Paulo Sérgio Pinheiro, o Pacificador

Logo no começo da manhã, duas explosões estremeceram o prédio que abriga o Ministério da Justiça em Damasco, a capital da Síria. Enquanto as vítimas do atentado à bomba eram socorridas no estacionamento, rolos negros de fumaça manchavam o céu, sinalizando o começo da ofensiva insurgente contra o coração do regime do ditador Bashar al-Assad. Três dias antes do ataque, o cientista político brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro havia atravessado o mesmo estacionamento.

Presidente de uma comissão internacional nomeada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para investigar violações dos direitos humanos na república árabe, Paulo Sérgio fora ao território conflagrado em missão diplomática. Desde então, a violência não parou de aumentar na Síria. O segundo ataque a bomba registrado em Damasco matou quatro homens do primeiro escalão do regime. Entre eles estavam dois generais – um era cunhado do ditador, o outro, ministro da Defesa.

Naquela altura, Paulo Sérgio encontrava-se em uma rua pacata do bairro do Sumaré, onde mora, em São Paulo. De seu apartamento, acompanhava cada detalhe do conflito que já pode ter provocado mais de 20 mil mortes. Não importa onde esteja, ele recebe informes militares diários sobre os desdobramentos do conflito que ameaça a estabilidade de todo o Oriente Médio.

Um dos informes analisados por Paulo Sérgio, em São Paulo, fazia referência a 53 localidades sírias. Descrevia bombardeios, confrontos armados entre forças do governo e da oposição, execuções sumárias, ataques a setores residenciais e prisões em massa. O êxodo rumo aos países vizinhos, a ação de milícias paramilitares e de grupos armados estrangeiros também constavam do despacho. Poucos dias depois, o cientista político recebia relatórios ainda mais aterradores em Genebra, na Suíça, onde ocupa um escritório no Palácio Wilson, a sede do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Em nome da pacificação, Paulo Sérgio está sempre em movimento. Nos últimos tempos, ele virou passageiro assíduo da ponte aérea São Paulo-Brasília-Genebra. Em São Paulo passa pouco tempo. Em Brasília, integra a Comissão da Verdade, criada pela presidenta Dilma Rousseff para apurar crimes cometidos por agentes do Estado durante a ditadura militar. Em Genebra, trata de crimes mais recentes praticados contra a humanidade. Como os seus pares na ONU, Paulo Sérgio defende uma saída diplomática para a violência na Síria. “Se houver intervenção externa, se houver invasão, será o horror! As mortes serão em centenas de milhares”, diz. “A violência tem de parar! Não há outra solução.”

A convicção vem de quase quatro décadas de atividades em defesa dos direitos humanos. Carioca, formado em Direito no Rio de Janeiro, Paulo Sérgio fez doutorado em Ciências Políticas em Paris, antes de se radicar em São Paulo. Nos anos 1980, fundou o Núcleo de Estudos da Violência na Universidade de São Paulo (USP), junto com o sociólogo Sérgio Adorno.

Aos 68 anos, tem no currículo postos de destaque tanto no governo do tucano FHC, quanto na presidência dos petistas Lula e Dilma. Focado no combate à violência, acabou virando cidadão do mundo e circula com passaporte diplomático da ONU. Um detalhe instigante dessa trajetória é que, na juventude, ele tentou sem sucesso o concurso para o Itamaraty. “ Em algum lugar, minha mãe deve estar impressionada”, brinca Paulo Sérgio. “Mas nada disso foi planejado, as coisas foram acontecendo.” Não foi planejado, mas deu certo. Tanto que, no dia 17 de outubro, ele receberá em Nova York o prêmio Leo Nevas de Direitos Humanos, concedido pela Fundação das Nações Unidas, por toda a sua trajetória.

Em entrevista à Brasileiros, Paulo Sérgio conta em tom casual detalhes de sua última viagem a Damasco, como se a capital da Síria fosse um destino convencional. No prédio estremecido por bombas três dias depois, ele tentou convencer o governo a liberar o acesso de investigadores da ONU ao local de um massacre. Lá, soube que o edifício que abriga o serviço de inteligência da Síria havia sido alvo de ataque dos rebeldes.

