Pelo amor de Marx!

Eu já estava pensando em escrever a respeito de Jesus e de Marx quando chegou à redação da Brasileiros o seguinte release: “Jesus foi pai, mas não chegou a conhecer o filho porque foi crucificado seis meses antes. Autor português prepara para outubro lançamento do livro mais polêmico do ano sobre a vida de Jesus. Até o momento, ele fez 14 revelações que questionam os dogmas religiosos que prevalecem há mais de 20 séculos. Uma nova revelação sobre a vida de Jesus vem à tona. Além de assegurar que Jesus foi casado e que Maria teve um segundo marido após José, o autor português Soham Jñana garante que Jesus também foi pai. Segundo pesquisa feita durante a preparação do livro Jesus, a Semente, o autor alega ter encontrado fatos que revelam que quando Jesus foi crucificado, sua esposa estaria com três meses de gravidez. Desde dezembro do ano passado, o escritor Soham Jñana vem fazendo uma série de revelações sobre a vida de Jesus. Ao todo já foram feitas 14 revelações, mas até o lançamento do livro, em 12 de outubro deste ano, o autor promete chegar a 32 revelações, todas inéditas e baseadas em fatos confrontados a partir de pesquisas em textos bíblicos e documentos diversos.

“Amai-vos uns aos outros”

Soham Jñana, de quem eu nunca ouvi falar, tem todo o direito de fazer novas revelações a respeito de alguém cuja vida é um leque de mistérios e muitas fantasias. Este é mais um dos milhares de livros que já foram e que serão escritos sobre Jesus, o que mostra mais uma vez que ele é um dos dois principais assuntos do mundo desde que o mundo é conhecido, o outro é Karl Marx. A respeito de quem, aliás, também já se escreveu e vai se escrever milhares de livros. A influência desses dois homens é tão imensa, que, em defesa de seus pensamentos, as pessoas são capazes de matar e de morrer. E essa é apenas uma das contradições do Cristianismo e do Marxismo, pois tanto Cristo quanto Marx pregaram o Bem, e seus seguidores a fim de instalar esse Bem, na prática, não hesitaram em usar o Mal quando fosse conveniente, e em jogar pessoas vivas na fogueira ou fuzilar no paredão. Talvez o grande sucesso das ideias de Cristo (que nunca foi cristão) e de Marx (que nunca foi marxista) se deva a dois logotipos poderosos: a foice e martelo do Marxismo e a cruz dos cristãos.

Paralelos
No fundo, no fundo, há muitos paralelos nas vidas e no desdobramento das ideias de Cristo e de Marx. Ambos são de famílias pobres (ao menos até o livro de Soham, para quem Cristo foi da classe média alta) e suas ideias não foram muito bem recebidas em suas épocas: Jesus teve 12 seguidores e Marx apenas um, seu amigo Friedrich Engels. Enquanto estiveram vivos, ninguém se deu conta de que eles seriam importantes mais tarde. Foram tratados com desprezo, indiferença e até violência. Outro paralelo é que seus pensamentos originaram Estados autoritários e poderosos, como é o Vaticano, como foi a União Soviética e como é a China. O Cristianismo e o Marxismo também têm em comum o fato de que o que eles prometem, as pessoas talvez não consigam alcançar em vida… Mas vão recebê-las no Céu (no caso do Cristianismo) ou seus filhos ou netos irão alcançar, pois Marx afirma que o socialismo será instaurado inexoravelmente um dia.

Qual foi a grande revolução de Jesus? Ele começou a pregar o “Amai-vos uns aos outros”. E mais ameaçador ainda (para os poderosos daquele tempo): se me batem em uma face, eu ofereço a outra. Era uma ideia altamente subversiva nos tempos do “olho por olho, dente por dente”. Um poderoso, um imperador não podia amar o seu súdito, a quem esmaga. Impossível! E ainda mais oferecer a outra face? Manda esse sujeito para a cruz, ele é muito perigoso!

