Parabéns Cristo!

Quando Pêro Vaz de Caminha descobriu que as terras brasileiras eram férteis e verdejantes fincou uma cruz na praia. O português, sempre que acordava um logradouro para erguer uma nova cidade, marcava no mapa uma cruz, “X” de pirata. O brasileiro Santos Dummont inventou a máquina de voar de asas abertas. O arquiteto Doutor Lúcio Costa designou a cidade de Brasília partindo de uma cruz à maneira portuguesa, na forma de um avião à maneira brasileira e denominou-o de “Plano Piloto” sob a terminologia da invenção e do concreto armado. No alto do Morro do Corcovado, a 710 metros do nível do mar, no dia 12 de outubro de 1931 era inaugurado o monumento ao Cristo Redentor. Síntese metafórica, delirante e totémica de um Brasil moderno como o reconhecemos.

A ideia de um monumento ao Cristo sobre o escalpelado Corcovado foi plantada pela primeira vez em 1859 pelo padre lazarista Pedro Maria Boss à Princesa Isabel, aquela cujo cognome é a Redentora signatária que foi da lei da Abolição da Escravatura no Brasil. Mas só em 1921 com os preparativos para o centenário da Independência é que a ideia toma forma de projeto. Nessa época sobre o Corcovado havia uma estação radiotelefónica com o objetivo de estabelecer comunicação com os Estados Unidos. A grande antena de transmissão da estação ja desenhava, aos olhos de quem via de baixo e de longe, uma cruz. Essa armadura de ferro esta na história do Morro do Corcovado como a anunciação, ilusão de ótica, do Cristo. Mas, finalmente, com o concurso de projetos para o Monumento ao Cristo Redentor tendo sido aberto, o engenheiro Heitor da Silva Costa vence com seu primeiro projeto (o Cristo segurava num braço a cruz e na outra mão uma bola simbolizando o mundo, desenho caçoado na época pelo cariocas que denominaram este projeto de “Cristo da bola” remetendo à bola de futebol) que no curso de mais de quatro anos antes do início das obras (1926), foi completamente modificado.

O Cristo no Corcovado devia abrir os braços. Esta modificação fundamental do projeto inicial reside o caráter Brasil, ali dentro onde os crentes imaginam o coração do Cristo. Com os braços abertos a construção dificultou-se consideravelmente. Quando se intenta fazer algo inovador e grandioso no País da necessidade a invenção aparece como bênção. Para suportar os ventos furiosos foi preciso construir uma armadura de concreto armado num formato semelhante a um avião. O corpo do Cristo é um avião. Cada mão mede 3,20m, de uma a outra são mais de 15 metros o que ultrapassa consideravelmente o exíguo terreno do cume do morro. A cabeça, levemente reclinada suportando todos os vetores da física e as adversidades da natureza, mede 3,75m. Mas é neste desenho arriscado sobre a sinuosa topografia que arranha o céu do Rio de Janeiro que determina a grandiosidade da engenharia aplicada (um dos marcos da engenharia brasileira) e a pecularidade da representação: o Cristo é a Cruz e é o Cristo. Como disse na época o autor do monumento “Jesus tem a costa esculpida à imagem da cruz, e a cruz tem na face esculpida a imagem de Jesus”.

A cidade é abençoada na verdade da escala. O Cristo é feito para se ver de perto, quem sobe até ele por carro ou pela linha de trem (que por sinal foi a primeira a ser eletrificada no Brasil, 1906) ou de longe, o cidadão que está no nível do mar.

Vozes se fizeram amplificar contra sua construção na época. Foram os casos da Igreja Batista que considerava que sua construção assumiria a relação diferenciada do Estado com a Igreja Romana, outros que não achavam que a construção do monumento estava direito com um pais de constituição laica e mesmo o poeta Oswald de Andrade e o arquiteto e artista Flávio de Carvalho que de passagem pelo Rio
propuseram sua demolição antes mesmo de estar completa a obra.

Mas há 80 anos estava tudo arranjado para sua inauguração neste dia de Nossa Senhora. O inventor italiano Guglielmo Marconi foi escalado para acionar, diretamente da Itália por sinal via radiotransmissão, as luzes do Monumento porém o mal tempo daquele dia impossibilitou e a eletricidade foi ligada por um soldado. Nesse dia 12, com o aniversário de 80 anos e tendo o Cristo Redentor vencido o pleito em 2007 como umas das 7 maravilhas do mundo, uma imensa festa está programada com direito a Missa no altodo Morro do Corcovado junto ao Monumento e música no Aterro do Flamengo. A festa será então completa do alto o Cristo, Senhor, e abaixo no nível do mar, o Aterro do Rei…dy, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy que projetou essa outra maravilha do Rio de Janeiro, quem sabe umas das 3 maiores do mundo para um próximo pleito numa outra humanidade… Monumento, fé e escala autentico ritual brasileiro, síntese de fenómenos da cultura. Como cantava Gilberto Gil em seus tempos de batmacumba “… nunca se chega no Cristo concreto, de matéria ou qualquer coisa real, depois de 2001 e 2 e tempo a fora o Cristo é como o que foi visto subindo ao céu, subindo ao céu, num véu de nuvem brilhante subindo ao céu…”.

Veja a programação especial dos 80 anos do Cristo Redentor

» 12 de outubro

No santuário do Cristo Redentor
8h – Benção aos Visitantes
9h30 – Esquadrilha da Fumaça
10h – Santa Missa com Dom Orani João Tempesta
11h30 – Angelus Solene
12h – Inauguração dos Bustos Dom Sebastião Leme e Heitor Da Silva Costa
12h30 – Banda Marcial Dragões Iguaçuanos
13h – Bolo comemorativo de 8 Metros

Show da Paz – Aterro do Flamengo
18h às 22h – A produção pede que o público compareça ao show vestido de branco e leve celulares e isqueiros, para serem acendidos durante a celebração.

O registro do show será lançado em DVD e CD. No repertório estão as canções Ave-Maria, Jesus Cristo, Samba de Verão, entre outras composições.

Estão confirmadas as presenças de Alexandre Pires, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Beth Carvalho, BossaCucaNova, Buchecha & DJ Marlboro, Casuarina, Davi Moraes & Thaís Gulin, DJ Man & Rodrigo Sha, Eduardo Dussek, Elba Ramalho, Eliana Brito & Dunga, Fernanda Abreu, Jorge Aragão, Leila Pinheiro, Marcos Valle, Miúcha, Pe. Omar, Roberto Menescal, Sandy, Sombrinha, Tiago Abravanel e Zeca Pagodinho – e ainda as escolas de samba Beija-Flor e Mangueira, a jazzista americana Stacey Kent e um ballet de 20 bailarinos coreografado por Caio Nunes.


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