Naqueles dias, no entanto, os embates armados ocorriam mais nos subúrbios da capital. E Paulo Sérgio lembra que circulou por áreas prósperas da cidade. “Não vou dar uma de Barbara Walters (apresentadora de tevê americana), que disse ‘ está tudo normal, eu fiz compras’ ”, compara. “Eu não fiz compras! Mas também não estive em tiroteios. É como São Paulo durante a ditadura. Lá em Paris, pensava que o pessoal aqui estava todo escondido. Mas a vida normal continuava, em bares, restaurantes.” O comentário irreverente não significa que Paulo Sérgio não tema por sua segurança: “É claro que tenho medo todo o tempo. Mas trato o medo da mesma forma que trato o jet lag. Eu esqueço. Nem penso que estou mudando de fuso horário. Não sou de uma coragem extraordinária, mas eu esqueço”.

Durante sua passagem por Damasco, a cidade estava repleta de checkpoints, como são chamados os postos de controle em territórios conflagrados ou fronteiras. Fora da capital já havia regiões com checkpoints controlados por insurgentes, assim como postos de imigração nas fronteiras.

Poder de fogo

Em Damasco, o governo Bashar al-Assad resistiu à possibilidade de qualquer tipo de investigação por parte da ONU. Médico oftalmologista, casado com a britânica Asma, ex-executiva do banco de investimentos J.P. Morgan, Assad passou mais de uma década vendendo ao Ocidente a imagem de estadista moderno. Ele herdou o poder do pai, Hafez al-Assad, que governou a Síria por 30 anos e estava preparando o primogênito, Basil, para sucedê-lo.

Ocorre que Basil morreu em um acidente de carro e coube a Bashar al-Assad ocupar a presidência, em julho de 2000. O verniz democrático de Assad começou a trincar para valer em março de 2011, quando os ventos da chamada Primavera Árabe atingiram o país. Os primeiros protestos pediam apenas mais liberdade. À medida que as tropas do governo abriram fogo contra manifestantes, a queda de Assad passou a encabeçar as palavras de ordem.

Ao contrário de Tunísia, Egito e Líbia, cujos ditadores não demoraram a sucumbir à ação insurgente, o processo na Síria vem se arrastando por mais de 17 meses. “ Um fator fundamental é a importância geopolítica da Síria. A Líbia é um país periférico, com algumas cidades no deserto. Tinha um bufão como tirano, que era o Kadafi”, compara Paulo Sérgio. “A Síria faz fronteira com Israel, Iraque, Jordânia, Turquia e Líbano. É um Estado consolidado, não é uma republiqueta. Um Estado que, nesse sistema autoritário, se modernizou. A burocracia funciona. Tem 300 mil homens nas Forças Armadas, o mesmo número que o Brasil. E com maior capacidade, pois ainda conta com outros 300 mil na reserva.”

O tamanho do contingente sírio fica ainda mais impressionante quando se lembra de que o país tem pouco mais de 10% da população brasileira. São 22 milhões de habitantes. “Na Síria, há três mil pessoas com passaporte brasileiro”, diz Paulo Sérgio. “Elas tentam ficar fora da confusão.” Com o agravamento da crise, a embaixada do Brasil em Damasco teve de ser fechada e os brasileiros começaram a ser retirados do país. Quem ficou convive com uma ameaça assustadora: o arsenal de armas químicas e biológicas. “Todos os relatórios que recebo citam estoques de armas químicas, como gás sarin e gás mostarda. A questão é a capacidade de transportar e lançar esses produtos”, afirma. “Essa é a grande ansiedade da comunidade internacional.”

Nos países vizinhos, como Israel, a procura por máscaras de proteção contra gás aumentou. Em março de 2003, as supostas armas de destruição emmassa de Saddam Hussein serviram como pretexto para a invasão do Iraque por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos. Depois, ficou comprovado que Saddam não tinha nenhuma arma do gênero.

Na Síria, a situação é diferente. O próprio regime anunciou que pode usar armas químicas em “caso de ataque externo”. Além do poder de fogo, a força de Bashar vem de aliados poderosos: o Irã, a Rússia e a China. Integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU, Rússia e China resistem a aprovar qualquer tipo de sanção à Síria. “ A Rússia continua a fornecer armas legalmente ao governo. O ideal seria que houvesse embargo. Nós, inclusive, somos contra o armamento para os rebeldes”, esclarece Paulo Sérgio.

