Papo de Papa

Queridos, já temos nas manchetes um cardeal dizendo que Dilma precisa explicar suas convicções religiosas, principalmente o que pensa acerca de homossexualidade e aborto, pois, espertíssimo que é, desconfia que aquilo que a presidenta disse durante a campanha pode não ser posto em prática. A perspicácia de Vossa Eminência me assombra, de fato, Dilma e Serra prometeram vender as mães, pois com isso poderiam conseguir os votos dos conservadores, incluindo-se aí os evangélicos e católicos em geral. Agora, já eleita, Dilma vai botar em prática aquilo que realmente pensa, e o Vaticano decidiu tomar satisfações. Com base em que, não me perguntem, pois o Estado brasileiro é laico, não se mistura com religião, portanto, o poder de ingerência do Papa em nossos assuntos internos tende a zero. Tal como o Vaticano, o Brasil é um Estado soberano, aliás, a maior nação católica do mundo. Sei que os evangélicos avançaram muito nas últimas décadas, mas, outro dia, passando de ônibus em frente à Igreja  Nossa Senhora do Brasil, na Avenida Brasil, em São Paulo, vi que várias pessoas fizeram o sinal da cruz. Digam o que quiserem, a força da igreja está lá, no coração do povo.

Dilma é obrigada, pela constituição, a zelar pela liberdade de qualquer culto religioso, mas a coisa para por aí. Lembram-se da carta dela aos evangélicos, prometendo não legislar acerca de assuntos religiosos, ou acerca do aborto? Sobre assuntos religiosos, como dito, ela não pode e nem quer legislar, mas casamento civil, aquele que os homossexuais querem, não tem nada a ver com casamento religioso, ela pode e vai legislar sobre o assunto. Eu já tinha dito a vocês que estava certo de me casar com outro homem ainda nessa década, nem esperava que fosse tão rápido. Como eu cansei de anunciar, o Ministro Ayres Brito, do Supremo Tribunal Federal, já avisou que o julgamento das ações da constitucionalidade das uniões homoafetivas entram na pauta de julgamento em fevereiro, já sinalizou que é a favor, e que o parecer da Procuradoria Geral da República também é favorável. Já sabemos que temos votos suficientes com os outros ministros, talvez até para uma vitória por unanimidade. Só vai me faltar o maridão.

Já sobre o aborto, a questão é outra, fundamentalmente de saúde pública, pois milhares de mulheres morrem todos os anos, no Brasil, após fazerem abortos em clínicas que são verdadeiros açougues, e o governo não pode fechar os olhos a isso. É um tema que suscita paixões mundo afora, de todos os lados, mas é uma questão de Estado, e o Vaticano não tem nada a ver com isso. Quanto a discutir a homossexualidade, só posso recomendar a todos que leiam a obra maravilhosa do padre gay James Alison, que mostra como não existe nenhuma contradição em ser homossexual e católico – eu o sou – como nos conta um pouco do que se passa no Vaticano nos dias de hoje. Ratzinger só está fazendo o papel dele: ladra, mas não morde. Abraços do Cavalcanti.


Comentários

2 respostas para “Papo de Papa”

  1. Meu caro, esse não é um Cardeal brasileiro que recentemente assumiu um ministério, ou coisa que o valha, no Vaticano? Essa posição é da pessoa do Cardeal ou do Vaticano? Beijas.

    1. No vaticano, ministro é isso: obedece ao Papa em todos os termos, e então ganha nota boa, e fica felizinho…
      Bjs do Lourenço

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