV.
A.D. –
Eu vou te dar um exemplo de revista. Em 1995, eu estava fazendo um trabalho com Nuno Cobra e me entrevistaram para uma matéria sobre empresário que cuidava da saúde. Eu tinha 35 anos na época, e fui capa da revista Vip. Não sei se você se lembra, mas, 15 anos atrás, a Vip tinha empresário na capa. Lembra disso? Apareci com uma calça grande, dizendo: “Olha como emagreci”. Até que um dia, eles puseram uma mulher na capa. Deve ter vendido quinze vezes mais. Nunca mais botaram empresário na capa. Só mulher.

Brasileiros – É pesquisa da Editora Abril. Noventa por cento das revistas não segmentadas têm mulher na capa. É o que vende.
A.D. –
Porque a Vip era de negócios, de empresário, meio isso. Depois, puseram uma mulher com mãos no peito e nunca mais teve empresário na capa. Então, do mesmo jeito que isso mudou, tem de mudar a televisão. Faz dois meses que o Pânico fica meia hora na frente do Fantástico. Você diria isso há três anos?

Brasileiros – Quando os caras do programa Pânico chegaram aqui você achou um absurdo?
A.D. –
Não, eles já estão aqui há seis anos. E, na realidade, eles não chegaram, nós fomos procurar.

Brasileiros – Eles estavam na Rádio Jovem Pan…
A.D. –
Oito anos atrás… Fomos conversar… E a gente quer coisas inovadoras. Se me perguntassem: “Você pagaria um milhão pra ter um grande astro?”. Não. A RedeTV! não tem essa condição. Nós temos gente nova, gente que está despontando, gente com talento diferenciado, mas pagamos salários de um mundo real, porque não temos nenhum outro rendimento além daquele que vem dos anunciantes. E tem de fechar a conta.

Brasileiros – Suponhamos que você contrate uma estrela como o Faustão. Você não vai ter bem mais audiência e a publicidade acabará pagando a conta?
A.D. –
Olha, adoro Gugu, Faustão. O Faustão ganha 5 milhões por mês na Globo. É totalmente fora da nossa realidade e também não é o nosso caminho. Mesmo se a gente faturasse 100 milhões, não teríamos alguém ganhando 5 milhões por mês. É um caminho diferenciado. Por quê? Porque tudo mudou. Depois do Faustão, vem o Fantástico. Há 20 anos dava 80 pontos de audiência. Você diria que o Pânico iria ficar em primeiro lugar de audiência durante meia hora?

Brasileiros – Para a Globo, deve ser uma paulada.
A.D. –
E a Record tem o Gugu, que ganha 3 milhões por mês. Quase metade do Faustão. E o Pânico, quando está na frente, gasta muito longe disso. É diferente. Então, na realidade, o público de TV não quer ver o pessoal que vê há 30 anos, quer coisa nova, diferente.

Brasileiros – Tudo a favor da Hebe, mas a audiência dela parou lá embaixo e de lá não sai.
A.D. –
As pessoas mudam, a sociedade muda, a tecnologia muda e, como diz o Cazuza na música dele, tudo muda e a gente tem de perceber essas mudanças, não pode segurar o passado. Hoje, eu assisto a RedeTV! e entro no portal da RedeTV!, que é hospedado em Dallas, nos Estados Unidos. São 20 mil acessos simultâneos de vídeo.

Brasileiros – Você põe a programação da RedeTV! ao vivo no portal?
A.D. –
Sim, nós colocamos ao vivo, somos a única emissora que faz isso. Dizem que não tem como vender na internet. Como não tem como vender? Essa área ainda tem muito que evoluir e virão aí muitas mudanças pela frente.

Brasileiros – Você percebe a Globo como esse grande monopólio, essa grande força que esmaga as demais redes de televisão? Como é a sua relação com a Globo?
A.D. –
Tenho grandes amigos na Globo, gosto das pessoas, mas realmente tem um negócio de monopólio. Digo que a Globo transmite desde o futebol, basquete, vôlei até o campeonato de palitinho de bar. Daí fica difícil para as outras concorrerem. Mas eu acho que cada vez mais tem muita coisa para ser comprada. Agora mesmo, acabamos de mostrar o jogo da Copa de Juniores, uma coisa que deu pra gente passar. Por maior poder de compra que tenha a Globo, tem muita coisa que ela começa a não poder comprar.

Brasileiros – Por quê?
A.D. –
Porque o mundo tem muitas opções.