Em sintonia com a ONU, o cientista político também é contra qualquer tipo de intervenção na Síria. E torce para que os Estados Unidos continuem a ser uma força moderadora. Entre os argumentos de Paulo Sérgio a favor de uma solução diplomática para os conflitos na república árabe está ainda a estabilidade da região: “Uma intervenção estrangeira seria uma irresponsabilidade não só em relação à Síria, mas também em termos regionais. O norte do Líbano está bastante conflagrado por grupos contra e pró-Assad. Eles estão se matando.”

Ainda em agosto, Paulo Sérgio entregará ao Alto Comissariado da ONU para direitos humanos um relatório com as conclusões da comissão que preside. Escrito em inglês, o documento será traduzido para outros cinco idiomas – árabe, chinês, espanhol, francês e russo –, antes de ser defendido em plenário e distribuído aos países membros da organização. “ Não temos competência para julgar, mas o relatório pode ser usado como evidência pelas cortes competentes, como o Tribunal Penal Internacional.” Seja qual for o destino do relatório, ele com certeza vai desagradar ao regime sírio. Não por acaso, no final de junho, o embaixador sírio na ONU, Faisal Hamwi, abandonou uma reunião convocada pela organização, enquanto Paulo Sérgio apresentava um informe sobre um massacre registrado no vilarejo de Hula.

Embora tenha despertado a indignação do embaixador, o informe não foi sequer conclusivo em relação à autoria do massacre, que culminou com a morte de mais de 100 pessoas de duas famílias. Crimes contra a humanidade.

Na ocasião, Paulo Sérgio trabalhou com três cenários. No primeiro, haveria o envolvimento do governo e das milícias pró-Assad, as temidas shabihas. Outra hipótese implica o envolvimento de insurgentes em busca de visibilidade ou em ato de vingança contra apoiadores do regime, que é dominado pela minoria religiosa alauíta.

Na Síria, os alauítas representam 12% da população, contra 75% sunita. Além disso, há a possibilidade de o massacre ter sido desfechado por um dos grupos armados estrangeiros que passaram a atuar no país assim que o movimento rebelde recrudesceu. Esses grupos contam com o apoio de países do Golfo, como a Arábia Saudita. Enfraquecer a Síria, defendem esses países, é o primeiro passo para diminuir a influência do Irã na região.

O fato é que, desde o final de julho, o cenário na Síria se deteriorou de tal forma que o conflito passou a ser regido pelo direito de guerra. “A situação no terreno é terrível, tanto do lado do governo, quanto do lado do chamado Exército Livre da Síria. Os grupos armados estrangeiros também ganharam maior capacidade de ataque”, compara o cientista político.

Paulo Sérgio não entra em detalhes, mas admite que a comissão já entregou a Navi Pillay, a alta comissária da ONU para os direitos humanos, uma lista de nomes passíveis de serem investigados por terem cometido crimes contra a humanidade em território sírio. Mantida sob sigilo, a relação só poderá ser entregue a um tribunal que preencha uma série de requisitos. “É uma coisa meio James Bond. Não há cópia da lista. Ela foi fechada em uma maleta com duas chaves, entregues a duas pessoas diferentes. Essas pessoas têm de se reunir para abrir a maleta.”

O detalhe da maleta parece cena de ficção, mas o cuidado no levantamento de dados é uma constante no grupo liderado pelo cientista político brasileiro, que conta com 17 especialistas, além dos informes preparados por outras agências da ONU. “Usamos também imagens de satélite, mas só as da ONU”, destaca Paulo Sérgio.

Essas imagens permitem aos especialistas da organização acompanhar o movimento de tanques e de equipamentos pesados. Por isso, Paulo Sérgio está seguro de que os grupos armados de oposição ao regime não têm o mesmo poder de fogo que a turma de Assad. Não é o que pensam os russos, como enfatizou o embaixador do país junto ao Conselho da Europa, durante encontro recente em Estraburgo, na França. – Embaixador, talvez as suas fotos de satélite revelem isso, mas as nossas não. Se o senhor quiser, a gente troca, respondeu Paulo Sérgio. O diplomata russo não topou a proposta. Boa parte das informações que servem de base para os relatórios de Paulo Sérgio são obtidas em entrevistas feitas por telefone ou pessoalmente, com sírios que acabaram de escapar do conflito pelas fronteiras terrestres.

