Para Mario Prata, “a melhor literatura que se faz hoje no mundo é a policial”

 

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O escritor Mario Prata

“Todo mundo pergunta isso, se o romance policial é uma arte menor. Eu acho que a melhor literatura que se faz hoje no mundo é a policial”. Foi o que afirmou no último sábado, em bate-papo na Biblioteca de São Paulo, o escritor Mario Prata (colunista da Brasileiros), convidado do projeto Encontro com Autores e Ideias, de Mona Dorf. Autor de crônicas, contos, romances, roteiros e peças teatrais, Prata tornou-se nos últimos anos um aficionado pelo romance policial, gênero que, apesar da enorme popularidade, por vezes é ainda pouco valorizado no mundo da literatura. Atualmente, sua biblioteca possui mais de 800 títulos da categoria.

“Resolvi estudar literatura policial. E sou muito CDF. Então comecei com o básico, Agatha Christie, Conan Doyle… Hoje estou lendo os pais da literatura policial nórdica. Um casal, Maj Sjöwall e Per Wahlöö, que escreveu importantes romances nos anos 1960”, contou. Depois de certo tempo de imersão, Prata decidiu ele mesmo escrever romances do gênero; primeiro foi Sete de Paus, em 2008, depois Os Viúvos, em 2010. Mas segundo o autor, alguns de seus livros anteriores já traziam traços do estilo: “James Lins, Os Anjos de Badaró e Purgatório. Notei que esses livros eram meio marginais. Não chegavam a ser literatura policial, mas tendiam para ela.”

Com cerca de 50 anos de carreira, Prata considera que ainda está “engatinhando” neste novo trajeto, mas que começa a sentir mais firmeza após as duas primeiras publicações. Seu caminho é, portanto, bem distinto do percorrido por alguns dos grandes autores que se firmaram como escritores policiais e, depois, tentaram pisar fora deste terreno. “Todos, desde Doyle até Ruth Rendell, Camilleri e Georges Simenom, tentaram escrever alguma coisa fora do policial, e todos se deram mal. A impressão que me dá é que eles eram de uma época em que escrever livro policial não pegava bem.”

Processo de criação e internet

Se ainda está engatinhando no gênero policial, como afirma, Prata sabe que é a transpiração a base do trabalho do escritor. “Muita gente pergunta como é que a gente escreve. Fica pensando que de repente bate uma inspiração. Porra nenhuma! Meu pai é médico, por exemplo, tem que fazer uma operação às 7h da manhã, não dá pra acordar e pensar ‘hoje não estou inspirado’. Então é isso, você tem que entregar sua crônica na segunda-feira, e você sabe disso”, enfatizou o autor.

Por fim, Prata falou também sobre a internet, e como ela pode ajudar inclusive no processo de criação. Citou, neste ponto, a série de entrevistas que está escrevendo para a Brasileiros (leia aqui), nas quais conversa com franqueza com grandes nomes da história do País – Tiradentes, D. Pedro I, Padre Anchieta e por aí vai. “Uso demais a internet. Nessa série, por exemplo, fui entrevistar Dona Maria I, a Louca, e em meia hora no computador eu tinha 20 páginas categorizadas sobre ela”.

Nesse sentido, aproveitou para criticar as grandes editoras, ainda desconectadas das possibilidades que a web lhes oferece. Para Prata, os livros digitais poderiam acrescentar novos horizontes à leitura se, por exemplo, “levassem” os leitores para os lugares citados no enredo, através de links de sites, mapas e fotos. “As editoras de maneira geral, e as do Brasil de maneira específica, não têm a menor ideia do que é a internet. O máximo que sabem é que quando é ‘www’ é site, e quando é ‘@’ é e-mail”, ironizou o escritor.

Não sabem também, segundo Prata, que no mundo virtual estão escondidos grandes talentos da literatura, que deveriam ser procurados pelas editoras. “Deveriam contratar um editor para ficar sentado 8 horas por dia fuçando blog por aí. Se fizerem isso, vão achar gente maravilhosa escrevendo. Se você ficar o ano inteiro e achar dois, do caceta! Ao invés disso, eles continuam procurando calhamaços para ler…”.


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