Morto Jesus, seus seguidores urdiram a sua história de tal forma que ele poderia ser comparado, hoje, a um exímio mágico de Hollywood. Ele multiplicava peixes, ele andava sobre o mar e – a chave de ouro – ele ressuscitou! Bem, acho que não é impossível que os seguidores de Cristo, não sei se exatamente os apóstolos, pois não sou um estudioso como Soham, mas algum outro seguidor menor tenha convencido muita gente a virar cristão, se Cristo ressuscitou, quem sabe ele também não ressuscita virando cristão? O Cristianismo inventou o proselitismo religioso, vinde a nós, seja mais um cristão, aumente o nosso rebanho. O Judaísmo – aliás, tanto Jesus quanto Marx foram judeus – não admite a conversão (o que só nos tempos atuais os rabinos modernos aceitam), o sujeito nasceu judeu ou não. O Cristianismo não só admitia como incentivava a conversão e até condenou milhares de pessoas, até à morte, por se negarem a se converter.

“A religião é o ópio do povo”

Vaticanus
Os papas não foram convocados para cuidar do rebanho pelos fiéis encantados por suas virtudes, eles se impuseram à custa de ameaças: “Se vocês não me obedecerem, irão para o inferno!”. O catolicismo começou de verdade em 325. O imperador Constantino construiu a Igreja do Salvador em um bairro nobre de Roma chamado Vaticanus. Os bispos de então construíram vários palácios ao redor da igreja, formando o Vaticano que hoje existe.

As igrejas eram livres, não havia um poder sobre elas, porém começaram a perder autonomia com o Papa Inocêncio I, ano 401, que se dizendo “governante das igrejas de Deus”, exigia que todas as controvérsias fossem levadas a ele.

O Papa Leão I, de 440, deixou para os historiadores a frase: “Resistir à minha autoridade seria ir direto para o inferno“. O Papa Estêvão II, entre os anos 741 e 752, instigou Pepino, o Breve, e seu Exército a conquistarem territórios da Itália e doá-los à Igreja. A doação foi confirmada por Carlos Magno, filho de Pepino, em 774.

O Papa Nicolau I, que reinou no período 858-67, foi o primeiro a usar coroa e o primeiro acusado de falsificar documentos que “exaltavam o poder dos papas”, conhecidos como “Pseudas Decretais de Isidoro“. A falsificação foi descoberta depois da morte desse papa, ele havia mentido que “tais documentos estiveram por séculos sob a guarda da Igreja”.

Os papas envolveram-se em várias guerras. O Papa Pio VII foi preso em 1798 por Napoleão Bonaparte. Em 1870, o Papa Pio IX foi surpreendido por um ataque de Vitor Emanueli a Roma, então domínio papal, quando os 10 mil soldados franceses que protegiam o Vaticano foram retirados pela França. Os papas viraram súditos do governo italiano.

O ópio do povo
Qual foi a grande revolução de Marx? Primeiro, ele afirmou que “A religião é o ópio do povo“, acabando com mais de 1.800 anos em que a humanidade girava em torno da religião, do nascimento até a morte, com batizados, missas, confessionários, tudo sob o controle da Igreja e, depois, autorizou os proletários, e provou filosoficamente que eles podiam tirar os patrões do poder e eles mesmos governarem na chamada ditadura do proletariado, que seria uma etapa rumo ao socialismo. Até Marx, só havia guerras entre poderosos. Entre reis, entre países, nunca entre explorados e exploradores, proletários e patrões. Ele garantiu que essa guerra podia ser feita e podia ser vitoriosa, praticamente “Porque assim está escrito“. O que o motivou nunca foi o poder, ou seja, ele não queria ser o líder da sua revolução, o que o moveu foi a compaixão pelo estado de miséria em que viviam os proletários. Um pensamento “cristão”, digamos assim.

Sua vida é menos mágica que a de Jesus, é claro. Quando tinha 24 anos, começou a trabalhar como jornalista em Colônia – sempre os jornalistas perturbando -, assinando artigos racial-democratas que provocaram uma grande irritação nas autoridades do país. Casou-se com uma amiga de infância (Jenny von Westplalen), foi morar em Paris, onde conheceu Friedrich Engels.

Depois de Paris, Marx morou em Bruxelas. Na capital da Bélgica, o economista participou de organizações clandestinas. Em 1848, foi expulso da Bélgica e voltou a morar em Colônia, onde lançou a Nova Gazeta Renana, jornal no qual escreveu muitos artigos favoráveis aos operários.

