Pelos vales do Chile

Não é novidade a construção geográfica que caracteriza o Chile. O deserto do Atacama ao norte, a cordilheira dos Andes a leste, o Oceano Pacífico a oeste e a Patagônia ao sul. Dessa forma, o território chileno se mantém isolado do resto do mundo. E o que faz desse isolamento algo tão especial? Sem dúvida, as barreiras biológicas. A independência coincidiu com os avanços do país e, assim, muitos chilenos foram ao Velho Mundo e regressaram com novas ideias e tecnologias. Surgiram, então, vinícolas modernas nos arredores da capital, em Aconcágua e Curicó, com novas plantações de variedades trazidas da França. Quando a praga mais temida (Phylloxera vastatrix) devastou os vinhedos da Europa, o Chile foi o grande herói do mundo do vinho. Devido a essas barreiras naturais, a praga não chegou ao país. Quando o Velho Mundo teve de reconstruir suas plantações, foi o Chile que forneceu as videiras para o plantio e para a reconstrução dos vinhedos europeus pelo sistema de enxerto, tendo em vista que a praga ataca a raiz da planta, ressecando-a. Até hoje, o Chile é o único país que faz o cultivo de suas videiras em pé franco, ou seja, mantendo as raízes originais da planta.

UVAS DIVERSAS
A demarcação no Chile consiste em sete denominações com numerosas subdivisões. Três dessas denominações são tão recentes que existem pouquíssimos exemplares no mercado, são elas: Atacama, Coquimbo, Aconcágua, Valle Central, Rapel, Region Del Sur, Araucanía e Los Lagos. E quanto às uvas lá plantadas? A diversidade geográfica do Chile oferece uma enorme variedade de escolha para o cultivo. Alguns exemplos de diversidade:

  • Cabernet Sauvignon
  • Cabernet Franc
  • Merlot
  • Syrah
  • Carignan
  • Pinot Noir

Sem esquecer as brancas:

  • Chardonnay
  • Viognier
  • Sauvignon Blanc
  • Riesling e por aí afora
SOPRO GELADO
O clima é essencialmente mediterrâneo, com invernos frios e chuvosos, verões quentes com grande amplitude térmica e colheitas sem chuvas, tornando o país ideal para o cultivo da videira, além de uma condição térmica diferenciada, marcada pelos ventos gelados que descem dos Andes por um lado e pelos que vêm do mar (a corrente chamada Humboldt, vinda do Polo Sul) pelo outro.
A ESTRELA CARMENÈRE

O grande brasão do Chile é, sem dúvida, a variedade Carmenère. Uma cepa tinta que vinifica vinhos de incrível maciez, concentração e exuberância de cor, além dos aspectos aromáticos com odores de frutas maduras e especiarias. É uma experiência fascinante viajar por vales, deserto, mar e montanhas desse belo país, seja in loco, seja no copo!


*Gabriela Monteleone é graduada em Gastronomia, com especialização em Enogastronomia, e maître-sommelier do restaurante Gero, em São Paulo.

BEBIDAS – Edição 40


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