Brasileiros – Não dá para eles comprarem tudo. Mas tem a Record, que em tudo imita a Globo, e sai comprando também. Você acha que é fria imitar a Globo?
A.D. –
O nosso caminho é ser diferente da Globo. O caminho da Record é imitar a Globo; o nosso, é ser diferente da Globo. Vide o jornal. O Jornal Nacional tem uma bancada com uma redação atrás. O Jornal da Record tem uma bancada que tem uma redação atrás. No nosso, há bancada giratória no meio da redação. A gente não quer imitar a Globo. Queremos ser uma emissora diferente. Deixa a Globo fazer o negócio dela, deixa a Record fazer igual à Globo…

Brasileiros – E como você vê o SBT?
A.D. –
O SBT tem aquele caminho dele, programa de auditório e tal…

Brasileiros – Parece que eles ficaram no passado…
A.D. –
É um estilo diferente do nosso. A gente quer uma TV cool, uma TV que os brasileiros gostem de assistir. Nós temos muito público A e B. Nós temos mais A e B por ponto de audiência. Na média da televisão, 45% do nosso telespectador é A-B, sendo que a Globo são 33%.

Brasileiros – Que era a ideia original do Adolpho Bloch, uma TV de qualidade…
A.D. –
Mas o A e B a gente atinge com a nossa programação. Não é com Bach nem Mozart às oito da noite. Por quê? Porque A e B gosta de atualidades. Esse público não quer uma coisa brega, mas uma coisa atual. Então, todos os nossos exemplos são assim. Hoje, a gente tem um programa político extremamente bem conceituado que é o É Notícia, com Kennedy Alencar. Ele era um jornalista da Folha de S. Paulo. Lendo as matérias dele, a gente viu… Pô, esse cara pode ser um cara interessante, vamos conversar com ele. E trouxemos o Kennedy pra televisão, treinamos o Kennedy no RedeTV! News e, hoje em dia, o programa dele é um dos mais respeitados que tem. Outro dia, ele entrevistou o presidente Lula, deu 2,5 de média, da meia-noite à uma. E no portal, dá pra assistir a qualquer um dos programas. Já vieram no É Notícia Aécio Neves, José Serra, Fernando Henrique, Ciro Gomes, Marina, Dilma, Eike Batista. Agora, a gente foi pegar alguém que já existia na tevê? Não. O Pânico já existia? Não, nós criamos o Pânico na TV. Porque o Pânico na TV é totalmente diferente do programa Pânico da rádio. Então, o que é que tem oportunidade? É você criar coisas novas dentro do contexto social que a gente vive hoje, que é diferente de trinta anos atrás. O Dr. Hollywood é um programa que nós compramos nos Estados Unidos…

Brasileiros – Está havendo algum atrito entre a RedeTV! e o Doutor… como ele se chama? Dr. Ray, é isso?
A.D. –
Atrito nenhum. Nós compramos esse programa, depois acabou a série. Seis temporadas. E aí, compramos os direitos para produzir novas temporadas em Los Angeles. Aqui, não deixam produzir, a sociedade dos médicos não deixa. Conversamos com o dr. Ray se ele queria ser um dos médicos do programa. Aí, ele pediu um valor tão expressivo, não fechava a conta. Então, nós vamos produzir, mas com outros médicos de lá. Na RedeTV! tem o seguinte: precisa fechar a conta. Se não fechar, não vai pro ar. Porque nós não temos nem igreja nem Tele Sena. Então, aqui tem de vir do mercado publicitário.

