Durante o último ano, eu e minha equipe do Instituto Data Popular pesquisamos para o Google o impacto da internet na classe C. Principal fonte para disseminação da informação, ela se popularizou no decorrer dos últimos anos. No Brasil, um fato específico chama a atenção para a democratização da rede: nos últimos anos, a estrutura de classes e a da internet tiveram movimentos inversos e o País ganhou mais ricos, enquanto a internet conquistou mais pobres. Desde 2000, o País notou um incremento de renda que contribuiu para aumentar significativamente a participação da classe C, que hoje representa 56% da população, entre os internautas.
Hoje, a classe C é a maioria absoluta no acesso à internet: 54% da população internauta brasileira pertence à classe média, 36% são da classe alta e 10%, da classe baixa. Em números absolutos, o total de internautas da classe C (48,3 milhões de pessoas) já é maior do que o total de usuários da rede de países como México (44,1 milhões), Coreia do Sul (41 milhões), Itália (35,5 milhões), Canadá (29,7 milhões) e Argentina (23,5 milhões). Em menos de dez anos, a população brasileira cresceu cerca de 10%, mas o número de internautas da classe média aumentou 204% e o das classes A e B, 143%. Os internautas da classe média têm poder de consumo mais alto do que a renda das famílias da Suíça ou de Portugal e movimentam R$ 495 bilhões por ano.
No Brasil, a democratização do acesso à internet é recente: 31% dos internautas da classe C entraram na rede nos últimos três anos e isso ocorreu graças ao aumento da renda dessas pessoas, que hoje possuem mais poder aquisitivo para adquirir planos de acesso à internet, e à redução dos preços dos smartphones. Para a classe média, internet não é gasto, é investimento. Os conectados da classe C enxergam na web uma possibilidade para a melhora de vida. Eles também descobriram na web uma ferramenta importante que auxilia na geração de renda e colabora para a qualificação profissional. É muito comum as pessoas criarem sites para o pequeno comércio do bairro ou até mesmo clipes de funk, alcançando milhares de seguidores de várias partes do mundo.
Um dos maiores responsáveis pela democratização da internet no Brasil é o smartphone, que se tornou a porta de entrada para a classe C usar a tecnologia. Diante da popularização do dispositivo, quase metade dos internautas da classe C já possui celular e a maioria o utiliza para atividades ligadas ao trabalho, entretenimento e conexão social. Por isso, o aparelho está cada vez mais ocupando o espaço do computador e do notebook.
Com a popularização dos celulares com acesso à rede no Brasil, a classe C entendeu que a internet se tornou uma aliada importante para aprender mais. Ao alcance dos dedos, os internautas têm um mundo inteiro de possibilidades. Graças à web, por exemplo, milhões de brasileiros da classe média conseguem visitar cidades do mundo inteiro. Antes, isso só era possível para quem tinha muito dinheiro.
A classe C também passou a enxergar que a internet tem significados que vão muito além do lazer e do entretenimento. Os jovens da classe média, por exemplo, são igualmente conectados quando comparados às gerações mais novas das classes A e B. Como muitos pais ainda não estão conectados, é muito comum eles pedirem a opinião dos filhos quando querem comprar algo. Graças à rede, o filho se tornou um importante porta-voz na família.
No geral, 55% da população brasileira acessa a internet e quatro em cada dez adultos da classe C ainda não estão conectados. Estão fora do mundo virtual, principalmente os mais velhos, pessoas que vivem em situação de extrema pobreza e moradoras de região rural. Acredito que, em uma década, a democratização deverá acontecer verdadeiramente. Pois, se é fato que a internet se disseminou muito, seu acesso ainda segue desigual no Brasil.
*Presidente do Instituto Data Popular
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