Segundo dos 12 filhos do casal de imigrantes italianos Baptista Portinari e Dominga Torquato, Candido Portinari nasceu em 1903, em uma fazenda de cafeicultura na bucólica Brodósqui, interior de São Paulo. Portinari teve formação escolar precária, estudou somente até a 3a série do 1o grau, mas descobriu aos 14 anos a enorme vocação para a pintura ao ser recrutado como ajudante de uma trupe de pintores e escultores italianos que cruzava cidades do interior paulista ofertando serviços de decoração e restauro de igrejas. Produziu, compulsivamente, mais de cinco mil obras e é considerado um dos maiores gênios da pintura do País.
Em 1952, Portinari recebeu um convite irrecusável do Itamaraty: a doação de uma obra para a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, criada para promover a harmonia entre os povos, intervir em questões diplomáticas e em defesa dos direitos universais dos homens. Considerando que o maior legado que poderia deixar à ONU seria uma mensagem de reflexão sobre a importância da paz, Portinari idealizou dois imponentes painéis de 14 m de altura e 10 m de largura (ao todo 280 m² de pintura), intitulados Guerra e Paz.
O convite veio às vésperas de o pintor sofrer uma grave hemorragia, em consequência de envenenamento por uma contínua exposição ao chumbo, proveniente das tintas que obsessivamente manipulava. Portinari foi proibido pelos médicos de continuar a pintar (“proibido de viver”, como afirmou à época). Ignorou o conselho e empenhou quatro longos anos na criação dos painéis. Três anos e três meses dedicados aos quase 200 estudos e outros nove meses à pintura das extensas placas de madeira compensada. Tarefa que exigiu o empréstimo de um galpão da extinta TV Tupi, concedido pelo magnata Assis Chateaubriand, para armazenar e visualizar a contento os 14 módulos que compõem os dois painéis. A obra foi exposta no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em fevereiro de 1956, ao longo de cinco dias, e teve grande visitação de populares. Ao vê-la montada, Portinari perdeu a voz e permaneceu afônico por quatro dias. Entregues à ONU em 6 de setembro de 1957, os painéis permaneceram por lá até 2010, ocasião em que o prédio sede foi fechado para reformas, com previsão de conclusão em 2013.
Em dezembro de 2010, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Guerra e Paz foi exposta para mais de 70 mil pessoas e chega agora ao Memorial da América Latina, em São Paulo, onde também será exibida parte significativa dos estudos realizados pelo pintor. Em julho de 2011, Brasileiros publicou extensa reportagem sobre os bastidores da megaoperação que trouxe Guerra e Paz de volta ao Brasil e também traçamos um perfil de João Candido Portinari, filho único do pintor e diretor do Projeto Portinari, que há mais de 30 anos zela com primor pela memória e a obra deste que foi um de nossos maiores artistas – Leia o especial Monumental Portinari aqui.
A abertura da exposição em São Paulo, no dia 6 de fevereiro, coincidi com a data da morte de Portinari, em 1962, e deu início às celebrações do cinquentenário. A exposição seguirá aberta para visitação até 21 de abril. Em seguida, a mensagem pacifista de Guerra e Paz partirá em itinerância internacional. Com o apoio do Itamaraty e dos patrocinadores, o Projeto Portinari pretende expor os painéis nos outros países que constituem o BRIC, Rússia, China, Índia e África do Sul.
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