Quanto mais tenta justificar a enxurrada de acusações de pedofilia contra padres e bispos em diferentes regiões do mundo, mais a Igreja Católica Apostólica Romana se afunda no poço das suas contradições.
A última agora foi esta inacreditável declaração feita terça-feira, em Santiago do Chile, pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, o segundo homem na hierarquia da Igreja:
“Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas outros demonstraram que há entre homossexualidade e pedofilia”.
De onde ele tirou isso? Quais psicólogos e psiquiatras chegaram a esta conclusão? E o que leva membros do clero à homossexualidade?
Mesmo sem ser um estudioso do assunto, qualquer leigo pode concluir que o celibato é que leva à homossexualidade, ao obrigar homens e mulheres a conviverem unicamente com pessoas do mesmo sexo nos conventos e seminários. Mas de onde este cardeal foi tirar a ligação entre homossexualidade, uma opção sexual, e pedofilia, um crime hediondo, em qualquer lugar do mundo?
Em pleno século 21, o celibato obrigatório na igreja é uma das maiores aberrações e hipocrisias que ainda resistem ao tempo de mudanças em que vivemos. Setores cada vez mais amplos da própria Igreja são contra esta instituição, que não está em nenhum lugar das escrituras sagradas, mas têm receio de se manifestar publicamente contra um dogma defendido pelo papa Bento 16, o mais retrógado e autoritário chefe da Igreja dos tempos modernos.
O prório Bento 16 já foi denunciado pela imprensa americana, com a revelação de documentos do Vaticano, por ter acobertado ao menos dois casos de pedofilia, quando ainda comandava a Congregação para a Doutrina da Fé, na época responsável pela expulsão da Igreja do frade brasileiro Leonardo Boff.
As denúncias crescem em progressão geométrica desde que foi aberta uma linha telefônica, em março, na Alemanha, terra natal do Papa, para receber denúncias anônimas por vítimas de pedofilia. Quase 15 mil denúncias foram feitas em apenas uma semana, o mesmo número de um relatório da Igreja Católica na Irlanda, publicado no ano passado, segundo informa a repórter Luciana Coelho, da Folha, em Genebra.
Sem saber o que fazer diante do tsunami de denúncias de abusos contra padres e religiosos, e como não é mais possível esconder os malfeitos, a Igreja já atirou para todos os lados, pediu desculpas, anunciou que fará rigorosas investigações e que as vitimas devem ser indenizadas, mas a cada dia que passa a situação fica pior, como nesta manifestação do cardeal Bertone.
Em Santiago ainda, sem citar as fontes de onde tirou suas conclusões, o vice do Papa foi mais longe e afirmou que a pedofilia é “uma patologia que aparece em todos os tipos de pessoas e, nos padres, em um grau menor em termos percentuais”.
De onde ele tirou isso? Mesmo que fosse verdade, não justificaria a atitude canalha dos religiosos, que deveriam dar o exemplo e proteger os jovens, e não abusar deles, embora admita que “o comportamento de padres, nesses casos, é negativo, é grave e é escandaloso”.
O mal está feito e não tem cura para as milhares de vítimas deixadas no caminho pelos “celibatários” da Igreja. O que o mundo gostaria de saber é o que a Igreja Católica pretende fazer para que essa patologia, como diz Berdone, não se transforme numa pandemia, esvaziando cada vez mais os templos católicos.
Antes que me acusem de preconceito contra os católicos, acho bom informar que esta é a minha Igreja, estudei em colégio de padres, pensei em seguir o sacerdócio, mas não dá para se calar diante destes reiterados crimes praticados contra menores nas sacristias pelo mundo afora.
Claro que não se trata de uma exclusividade da Igreja Católica. Em nome de Deus e de Jesus, praticam-se as maiores barbaridades contra os setores mais pobres e indefesos da população nas diferentes denominações religiosas, como revela a mesma edição da Folha desta quarta-feira, em reportagem de Rubens Valente.
Com base num vídeo entregue por um ex-voluntário da Igreja Universal do Reino de Deus, fica-se sabendo como a holding do bispo Edir Macedo se preparou para recolher dízimos em meio à crise de 2008.
Nele aparece o bispo Romualdo Panceiro, apontado como sucessor de Edir, orientando seus colegas, em português castiço, a usar passagens bíblicas com o termo “semear” para arrancar dinheiro dos fiéis:
“Eu combinei com os regionais aqui o seguinte, malandro. No domingo, falar assim: Olha, pessoal, em nome de Jesus, você que vai agora semear em cima dessa palavra aqui, com 10 mil (reais) para cima, vem aqui na frente, coloca, muito bem. Com mil para cima, vem aqui pra frente´()”
Entre os templos do cardeal Bertone e os do bispo Panceiro, prefiro ficar fazendo minhas orações sem sair de casa. É mais seguro e Deus nos ouve do mesmo jeito.
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