Paul Newman: quando a vida do autor é maior do que a obra

Desde domingo, de manhã cedo e à noite, no fim do expediente, olho para o jornal com a notícia da morte de Paul Newman, que a Mara deixou sobre a minha mesa de trabalho.

Preciso escrever alguma coisa sobre esse cara, penso comigo, mas vou deixando para depois, atropelado pelos fatos desta semana decisiva da campanha eleitoral. Bem, melhor escrever agora, com atraso, do que deixar passar em branco esta vida pouco comum de um artista de Hollywood.

Sempre me interessei mais pela vida do que pela obra das grandes figuras que morrem. Paul Newman foi um grande ator e diretor de cinema, trabalhou em mais de 50 filmes, mas o que mais me marcou nele e guardei na lembrança não tem nada a ver com seus filmes.

O que sempre me chamou a atenção nele foi seu bom humor, sua fidelidade à mesma mulher (Joanne Woodward, com quem se casou em 1958 e viveu até a morte, aos 83 anos, de câncer no pulmão) e aos amigos.

Paul Newman não marcou sua passagem pela vida apenas por suas nove indicações ao Oscar, mas também por suas mil atividades como empresário filantrópico (sim, isso também existe!), que dedicou boa parte da sua fortuna a clínicas de reabilitação de viciados em drogas e de crianças em estado grave de saúde, além de piloto de corridas nas horas vagas.

Sobre a fidelidade à mulher, justificou com bom humor:

“Por que vou comer hambúrguer se tenho filé em casa?”

Sobre a fama que teria conquistado apenas pela beleza e por seus olhos azuis:

“Já posso ver meu epitáfio: Aqui jaz Paul Newman, que morreu um fracassado porque seus olhos ficaram castanhos”.

Os amigos sobre ele:

“Perdi um amigo de verdade” (Robert Redford)

“Sou abençoada por tê-lo conhecido. O mundo é melhor por causa dele. Às vezes, Deus faz as pessoas perfeitas, e Paul Newman foi uma delas” (Sally Field).

“Paul Newman foi o último cara bacana que homens queriam copiar e mulheres adoravam” (Arnold Schwarzenegger).

Esse negócio de bolar a prória lápide ou a dos próximos me fez lembrar de uma brincadeira que cometi muitos anos atrás com meu único irmão, o fótógrafo Ronaldo Kotscho. Com inveja da sua eterna tranquilidade, sempre esperando que o mundo acabe num barranco, bolei a lápide dele:

“Aqui continua descansando Ronaldo Kotscho”.

Para vingar o pai, Renata, a filha mais velha dele, no ato bolou a minha:

“Aqui nos deixa descansar Ricardo Kotscho”.

(As informações sobre a vida de Paul Newman foram retiradas da matéria de Andrea Murta, de Nova York, para a “Folha” do último domingo).


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