Para vaticanistas e jornalistas, renúncia do Papa tem motivação política

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Poucos dias após a renúncia do Papa Bento 16, jornalistas especializados e vaticanistas começam a questionar se a verdadeira motivação do pontífice para abandonar o posto foi mesmo a idade avançada e o cansaço. Segundo eles, a situação política dentro do Vaticano e a perda de poder de Bento XVI mostram um quadro muito mais complexo.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi (um dos responsáveis pelas denúncias que deflagraram o escândalo conhecido como “Vatileaks”), disse que a cúpula do Vaticano está rachada por intrigas e suspeitas de corrupção. “Acredito que Bento 16 não confie mais em seu secretário de Estado [Tarciso Bertone]. Os dois não conseguem mais prosseguir juntos na condução da igreja no mundo”, afirmou.

Segundo um artigo publicado pela revista Panorama, por outro lado, o papa já teria decidido renunciar ao pontificado em dezembro de 2012, após ter lido um novo relatório sobre o escândalo do vazamento de documentos oficiais do Vaticano. O relatório apontaria a resistência da Cúria (cúpula) romana em relação às medidas de transparência exigidas por Bento XVI.

O vaticanista Marco Politi, em entrevista ao Estado de S.Paulo, seguiu linha semelhante. “Foi um gesto de realpolitik e de reconhecimento da incapacidade sua de cuidar da Igreja, pois não basta ser um intelectual ou teólogo. Para guiar a instituição de 1 bilhão de fiéis, ele precisava de um pulso de governador”, afirmou. Ele disse ainda que a ala mais conservadora da Igreja teria ficado muito irritada com Bento XVI, por medo de que a renúncia possa causar uma “desmistificação” do cargo de papa.

Apesar de todos os indícios, o Vaticano garante que o Papa renunciou apenas pela idade avançada, 86 anos.


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