Brasileiros – Falando em igreja, o que você acha de vender horários para ela? Igreja e televisão são compatíveis?
A.D. –
Outro dia fizeram um movimento aí para acabar com as igrejas na televisão, venda de horário, não sei o quê. Eu sou católico. Agora, eu acho que a Constituição brasileira ensina que você não pode privilegiar uma igreja em detrimento de outra. Então, por que é que você não pode vender horário para uma igreja evangélica, mas pode passar a missa da Aparecida todo domingo? Então, eu acho o seguinte: cada um tem sua crença. Se o evangélico quer ter um programa de televisão, ele pode ter, do mesmo jeito que o católico, o umbandista, você não acha? Eu acho. Agora, esse negócio de isso pode, isso não pode… O que é isso? A Constituição de 1988 fala que todo mundo tem o direito de ter sua religião. Eu tenho a minha, não quero convencer ninguém da minha, também não quero que ninguém me convença das outras, mas respeito todas. Então, a televisão tem de ser um negócio pluralista em termos de religião, como tem de ser em termos de regionalização. Eu acho o seguinte: nós temos de estar abertos à discussão e ao diálogo. Só isso melhora a comunicação no Brasil. Não sei quem quer coibir a imprensa ou quer ter uma sala em Brasília com meia dúzia de caras que controlem o conteúdo. Vou ser contra. Eu não quero mais dona Solange. Sabe qual é o melhor controlador de conteúdo? O controle remoto. Não gostou? Muda de canal. Desliga. Ah, tem baixaria na televisão. Mas quem considera baixaria? Aquela meia dúzia de caras de Brasília? Não pode. Agora, vamos discutir como é que vamos deixar o negócio mais plural, como fazer pra ter mais microfones, pra fazer a regionalização realmente funcionar. A RedeTV!, a Abra (Associação Brasileira de Radiodifusores), a Bandeirantes são totalmente abertos à discussão. Nós fomos lá, foi extremamente produtivo. Não sei se vai dar em alguma coisa, mas vamos lá. A televisão é um veículo de comunicação de massa. Tem de representar todas as correntes.

Brasileiros – Qual é o eixo da RedeTV!? É o jornalismo?
A.D. –
Nós temos jornalismo desde o dia 15 de novembro de 1999. Inauguramos a emissora às seis horas da manhã com uma entrevista com o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. E, de lá até aqui, nunca paramos o jornalismo. É caro, não sei o quê, não dá retorno, mas nós sempre fizemos jornalismo, porque achamos que é a espinha dorsal. É o que dá credibilidade. E o nosso jornalismo – você vai lá na redação agora, com o seu gravadorzinho e pergunta qual é a influência que tem a direção no jornalismo? Nenhuma. Nós nunca mandamos falar bem de alguém, nunca mandamos tirar matéria que fala mal de outro alguém. E aí o que acontece? O jornalismo tem cada vez mais audiência. As pessoas assistem sabendo que não tem negócio de puxar a brasa pra uma sardinha, puxar pra outra, e todo mundo dentro da redação fala isso. Uma das grandes vantagens de trabalhar na RedeTV! é essa. E, diga-se de passagem, nosso jornalismo tem correspondido à altura dessa liberdade e responsabilidade que damos. Nosso jornalismo é muito responsável, não tem coisa de falar por falar sem checar informação, inventar coisa pra dar audiência. Não tem. A gente dá liberdade e eles retribuem com muita seriedade. Uma vez pegou fogo numa fábrica de colchão e as outras emissoras deram que tinha caído avião, não sei quê. Aqui, não. Vamos esperar, o que é e o que não é. Graças a Deus, temos tido muita imparcialidade e muita cautela na divulgação dos fatos e a população vai percebendo isso ao longo dos anos.

ADOLPHO BLOCH NO BAR DO JOAQUIM
Nesse trecho do livro Os Irmãos Karamabloch*, Arnaldo Bloch conta como seu tio e dono da Manchete assaltou o caixa do botecoDe tempos em tempos, os banqueiros, sentindo-se explorados pelo astuto imigrante, fechavam a torneira. Nessas horas, ai do Joaquim do bar da frente, cuja freguesia muito dependia da atividade na Frei Caneca.
“Você está rico, Joaquim. Eu estou morrendo.”
“Morrendo de quê? O senhor está até corado!”
“Me dá!”
Não dou, seu Adolpho!”
“Você não era nada, eu te salvei, dei freguesia!”
“Com todo o respeito, isso não lhe dá o direito de dispor do meu caixa!”
“Me dá!”, explodiu. Num acesso, passou pela portinhola sob o balcão, invadiu a tasca, tirou o Joaquim do caminho e avançou sobre o caixa.
“Seu Adolpho, o senhor não tem o direito…”
“Se chegar perto, vai levar!”
Abriu a gaveta da caixa registradora, tirou tudo o que tinha, enfiou nos bolsos largos. Joaquim aguardou o desfecho, petrificado.
“Você não sabe o que eu estou passando, querido. Eu te pago semana que vem”, gemeu Adolpho, deixando o estabelecimento. Aproveitou o pasmo para escapar até a Kombi onde o esperava o Nelson Aires, para irem ao banco.
“Joaquim, você é um santo. Deus vai te pagar. E eu também”, gritou da janela do carro.

*Cia das Letras, 2008


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