Junho de 1964. O fazendeiro Astolpho Paranhos, de Pedregulho, São Paulo, dono de fazendas de café e de gado, viaja com a família para Catalão, em Goiás, para conhecer as fazendas de parentes. De lá, decidem enfrentar 300 km de estrada de terra para conhecerem a nova capital, Brasília. No grupo, além de Astolpho, a mulher, Ernestina, a filha, o genro e cinco netos, entre eles Paulo Henrique (6 anos) e Gilson (9 anos). “Brasília, com seus palácios e monumentos, foi um impacto para um garoto pequeno, do interior paulista. Achei tudo lindo”, conta Paulo Henrique, hoje com 52 anos, arquiteto e presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção Distrito Federal. No cargo, ele se considera uma espécie de zelador e motivador da arquitetura moderna, da qual Brasília é um dos destaques mundiais. “Brasília é um projeto tão forte, tão bem estruturado e desenvolvido na dicotomia entre o urbanismo de Lucio Costa e os projetos de Oscar Niemeyer, que segue sendo modelo. Seu tombamento foi uma decisão fundamental para sua preservação contra a especulação”, afirma.
PH, como o arquiteto é mais conhecido, lembra que sua família mudou-se de Pedregulho, que havia sido fundada pelo tataravô, no meio de suas fazendas, para Brasília em 1970. Ele recorda que, em uma cidade onde a maioria era carioca, seu sotaque caipira lhe rendeu alguma gozação no começo. Mas o futebol com as turmas nas superquadras (diz que jogava muito bem) logo abriu espaços. “Na verdade, na minha quadra, consegui mais amigos do que em toda Pedregulho. Descobri que a cidade, além de linda, também era um ótimo lugar para viver”, conta. A aproximação com a arquitetura veio aos poucos. Primeiro, ele descobriu que era bom no desenho. Depois, a entrada de um dos irmãos mais velhos, Gilson, para a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) lhe mostrou uma opção de carreira. “Mas, na minha hora do vestibular, coloquei quatro opções – Ciências Sociais, Psicologia, Comunicação e Arquitetura – só escolhendo essa última depois de aprovado.
[nggallery id=15242]
Arquiteto consagrado, premiado em concursos internacionais e nacionais, PH, hoje um brasiliense da gema, continua um ferrenho adepto e defensor da arquitetura moderna “que é fruto do movimento antropofágico da Semana de 22 e segue viva cada vez mais”. Ele destaca que o atual momento de crise pelo qual passa a capital federal é “uma oportunidade única para uma reestruturação política, administrativa e moral da cidade e resgatar a concepção original de Brasília como projeto de nação”, conclui.
MAIS ESPECIAL BRASÍLIA:
O avalista da utopia
Brasília dos brasileiros
Virei gente em Brasília
Sigmaringa, quase uma unanimidade
O sindicalista que se tornou o rei da noite
Carla brilha na capital
Thomaz Farkas
Candanga
O sólido sonho de papel
As outras Brasílias
Deixe um comentário