Meus caros, o grande paradoxo é este: para ser gay, há que ser macho! Ser macho, e uso o termo no sentido de “corajoso”, “bravo”, para ser de uma minoria que enfrenta, ainda, um enorme preconceito, que se arrisca no quotidiano, e que pode começar a sofrer a rejeição dentro da própria casa. Não quero desabar na choradeira, pois não é de meu feitio, mas quero elogiar muitos casais de bibas que tenho visto por ai, andando de mãos dadas na rua, numa atitude que demonstra muita coragem. Se você anda pelos jardins, ou pelos arredores de Rua Augusta, Avenida Paulista, Consolação, ainda lá por Higienópolis, preste atenção e verás. Geralmente são bibas mais novas, mais meninos, talvez já tenham nascido em tempos mais seguros, não sei. Sábado a noite eu vi um casal de dois homens altos, charmosos, eu mesmo teria suspirado e olhado duas vezes para qualquer um deles, e não só estavam de mãos dadas, como se beijaram enquanto esperavam o sinal verde para atravessar a rua. Quase aplaudi, quis elogiar, mas pensei que o melhor comportamento seria exatamente o de ignorar, como ignoraria qualquer casal hétero, tratar com absoluta naturalidade. E foi o que eu fiz. Será que estamos conseguindo mudar alguma coisa neste mundo?
Natural deveria ser, mas não é. Ainda não é, pelo menos. Dois homens de mãos dadas na rua ainda chamam atenção. Beijando-se, então, chamam mais ainda. Chamam atenção pois nossa sociedade ainda não está acostumada a testemunhar atitudes de afeto entre homens, e ai temos um estranhamento que vai da pura falta de costume, até a mais perigosa homofobia. Quando levei meus namorados à casa de meus pais, quase não toquei nele na frente da família, e olha que meus pais nos receberam de braços abertos, e nos puseram para dormir num quarto com cama de casal e tudo. Meus pais são fofíssimos, tem o maior respeito por mim, mas eles não estão acostumados a ver o filho beijar o namorado. Da parte deles isso não é homofobia, mas pura falta de costume.
Para um homem, viver e demonstrar, publicamente, o afeto por outro, ainda é um enorme tabu e requer muita coragem. Mas é com atitudes assim que vamos, aos poucos, mudar as coisas. Quanto mais longe do gueto, mais corajoso se deve ser, e portanto quero aplaudir aqui os corajosos, e quero ser como eles, assim que conseguir outro namorado, o que está meio difícil. Difícil achar um namorado, digo. É bárbaro ver os gays tomando coragem e mudando de atitude, conhecendo a homofobia que existe em cada esquina. Vejam vocês que paradoxo – eu, que mostro minha cara neste site me declarando gay, quero ver se sou macho o suficiente para andar na rua de mãos dadas com meu namorado. Aí estão dois grandes desafios: primeiro, conseguir o namorado, coisa dificílima hoje em dia, e depois, pegar na mão dele em público. Deus me ajude nas duas!
Abraço do Lourenço.
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