“A economia da intermediação é um ranço dos séculos passados”, afirmou Ladislaw Dowbor, da PUC-SP, durante debate sobre economia digital, no Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira, realizado na Cinemateca em São Paulo. Segundo ele, o ambiente digital promove neste momento uma mudança radical, sobretudo na distribuição de conteúdos, que está gerando revolta por parte dos que lucravam milhões justamente com a intermediação. O tema não é simples, mas tão evidente quanto esse fato é a singularidade do cenário atual. Os movimentos musicais que emergem de periferias em todo o planeta impõem de forma cada vez mais contundente a urgente necessidade de novos modelos de negócios. [nggallery id=14485] Artistas no Brasil e em outros países já mostraram que é possível atingir o grande público por meio de novas formas de distribuição, e ainda ganhando muito dinheiro. “O Tecnobrega e a banda Calypso são os grandes expoentes disso, mas nao estão isolados”, diz Ronaldo Lemos, da FGV-Rio. Ele destacou outros exemplos, como o dubstep inglês, o bubblin americano, o kuduro da Angola, a champeta africana, o coupé decalé da Costa do Marfim e o kwaito da África do Sul. Qual o segredo? Todos eles, ao aproximar usuários e consumidores a produtores e criadores de cultura, eliminam do processo os antigos intermediários – no caso da indústria fonográfica, as gravadoras.LEIA TAMBÉM:
Cenários internacionais
Terra sem lei
Infraestrutura digitalPara Dowbor, se trata de um deslocamento da economia, que até então era baseada nos bens materiais, para uma nova realidade, de bens não tangíveis. “O conhecimento está no centro dos processos de produção de valor. E ele é um bem cujo consumo não reduz o seu estoque. Na sociedade do conhecimento, quanto mais se divulga, mais todo o planeta se enriquece. E o ponto de remuneração também está se deslocando”. Outro problema destacado pelo professor são os entraves que o copyright impõe ao conhecimento: “É o que chamo de economia do pedágio. Se você trava o acesso, ele adquire valor”.Não faltou a pergunta recorrente em discussões sobre o digital: afinal, como ganhar dinheiro? Ladislaw Dowbor, professor e pesquisador com vários livros publicados disponíveis para download gratuito, arriscou uma resposta para a questão. “Não ganho dinheiro diretamente com isso. Mas existe um lucro de notoriedade, que resultam em convites para palestras. Não preciso ser remunerado em tudo o que faço”.Outro exemplo apresentado no debate foi o do Circuito Fora do Eixo, representado no evento por Pablo Capilé. O movimento social reúne atualmente 40 coletivos artísticos em todo o país. “Começamos organizando festivais em Cuiabá, mas logo percebemos que era necessário criar uma rede de colaboração”, diz Capilé. A receita foi simples: criaram uma moeda paralela que é usada para a troca de serviços entre os grupos atuantes. “Uma parte da remuneração é feita em cards, que pode ser usada em toda a rede de serviço que mapeamos”.O cenário internacional esteve representado pela experiência espanhola do Producciones Doradas, na Espanha, produtora que agrega coletivos de artistas, além de promover festivais e debates sobre música. “Tivemos que romper com as estruturas tradicionais para viabilizar nosso projeto”, garantiu Daniel Granados, da produtora cultural catalã.Também participou da mesa sobre economia da cultura digital, Juliana Nolasco, gerente de economia da cultura do Ministério da Cultura. A moderação do debate foi de Oona Castro, curadora do eixo economia do Fórum da Cultura Digital.
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