Ambas as formas foram usadas para entrevistar um garoto de apenas 11 anos, o único sobrevivente do massacre de Hula. Em uma entrevista, ele disse que o ataque foi desfechado por homens das Forças Armadas e da milícia shabiha. Em outro depoimento, acrescentou que militares e milicianos haviam chegado juntos, em tanques. As informações foram recebidas com reserva, pela possibilidade de o relato do garoto ter sido influenciado por comentários de outras pessoas. “Não havia como confirmar a informação e nosso critério mínimo para corroborar são dois depoimentos. A gente não escreve tudo o que ouve. Nem usa dados de ONGs”, diz Paulo Sérgio.

Cuidado ainda maior é tomado com as gravações em vídeo que recebem com frequência: “Conta para contexto, mas é complicadíssimo. O que tem de vídeo fajuto! Já flagramos cenas de um lugar sendo colocadas como se fossem de outro.”

Ao relatar o dia a dia de suas atividades a serviço da ONU, Paulo Sérgio acaba revelando que reúne predicados de pelo menos três ofícios: o rigor na apuração do advogado, a capacidade de análise do cientista político e o jogo de cintura do diplomata. Na última carreira entrou por acaso, em decorrência da amizade com Severo Gomes (1924-1992), que conheceu após mudar-se para São Paulo.

Empresário bem-sucedido (era dele a extinta fábrica de cobertores Parahyba, cujo comercial dos anos 1960 é um ícone da propaganda no Brasil), Severo também teve emblemática atuação política. Depois que os dois se conheceram, Severo foi ministro do governo Ernesto Geisel e senador da República pelo PMDB. Por causa de Severo e do movimento pela redemocratização que se desenhava no País, Paulo Sérgio, então professor universitário, passou a frequentar Brasília. Lá, reencontrou amigos dos tempos de estudante no Rio, como os embaixadores Celso Amorim (atual ministro da Defesa) e Gilberto Saboia.

À medida que Paulo Sérgio se destacava no cenário nacional pela defesa dos direitos humanos, Amorim decidiu “emplacar” o cientista político na ONU. Saboia, por sua vez, foi quem concretizou a empreitada, indicando-o como relator especial da ONU para o Burundi, a ex-colônia belga na África palco de sangrentos conflitos entre as etnias hutu e tutsi.

Lá, Paulo Sérgio sofreu um acidente de carro que deixou sequelas. “Eu tenho uma espécie de braço biônico”, diz o cientista político, que, depois de operado em Genebra, foi dar aulas na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha. “Em Oxford, tinha um centro de terapia formidável, pago pelos súditos de Sua Majestade.”

Cinco anos mais tarde, Paulo Sérgio atuava como relator sobre a situação dos direitos humanos em Mianmar, a antiga Birmânia, quando um caminhão repleto de explosivos foi jogado contra a sede das Nações Unidas em Bagdá, no Iraque. Entre as 22 vítimas do atentado estava o então alto comissário da ONU para os direitos humanos, o brasileiro Sergio Vieira de Mello. Morreu aos 55 anos, mais de 30 deles trabalhando na ONU. Paulo Sérgio conhecia Vieira de Mello desde os anos 1970: “Ele era absolutamente excepcional. Todo mundo na ONU tem uma boa lembrança dele”.

Nove anos após o atentado, Paulo Sérgio relata um comentário feito há tempos pelo embaixador americano Richard Holbrooke (1941-2010) sobre o brasileiro que atingiu o mais alto posto na organização. “Toda vez que encontro o Sérgio, duas coisas vêm à minha cabeça. Primeiro, como estou mal vestido, porque ele está sempre impecável, com a lapela colada no paletó. A outra coisa é ‘tenho certeza de que ele vai dizer algo mais inteligente do que eu poderia dizer’”, costumava repetir Holbrooke. Filho de um diplomata aposentado compulsoriamente pela ditadura militar, desde pequeno Vieira de Mello acompanhava o pai em missões pelo mundo.

Cartas de Dom Pedro II
Ao contrário de Vieira de Mello, Paulo Sérgio se aproximou da diplomacia bem mais velho. Quando criança, os planos de sua família eram claros: ele deveria integrar os quadros da Marinha, como o avô materno. “A sorte é que eu tinha pé chato. Durante anos usei palmilhas de couro e metal do Dr. Scholl, mas não adiantou. Não pude entrar na Escola Naval”, diz. “Aí cismaram que eu deveria ser diplomata. Fiz o concurso em 1964. Eu já não estava muito entusiasmado, por causa do golpe militar, e não passei justamente em francês, que falava correntemente.”

