Plataformas de futuro: a classe C e a instabilidade econômica


O Brasil cresceu substancialmente nos últimos dez anos e a massa de renda da classe média, que vai movimentar R$ 1,35 trilhão em 2015, avançou 71% na última década. Vimos que o potencial de consumo da classe média, composta por 114 milhões de brasileiros, aumentou graças à geração do emprego formal e fez com que os sonhos dos brasileiros atingissem um novo patamar.

Com a estabilidade da carteira assinada, o cidadão começou a querer empreender. As pesquisas do Data Popular mostram que mais da metade dos brasileiros da classe média tem a intenção de ser  dona do próprio negócio e 24% querem colocar a ideia em prática em até três anos. No entanto, após as manifestações de 13 e 15 de março, uma crise econômica que efetivamente tem corroído o poder de compra da classe C e uma disputa política acirrada mudaram o humor das pessoas.
Desde 2001, o Data Popular estuda com lupa a importância econômica da classe C e não podemos negar que nunca antes medimos índices tão pessimistas dos brasileiros como nas últimas pesquisas. Hoje, temos uma classe média preocupada com a alta dos impostos e com os preços dos produtos, pessimista em relação ao emprego e sem perspectivas de aumento da renda.

Essa percepção não vem do nada. Vem da realidade econômica que de fato atinge em cheio o bolso dos mais pobres, em especial com a inflação de alimentos, energia elétrica e transportes e a redução do aumento da renda. No entanto, hoje a maior crise não é econômica ou moral. É de liderança. O problema não está na vida difícil, mas em não enxergar perspectiva de saída.

Nossa experiência no Data Popular, porém, mostra que a classe C não se acomoda com a situação e não minimiza esforços para encontrar saídas para driblar a crise. Com a economia desacelerando, juros e preços subindo, quase metade dos trabalhadores da classe C está fazendo bico para não abrir mão das conquistas de qualidade de vida que viveu no último ano. Além de buscar uma renda extra, a classe C está economizando nas contas de água, luz e telefone. E, para fugir da alta dos preços, a classe média tem adotado várias medidas como forma de reduzir os gastos. Está comprando produtos de marcas mais baratas, deixando de consumir alguns itens e reduzindo a quantidade dos produtos.

Na hora do aperto, muitos brasileiros da classe C passaram recorrer aos amigos e parentes para conseguir saldar as dívidas e efetuar as compras. Constatamos em nossos estudos que aumentou o número de pessoas que disseram que algum parente ou amigo pediu o cartão de crédito e dinheiro emprestado e até mesmo o nome como garantia para fazer alguma compra. Apesar de encontrarmos boa parte dos brasileiros pessimistas com o atual cenário econômico, muitos afirmam que a vida melhorou no último ano graças ao próprio esforço, ao trabalho e à família. E quando perguntamos se acreditam que a vida vai melhorar no próximo ano, a maioria acredita que sim e chama para si a responsabilidade para a melhora da própria vida.  

Claro que todos os dados econômicos nos deixam preocupados, mas o Brasil passou por muitas crises, mais de 40% dos brasileiros já passaram fome. Mas, para a classe C, crise não é exceção. Crise é regra. Temos um povo que prefere vender lenços a ficar chorando. Não podemos de maneira alguma subestimar a capacidade do brasileiro de sair da crise.

*Presidente do Instituto Data Popular


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