A atual crise econômica, que afeta o cotidiano dos brasileiros, tem provocado uma verdadeira mudança no comportamento da população, que não esconde o pessimismo com os rumos do País. Como a economia parou de alavancar os sonhos de consumo, o mau humor dos brasileiros é muito grande. E essa insatisfação é muito fácil de ser compreendida. Como diz meu amigo Carlos Ferreirinha, especialista em consumo de luxo, “quem bebe champanhe não quer voltar a beber cidra”. Quando ocorre a melhora de vida, é muito difícil aceitar uma volta atrás.
Já que a instabilidade econômica provocou mudanças de hábitos, principalmente na hora de fazer compras, os brasileiros estão fazendo as próprias pedaladas domésticas. O que eu tenho observado nas pesquisas do Data Popular é que os brasileiros estão se virando para pagar as contas. Para não parar de comprar, de um lado, o brasileiro faz de tudo para conseguir uma renda maior do que ele tinha antes – sete em cada dez já realizaram alguma ação para aumentar a renda. Do outro lado, o brasileiro faz de tudo para economizar. Na crise, não existe fidelidade com as marcas. Na hora de comprar, ele troca marcas caras por mais baratas, estoca produto quando está em promoção, faz compras coletivas no atacado e divide a conta com o vizinho. Além de pesquisar mais os preços, reaproveita melhor os alimentos. Tudo isso para não fechar o orçamento da família no vermelho.
É o ajuste fiscal dentro de casa. Por isso, muitas famílias começaram a economizar, mudaram o comportamento para conseguir diminuir os gastos e aprenderam a identificar de verdade o que é necessário para a família continuar vivendo bem. O aumento da inflação, que já acontece há algum tempo, e o medo do desemprego, que é um fenômeno mais recente, fazem com que o brasileiro comece a adotar as próprias medidas, sem esperar atitudes do governo. Caso alguém fique desempregado, a família estará protegida.
Se o governo está com dificuldades para colocar as contas em dia, na casa de muitos brasileiros a situação não está muito diferente. Muita gente só está conseguindo pagar as contas quando tem um fôlego no orçamento.
Encontrar essa brecha está cada vez mais difícil. Por causa do encolhimento da renda, muitas famílias que se encontram apertadas fazem o rodízio de contas. Deixam de pagar a conta de água, luz e condomínio por um curto período e priorizam o pagamento de contas com juros mais altos, como o cartão de crédito, por exemplo. Não é que a pessoa não ache importante pagar a luz. Mas é que ela pode atrasar dois meses e pagar juros bem menores antes do corte do fornecimento.
Outro fenômeno que vem crescendo por causa do atual cenário de recessão econômica é a venda do vale-refeição. Muitos trabalhadores estão trocando o benefício que recebem da empresa por dinheiro como forma de ter uma renda extra além do salário que recebe. Parte dessas pessoas tem o hábito frequente de vender o vale-refeição para conseguir mais dinheiro. Outra parte adota esta prática e forma eventual.
É preciso ter em mente que a atual situação do País tem provocado uma série de insatisfações na população. Os brasileiros estão mais exigentes e querem saber para onde vão. Eles não estão vendo uma luz no fim do túnel. O principal desafio do governo é estabelecer uma reconexão com os brasileiros em geral. É preciso encarar as críticas e o dissenso de frente. Em momentos de cautela, doses de otimismo são necessárias.
*Presidente do instituto Data Popular
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