“Paredão de Som” vai deixar cearense surdo

FORTALEZA (CE) – Entre uma parada e outra do meu rally de reportagens pelos sertões nordestinos, entro rapidamente no Balaio para falar de uma febre que está virando calamidade pública aqui no Ceará. O nome do bicho é “Paredão de Som”, uma espécie de trio elétrico particular montado em carros e caminhonetes, que está estourando os ouvidos de todo mundo.

Trata-se de uma torre de caixas de som montadas num reboque, com bateriais adicionais (alguns chegam a ter um mini-gerador a gasolina), a um custo que fica entre 35 e 50 mil reais.

A onda se espalhou de Fortaleza para o interior rapidamente e agora já tem até concurso de “Paredão de Som” nas praias, nos fins de semana, com um carro estacionado ao lado de outro para ver qual tem o volume mais potente. A maioria toca forró, mas também tem os adeptos do funk e do rap.

Durante a semana, eles circulam pelas ruas ou estacionam junto a bares. A nova moda é incentivada pelas grandes bandas de forró, a começar pelas duas maiores, Aviões do Forró e Forró do Moído, que já gravaram músicas em louvor dos “paredões”. As letras das músicas tocadas também pelos Gaviões do Forró, Calcinha Preta, Solteirões do Forró e Forró do Play, enaltecem o homem raparigueiro, isto é, aquele que tem muitas mulheres, é cachaceiro e gosta de vaquejada, e fala de mulheres que são ou a coitadinha, que leva chifre, ou raparigas.

Se ninguém tomar uma providência logo, os cearenses vão ficar todos surdos. É incrível como por toda parte se ouve o som no último volume na televisão ou nos aparelhos de som nas ruas, em residências, bares e restaurantes.

Na Câmara Municipal, está em debate um projeto do vereador Guilherme Sampaio, do PT, que limita a circulação dos chamados “Paredões de Som”, mas não vai ser fácil combater esta praga. Há muitos interesses em jogo, muitos negócios, posto que o forró é a maior força da indústria de entretenimento no Ceará. Já há um forte lobby contrário às restrições com o argumento de que o projeto vai provocar o desemprego no setor de equipamentos de som para veículos.

Por onde se passa no interior do Ceará, há faixas anunciando os próximos shows de forró, que são apresentados de quinta a domingo, reunindo milhares de pessoas. Para divulgar os shows, são empregados carros de som que circulam a semana toda com o volume no máximo. Muitos bares já colocaram placas de “proibido uso de som”, mas quem vai enfrentar os “paredões”?

Não sei se este é um fenômeno apenas cearense, mas aqui o barulho me chamou a atenção. E como está este problema do som alto no último volume em sua cidade, caro leitor?


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