Aos leitores:
esta matéria foi originalmente publicada em “off”. Agora, às 14h40, foi atualizada em “on”.
Os pesquisadores do Ibope só irão a campo daqui a uns dez dias para saber o que muda no quadro da sucessão presidencial após a revelação da doença da ministra Dilma Roussef, provável candidata do governo.
“Não muda nada”, assegurou-me ontem à noite Carlos Augusto Montenegro, o homem do Ibope, um dos mais antigos e respeitados analistas de pesquisas políticas do país. Em meia hora de conversa, ele me deu o seguinte cenário, mesmo antes de ter em mãos os números desta nova pesquisa.
* Dilma deve, num primeiro momento, manter os mesmos índices anteriores. A transferência de votos do presidente Lula para ela chegará mais adiante a um patamar de 15%. A partir daí, será difícil conquistar cada ponto a mais.
* O mesmo vale para qualquer outro candidato do governo na lista que será pesquisada para saber quem teria mais chances na eleição, caso Dilma seja obrigada a desistir da campanha, e Lula tenha que buscar outro nome. Tarso, Ciro, Palocci, Patrus, Haddad, qualquer um deles receberia o mesmo índice de transferência de votos e teria a mesma dificuldade para crescer a partir daí.
* A campanha de 2010 deverá mesmo ficar polarizada entre o candidato do governo e o candidato da oposição. Sem candidato, mais uma vez, o PMDB se dividiria meio a meio entre os dois lados da disputa. Ciro Gomes só seria candidato, em caso de desistência de Dilma, se for apoiado por Lula. Heloísa Helena e Cristovam Buarque desta vez não teriam espaço para suas candidaturas.
* O candidato da oposição será o tucano José Serra, do PSDB, que mantém seu amplo favoritismo na corrida presidencial e tem chances de vencer já no primeiro turno. As prévias do PSDB cobradas por Aécio Neves devem mesmo ficar para fevereiro, quando as pesquisas já devem apontar uma clara definição no quadro sucessário.
* A análise é a mesma feita antes das eleições municipais de 2008: assim como em 2002 era “a vez de Lula”, em 2010 será “a vez do Serra”, segundo Montenegro, e nada indica uma mudança brusca no cenário.
* Para ele, a “Era do PT” acabou no episódio do mensalão, que engoliu suas principais lideranças, embora o presidente Lula tenha mantido e até ampliado seu prestígio de lá para cá. Por isso, acredita que em 2010 não haverá nenhum nome do partido capaz de impedir a vitória de José Serra. Confrontado com os números das pesquisas em fevereiro de 2010, Aécio poderia escolher entre ser seu vice ou se candidatar ao Senado por Minas.
* Qualquer que seja o resultado da eleição e o efeito da crise econômica mundial no país, ele acredita que Lula deixará o Palácio do Planalto pela porta da frente, festejado pela população. “Ele já entrou para a História como um dos nossos três maiores presidentes da República, ao lado de Getúlio e Juscelino. Ninguém tem uma história igual à dele e a vida da maioria da população melhorou no governo do Lula, o país mudou”.
É bom deixar bem claro, antes que os leitores comecem a me chamar de tucano, que o cenário desenhado acima pelo homem do Ibope não reflete desejos ou torcidas, nem da parte dele nem da minha, mas apenas uma análise realista do processo sucessário.
Ao contrário, como se trata de uma disputa com final bastante previsível, meu interlocutor acredita que terá poucas encomendas de pesquisas no próximo ano _ o que seria ruim para seu próprio negócio.
Enfim, eles se tocaram
Não é nada, não é nada, não chega a ser nenhuma maravilha de moralização, mas dois fatos ocorridos ontem mostram que finalmente eles se tocaram que aquela farra com o dinheiro público não poderia continuar.
Na mesma segunda-feira, sob o comando de Michel Temer, a Câmara limitou o uso das cotas de passagens aéreas e Luciana Cardoso pediu demissão do seu cargo no Senado.
Mas ninguém pediu desculpas pelo que aconteceu antes, muito menos se falou em punições ou em devolver o dinheiro aos cofres públicos. Ao contrário, ambos procuraram justificar seus atos como a coisa mais normal do mundo.
Para anistiar o passado das maracutaias a granel, o presidente da Câmara teve a coragem de dizer:
“Em primeiro lugar, nunca houve farra. Existia um sistema normativo anterior e agora vamos minimizar o noticiário”.
Então tá bom, não se fala mais no assunto
Luciana Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que desde 2003 trabalhava sem sair de sua casa como secretária parlamentar do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), explicou que pediu demissão para “evitar constrangimentos” ao seu chefe. “Não quero que pairem dúvidas sobre seus propósitos nem sobre minha conduta”, escreveu ela na carta entregue ao senador.
Há controvérsias Para explicar porque nunca aparecia no gabinete do seu chefe no Senado, Luciana afirmou em entrevista à Folha que “o Senado era uma bagunça” e sua função era “cuidar das coisas pessoais do senador”, o que poderia fazer em casa.
O problema é que o Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União para investigar se ela era funcionária-fantasma e o processo pede a devolução do dinheiro que recebeu durante estes cinco anos. Não era pouco: R$ 7.600 por mês, fora os benefícios.
Depois de tanto barulho, alguma coisa se move. Resta saber em que direção.
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