Desde os sete anos, Paulo Sérgio e o irmão caçula, Pedro Carlos, tinham professores particulares de inglês e de francês. “Ele deu mais sorte do que eu. Teve o privilégio de escolher a profissão”, comenta Paulo Sérgio, referindo-se ao irmão, dois anos mais novo, médico ortopedista no Rio de Janeiro.

Para compensar as pressões quanto ao ofício que quase sempre recaem sobre os primogênitos, Paulo Sérgio foi bastante protegido pela avó materna, Olga Winter de Moraes Sarmento. “Ela me influenciou muito”, diz. Dos tempos de garoto, ele tem ótimas lembranças das incursões que faziam pela tradicional Confeitaria Colombo, no centro da antiga capital do Brasil. Próximo da confeitaria, Olga abriu uma conta para o neto na Livraria Francisco Alves. Alguns dos livros que o garoto comprou de seu Batalha, o gerente da livraria, continuam até hoje na estante do cientista político. É o caso da obra Abrindo o Cofre: Cartas de D. Pedro II à Condessa de Barral, de Alcindo Sodré, publicada em 1956, com a correspondência do imperador para sua confidente e paixão secreta Luisa Margarida de Barros Portugal Barral.

Pelas contas de Paulo Sérgio, ele tinha 12 anos quando entrou na privacidade de D. Pedro II e da Condessa de Barral por meio da leitura. Poucos anos depois, a paixão pelos livros tornou-o muito próximo do padre Francisco Leme Lopes. “No colégio onde estudei, o Santo Inácio, os alunos tinham assessor espiritual. E o padre Leme Lopes era meu assessor espiritual. Ele era um homem extremamente inteligente, que me deixava ter acesso aos livros proibidos, como os romances de Eça de Queiroz, que estavam todos trancados no Index Librorum Prohibitorum”, brinca Paulo Sérgio, referindo-se à lista de publicações proibidas pela Igreja Católica. O mesmo padre Leme Lopes sugeriu que o pupilo fizesse análise. “Fiz durante muito tempo, uma hora, cinco vezes por semana. Naquela época era caríssimo.” A avó Olga, porém, não hesitou em bancar os custos da terapia freudiana.

De Olga, o neto ouviu muitas vezes que “não é de bom tom falar sobre dinheiro”. Ainda assim, ele não faz rodeios ao ser perguntado sobre seus vencimentos na ONU. “Faço tudo pro bono, de graça. Não sou funcionário da ONU. Como presidente da Comissão Internacional de Inquérito para a Síria e como relator especial da ONU sobre os direitos humanos na república árabe, Paulo Sérgio recebe apenas as diárias de viagem e passagens aéreas de classe executiva. “Do meu tamanho, não dá para por os pés na classe econômica”, diz o cientista político, do alto de seus 1,98 m. “Mas também não viajo de primeira classe. Na ONU, só o secretário-geral viaja de primeira.”

Entre uma viagem e outra, Paulo Sérgio passa uma temporada com a família. Casado com a linguista Ana Luiza, ele tem três filhos – Daniela, André e Marina – e três netos – Thomas, Sofia e Mateus. Em tom de brincadeira, garante que ninguém reclama de suas ausências a serviço da ONU: “A Ana acha que eu perturbo a rotina da casa. Então, quando viajo, há um período de tranquilidade. Depois, eu volto”.


Comentários

3 respostas para “Paulo Sérgio Pinheiro, o Pacificador”

  1. A revista pode me informar como posso entrar em contato com o cientista? Estou finalizando minha dissertação de mestrado e tê-lo como um dos meus entrevistados seria uma honra
    Obrigada!!

    1. Avatar de Cárlo Paulo
      Cárlo Paulo

      Bom dia estimada goiana MsC ein ça va

      Pena cê não dize ao menos se dobramente teu sobrenom o é igual ao nom; existe isso internacionalist, bone:

      Eu a seguir tento captura o que ensejou à especializaç. Dum office em Ciência POlíti. SIM ilustre graduada tu trepliques em meu mail. Boa semana sociológica bem no preparo D

  2. Paulo Sérgio é um homem admirável, o envolvimento dele na proteção dos direitos humanos e sus constantes explanações sobre conflitos me deixam ainda mais certa que ele é sem dúvida uma das minhas inspirações quando resolvi me formar em relações internacionais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.