Para onde vai o MST? Com a palavra, o eterno líder Stédile

“O MST não é capacho de ninguém”, proclamou Joâo Pedro Stédile, o eterno líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao final de uma hora de entrevista ao programa “3 a 1″, gravado na manhã desta sexta-feira, nos estúdios da TV Brasil, em São Paulo. E emendou: “Não é porque o Lula mandou votar na Dilma que nós temos que votar na Dilma”.

Stédile cobrou dos candidatos um projeto para o país porque, segundo ele, os movimentos sociais querem discutir propostas e não nomes antes de se posicionar em relação às eleições presidenciais de 2010.

No programa, que irá ao ar às 23 horas da próxima quarta-feira, Stédile falou dos pontos positivos e negativos do governo Lula, dos rumos do MST e dos últimos acontecimentos envolvendo o movimento. Reconheceu erros e pediu desculpas, mas atribuiu a “agentes infiltrados” os atos de depredação e violência na fazenda da Cutrale, chamou a burguesia nacional de idiota, defendeu a agricultura familiar e atacou o agronegócio, a direita ruralista e a CPI.

Quase trinta anos depois de fazer a primeira entrevista com ele na Encruzilhada Natalino, o berço do MST no interior do Rio Grande do Sul, reencontrei o mesmo Stédile indignado de sempre, defendendo as mesmas idéias com a mesma convicção, sem dar espaço para dúvidas ou incertezas.

Mais magro, ele deu boas risadas com as histórias contadas por Luis Carlos Azedo, o apresentador do programa, antes da gravação começar. Já no estúdio, fechou a cara, aumentou o tom de voz e emendou um discurso no outro. Mas negou que o MST tenha se transformado num movimento político e, olhando diretamente para a câmera, disparou: “O MST não é um partido!”.

Além de Azedo, participaram como entrevistadores a repórter Cátia Seabra, da Folha, e eu. Várias vezes, o líder do MST negou que o movimento tenha optado nos últimos tempos por uma estratégia de confronto, atribuindo os excessos ao desespero das famílias acampadas à espera de terra.

Stédile reconheceu que os movimentos sociais envelheceram e passam por um processo de esvaziamento, “não só no Brasil, mas no mundo inteiro”, por conta de uma transição entre o neoliberalismo e algo novo que ele ainda não sabe definir claramente o que é. “Em breve, penso que surgirão novos lideres, novos movimentos, novos partidos.”

Mas ele mesmo, única liderança do MST nacionalmente reconhecida desde a criação do movimento, embora se apresente apenas como “membro da coordenação”, não deu nenhum sinal de que pretenda se aposentar e passar o bastão tão cedo.

Perguntei-lhe em que momento se deu a guinada do MST, com a invasão de prédios públicos, ataques a laboratórios e destruição de lavouras, como aconteceu em Iaras. Para mim, este marco seria março de 2002, com a invasão da fazenda da família do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Stédile garante que foram agentes P-2 (serviço secreto da Polícia Militar) infiltrados no movimento que provocaram a invasão da fazenda de FHC e culpa a cobertura da imprensa pela repercussão negativa das ações que envolvem o MST.

O apresentador Azedo perguntou-lhe então por que o movimento não fazia uma denúncia formal ao Ministério da Justiça, cobrando investigações sobre a suposta ação de agentes infiltrados em diferentes episódios. Stédile ficou de pensar na idéia.


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