Expulso da Alemanha, foi morar refugiado em Londres, vivendo na miséria. Em 1867, publicou o primeiro volume de sua obra-prima, O Capital. Desiludido com as mortes de sua mulher (1881) e de sua filha Jenny (1883), Karl Marx morreu no dia 14 de março de 1883.

1 bilhão e 300 milhões de ateus
Somente 34 anos depois, suas ideias foram colocadas em movimento, por Lênin, que como Marx tinha compaixão pela situação miserável do povo russo, enquanto o czar e seus agregados viviam à toda. Os czares eram os patrões dos russos. Lênin queria fazer o Bem, tirando os miseráveis da sarjeta. Impregnados (ou engravidados) pelas ideias de Marx, Lênin e seus seguidores tiraram sem grandes dificuldades os monarcas do poder. Em seguida, os alvos dos ataques foram os russos que não eram tão pobres quanto a massa proletária. As milícias soviéticas tinham permissão para atacar e se apossar dos bens que quisessem.

Meu avô era um pequeno comerciante de uma cidadezinha perdida no mapa da Ucrânia chamada Kurilovitz. Os revolucionários tomaram a sua casa, seus bens e o enviaram – com a sua mulher – ao degredo na Sibéria. Minha avó não resistiu mais de dois anos à situação.

Este é apenas um flash do que aconteceu na URSS inteira. Mas o pior veio depois. Lênin morreu seis anos depois da revolução. Stalin assume. E inicia a era do terror que fuzila adversários e comete barbaridades de toda a espécie, denegrindo definitivamente o comunismo imaginado por Marx.

De vez em quando, lemos artigos de gente qualificada anunciando o fim do comunismo. Mas a China está aí para desmentir. Como disse um amigo meu, que se tornou grande amigo dos chineses: “Moram na China 1 bilhão e 300 milhões de ateus!”. A China é um estado marxista. É um estado militar, é um estado materialista. Chinês não acha que vai para o céu ou para o inferno. Se perguntar para ele o que é Deus, ele não sabe. E apesar disso – de não ter ajuda de Deus -, os chineses constituem hoje a segunda potência econômica do mundo. “Ah, mas eles são muitos.” Pois é, eles são muitos para produzir e também muitos para alimentar, para empregar, para educar, para morar – é tudo muito.

A China ainda não chegou ao estágio chamado por Marx de “socialismo”. Está muito longe disso. Mas quem garante que um dia não vai chegar? Talvez nem eu nem você vejamos esse dia, mas talvez nossos filhos, nossos netos…

Olha, estamos tão impregnados de Cristianismo e de Marxismo que atualmente o sujeito ou é cristão (aí no sentido de ser religioso) ou marxista, ele queira ou não. Tenha ele lido ou não alguma coisa referente a Jesus ou Marx. No dia a dia, você é marxista ou cristão, em qualquer atitude. Começa pela religião: se você é ateu, é marxista. Se você acha que pecou ao fazer algo errado, é cristão. E por aí vai.

As ideias – ou o que foi feito delas – de Marx e de Cristo são muito atuais. É só ligar a TV ou o rádio para escutar inúmeras pregações religiosas de dezenas ou centenas de igrejas derivadas de Cristo, que se empenham, cada uma por si, em formar um patrimônio tão respeitável quanto o do Vaticano. E alguns – vide Edir Macedo – estão quase chegando lá…

Do lado marxista, além do poderoso estado chinês – uma ironia histórica, pois Marx era contra qualquer tipo de estado – o maior exemplo de que Marx vive é o famoso retrato de Che Guevara, um derivado de Marx, é óbvio, que é o mais reproduzido no mundo inteiro, pode ser visto em camisetas, adesivos, cadernos escolares e até em salões de beleza.


Comentários

Uma resposta para “Pelo amor de Marx!”

  1. Avatar de marcos u prokop
    marcos u prokop

    o não conhecimento de uma realidade transforma o autor em um completo idiota ignorante.
    religião a realidades cósmicas só fala errado, sem este conhecimento todos são ignorantes.
    ignorar mé não saber,, logo ignorante né uma palavra esclarecedora e não, ofensiva.

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