Patrick Charpenell, o ativista da arte

Fotos Divulgação e Rafaela Netto

Patrick Charpenel não é apenas um colecionador de arte. Talvez, um adjetivo para classifica-lo seria o de ativista, um ativista da arte. O mexicano – que será um dos palestrantes do seminário da revista Arte!Brasileiros que terá como tema o “Colecionismo no Brasil no Século XXI” e acontecerá na próxima terça-feira, dia 4 de setembro – apresentou uma parte de seu acervo na exposição Lo bueno y lo malo na Galeria Nara Roesler.

Dividindo espaço com a mostra Materiais de Construção ,de Lucia Koch, a exposição de Charpenel inaugura a 20ª edição do Roesler HotelPensado inicialmente para ser uma oportunidade de convidar artistas e curadores para desenvolverem projetos e exporem suas obras, o Roesler Hotel entra em uma nova fase a partir desta edição. Com um programa curatorial permanente, ele ocupará o novo espaço expositivo da Galeria que agora conta com 700 metros quadrados.

Para compor Lo bueno y lo malo, Charpenel buscou obras que falassem sobre a construção de relações mais humanas, que fugissem da lógica de trocas imposta pela visão capitalista e neoliberal do mundo. A Brasileiros esteve na abertura do novo espaço e conversou com o colecionador e curador mexicano. Confira a entrevista.

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A exposição Lo bueno y lo malo questiona as práticas culturais, financeiras e políticas do neoliberalismo e tentam colocar o ser humano e suas relações em primeiro plano. Como essas questões aparecem nas obras?
A maior parte das obras que estão selecionadas nessa exposição tem a proposta de mostrar que existe outro tipo de comunicação, outro tipo de intercâmbio que não necessariamente opera com as mesmas regras das transações econômicas. Nas transações econômicas, as pessoas fazem algo esperando um retorno, seja ele qual for. Minha proposta foi mostrar que existe outra realidade, outro tipo de negociação, é um ato de comunicação completamente humano, ligado a uma carga forte emocional.

Quais foram seus critérios, como curador, para a seleção das 13 obras que compõe a exposição?
Os critérios foram simples, teriam que ser obras que puxassem o imaginário do espectador, mostrar uma comunicação completamente distinta. Como te falei, a proposta e mostrar uma troca mais simples, mais divertida e mais humana.

A exposição tem múltiplas linguagens como o vídeo, a foto, as performances, além da escultura e das instalações. A arte está se apropriando de forma adequada das novas possibilidades tecnológicas?
Essa é uma questão antiga, mas muito boa! A arte é um veículo e tem que se utilizar de diversos códigos de comunicação. Através desse veículo podemos conhecer e através desse veículo podemos nos comunicar; a arte é conhecimento mais comunicação. As ferramentas contemporâneas oferecidas pela tecnologia que antes não existiam abrem espaço para o ser humano se expressar de uma forma mais intensa.

Na sua opinião, a produção da arte contemporânea dos países latino-americanos já conquistou um espaço comparável a dos países com mais tradição na produção artística?
Obviamente! Creio que uma das características da globalização é que, a partir do momento que os canais de comunicação foram abertos, o choque das diferenças culturais acontece, mas de uma forma positiva. É importante criar a consciência de que cada artista é um pedaço dessa novo horizonte de comunicação e interação.

Você será um dos palestrantes no evento organizado pela revista Arte!Brasileiros, que pretende debater o colecionismo no Brasil no século XXI. Na sua opinião, qual é importância desse evento?
Você acabou de dar a resposta, o importante é o debate! É necessário esse tipo de encontro para que se revise de forma rigorosa e séria o status e a missão que as coleções públicas tem no contexto atual. Eu acredito que as coleções não são apenas uma quantidade de troféus culturais, são produtos culturais que precisam ser revisados, admirados, experimentados.

Quais são os desafios do colecionismo hoje?
Toda coleção precisa ser feita com rigor e compromisso, e sempre pública. Eu acho que arte tende para se criar um fetiche, e isso é perigoso. As coleções são de todos, tem que servir de laboratório e no momento em que ela está inacessível, acaba sua razão de ser.

O mercado do colecionismo também sente os impactos da crise mundial?
O mercado é todo afetado. Mas a arte é diferente, o mercado da arte trabalha sob outro paradigma e eu acho uma imoralidade quando os preços de obras de arte adquirem patamares absurdos. O colecionador não tem o papel de comprar a obra mais cara, ele precisa identificar os códigos da sua geração e garimpar os artistas que amanhã refletirão o que foi nosso mundo.


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