Carlo di Palma em filmagem de Gabriela. Foto: Hélio Campos Mello
Carlo Di Palma em filmagem de Gabriela. Foto: Hélio Campos Mello


Que Horas Ela Volta?
é um filme imperdível. Assim como imperdível é a entrevista que Marcelo Pinheiro fez com sua diretora, Anna Muylaert. Espécie de síntese audiovisual de alguns temas centrais em Casa- Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, o longa é uma aula sobre o Brasil. Para ampliar as discussões, pensamos também em José Padilha, responsável pela série Narcos, que está bombando no Netflix, com o excelente Wagner Moura.

Convidamos, para entrevistar Padilha, Ricardo Kotscho. Velho companheiro e colaborador honorário da revista, ele havia entrevistado o cineasta para a reportagem de capa da edição 23 de Brasileiros, de junho de 2009. Kotscho sugeriu que reuníssemos, em volta de uma mesa, além do autor de Tropa de Elite, mais duas feras, Fernando Meirelles e Walter Salles.

Como Padilha estava em Los Angeles, envolvido com Narcos, Meirelles em Belém, dirigindo a ópera Os Pescadores de Pérolas, de Bizet, e Walter Salles pelo mundo, divulgando o documentário Jia Zhang-ke, Um Homem de Fenyang, a mesa foi substituída pelos caminhos digitais e a partir daí celulares e computadores dispararam e-mails, balizados pela coordenadora editorial Cândida Del Tedesco, entre a redação e os cineastas. O resultado é uma rara discussão sobre passado, futuro e presente do cinema.

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Carlo Di Palma, o diretor de fotografia retratado aqui ao lado, trabalhou com Michelangelo Antonioni em Deserto Vermelho (1964), rodado em Ravenna, na Itália, e Blow Up, Depois Daquele Beijo (1966), filmado em Londres. Com Mario Monicelli, fez o impagável O Incrível Exército de Brancaleone (1966). Com Bernardo Bertolucci, A Tragédia de Um Homem Ridículo (1981).

Nascido em Roma, Di Palma começou sua carreira nos filmes Obsessão, de Luchino Visconti (1943), e Paisà, de Roberto Rosselini (1946). Em ambos foi assistente, mas não foi creditado. Na década de 1980, foi a Nova York para trabalhar com Woody Allen. A parceria rendeu 11 filmes – de Hannah e Suas Irmãs (1986) a Desconstruindo Harry (1997). Di Palma foi fotografado em Paraty medindo a luz durante as filmagens de Gabriela, de Bruno Barreto. Ele foi diretor de fotografia do longa, que tinha a deslumbrante Sônia Braga como protagonista e Marcello Mastroianni como Nacib. A adaptação de Barreto para o romance de Jorge Amado foi produzida por Harold Nebenzal e Ibrahim Moussa. Nebenzal foi produtor assistente de Cabaret, o clássico de Bob Fosse, com Liza Minelli, e Moussa, que foi casado com Nastassja Kinski, produziu Entrevista, de Federico Fellini.

Gabriela foi lançado em 1983. Período em que o cinema brasileiro, com algumas exceções, andava de mal com o público. Realidade muito diferente de 2015. Hoje, 307 produções estão em andamento no País, segundo dados da Ancine. Transformação perceptível em Narcos, produção norte-americana que chama a atenção pela qualidade, mas também pelo fato de ter diretor e produtor, José Padilha, protagonista, Wagner Moura, e diretor de fotografia, Lula Carvalho, brasileiros. Hoje, os grandes talentos do nosso cinema desconhecem fronteiras e repetem a trajetória de profissionais notáveis como Carlo Di Palma, que saiu de cena em 2004.


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