É para rir ou para votar?

No último dia 26, Carlos Ayres Britto, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu parte do artigo 45 da lei 9.504/97, que proibia os programas de humor de fazerem piadas e satirizarem os candidatos que disputarão as eleições, em outubro. Isso foi conquistado após uma imensa mobilização social e, principalmente, da classe humorística, com direito até a passeata na praia de Copacabana. Tudo para que a democracia e o direito à liberdade de expressão fossem restabelecidos.Apesar de a lei ser de 1997, só vigorou realmente entre 30 de julho e 26 de agosto de 2010, ou seja, nem um mês. Por incrível que pareça, a comédia não perdeu nada, muito pelo contrário. Uma nova vertente de políticos resolveu prestar homenagem à classe e transformou de vez o horário eleitoral em um imenso programa cômico. Será uma represália aos políticos que há tanto tempo fazem papel de humoristas?Ivanildo Gomes Nogueira, vereador em Mauá (SP), é um deles. Quem não conhece seu nome, certamente já ouviu alguns de seus famosos bordões: “Ah, para ô!” e “Você pensa que é bonito ser feio?!”, os dois exaustivamente repetidos no programa A Praça é Nossa, do qual Batoré fazia parte. Vindo de Pernambuco, Batoré, agora candidato a deputado federal em São Paulo pelo Partido Progressista (SP), apela aos seus conterrâneos nordestinos para conquistar votos.Se Batoré é conhecido por seu bordão, sua adversária política ficou famosa pelo dotes físicos. Suellem Aline Mendes Silva, a Mulher Pera, também resolveu se aventurar na política e tentará ser eleita deputada federal. Ela está no Partido Trabalhista Nacional (PTN). Para alavancar a candidatura, a Pera teve a “brilhante” ideia de apelar para os novos eleitores, já que seu slogan é: “Jovem vota em jovem”. No Rio de Janeiro, sua colega de pomar, a Mulher Melão, tenta se eleger deputada estadual.Já o estilista Ronaldo Ésper, do Partido Trabalhista Cristão (PTC), promete “agulhar” os políticos em Brasília caso seja eleito deputado federal.Na música, os nomes da vez são o K e o L, do KLB. Kiko tentará uma vaga como deputado federal, enquanto seu irmão, Leandro, se candidata a deputado estadual, ambos em São Paulo e pelo DEM. Em suas propostas, os dois prometem combater a pedofilia em um discurso tão bem ensaiado como suas músicas.O esporte é outra área que também revelou muitos políticos atuais. No futebol, temos o folclórico Vampeta, que já na época de boleiro era um excelente comediante. O ex-volante tenta ser eleito deputado federal pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Vampeta terá a concorrência do ex-colega de Corinthians, Marcelinho Carioca, candidato do PSB (Partido Socialista Brasileiro).Também candidato a deputado federal, um candidato de peso, e peso-pesado: Maguila, do PTN. Para deputado estadual, mais um corintiano, Dinei, filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), fecha a escalação do time dos esportistas. E esses são apenas alguns candidatos de São Paulo. Caso incluíssemos o resto do Brasil, a lista aumentaria significativamente.Mas, com toda certeza, o rei do horário político é Francisco Everaldo Oliveira Silva, ou simplesmente Tiririca. É bem possível que, em sua carreira como comediante, Tiririca nunca tenha conseguido fazer tanta gente rir como está fazendo agora. E isso é hilariamente preocupante. No Youtube, os vídeos do candidato a deputado federal já estão entre os mais acessados. Em um deles, o comediante pede votos, pois, caso contrário, ele vai morrer. Mas o que mais chamou a atenção foi seu slogan: “Vote em Tiririca, pior que tá não fica”. Quem quer pagar para ver? Ou melhor, votar para ver?Sempre foi consenso geral que, no Brasil, tudo acaba em pizza. Mas quando já começa em piada, é por que a situação está complicada.Antes de terminar, menções honrosas para o deputado estadual Lindolfo Pires (DEM), que tenta a reeleição na Paraíba, e para Claudir Maciel (PPS), candidato à Assembleia Legislativa em Santa Catarina.Leiam e escutem o que eles fizeram com hits de Michael Jackson e Queen, em matéria do iG.O que a busca por votos não faz!

BALAIO DO KOTSCHO – Futuro da oposição e o governo Dilma


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