Leitores comentam, com razão, que nestas últimas semanas quase só se tem falado de campanha eleitoral e Copa do Mundo neste Balaio – como, de resto, em todo lugar, a começar pela imprensa nossa de cada dia. Para falar a verdade, nem eu aguento mais tratar destes assuntos recorrentemente, mas quando troco o disco os mesmos leitores não mostram muito interesse por minhas reportagens, viagens, cenas do cotidiano, etc.
Claro que todo mundo acaba se repetindo e, vez ou outra, me surpreendo lendo em outros espaços as mesmas coisas que escrevi aqui, até com as mesmas palavras e imagens. É o massacre da pauta única, do pensamento único, do debate único, como se não houvesse mais nada para se ocupar na vida.
De quatro em quatro anos é sempre assim, já faz parte do nosso calendário de preocupações dominantes por um certo período. Mas será que tem que ser assim mesmo? Afinal, o que os embates e os resultados das eleições e da seleção vão mudar nas nossas vidas? O que será de nós quando as vuvuzelas pararem de tocar e as urnas forem fechadas?
Se a seleção ganhar, ótimo; se o nosso candidato ou candidata vencer as eleições, melhor ainda. No dia seguinte, porém, a vida continua do mesmo jeito e cada um de nós se vê de volta aos pequenos problemas do cotidiano que um não pode resolver pelo outro e não interessam, mobilizam nem comovem ninguém.
De volta a nós mesmos e ao nosso pequeno mundinho, constatamos que gastamos muita energia e tempo à toa, porque o mundo continua girando, independentemente da nossa vontade ou preferências.
No fundo, podemos perceber que estes intervalos provocados por batalhas coletivas servem apenas para dar uma trégua à nossa agenda própria, adiando providências e tarefas que fazem parte da nossa luta diária pela sobrevivência.
Adiamos consultas médicas e exames, deixamos de arrumar a mesa do escritório, encontramos desculpas para não ir a velórios ou festinhas infantis, os livros vão-se empilhando imaculados no criado mudo. É como se tudo parasse no tempo à espera de uma definição que não depende de nós.
Que diferença nos faz saber quem vai ser o vice do Serra ou como ficará o palanque da Dilma no Paraná? Gostaria muito que o Brasil chegasse à final da Copa porque adoro ver futebol, mas, se cairmos fora antes, como já aconteceu com a França e a Itália, que diferença fará no nosso destino?
Ganhando ou perdendo no futebol, outros personagens vão ocupar o lugar de Dunga nas manchetes e nos comentários, e todo dia vamos continuar acordando para trabalhar e garantir o pagamento das contas no final do mês. Daqui a duas semanas, a Copa acaba; daqui a três meses, saberemos quem vai presidir o Brasil nos próximos quatro anos. E depois?
Como agora só teremos jogo da seleção na sexta-feira, resolvi aproveitar esta pequena pausa para pensar na vida. Proponho aos leitores que façam o mesmo e me ajudem a encontrar outros assuntos para tratar aqui no Balaio porque a vida não pode ser feita só de política e futebol.
Hoje, por exemplo, resolvi ir à tarde buscar os netos na escola, coisa que não faço há muito tempo. Depois, vou a dois lançamentos de livros de amigos e a uma missa de sétimo dia da mãe de um outro amigo. Vida que segue.
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