Plataformas do Futuro: Desejo de empreender

Desde 2001 o Data Popular estuda o mercado emergente brasileiro e, nos últimos anos, algo novo passou a acontecer. O aumento do emprego formal possibilitou a milhares de brasileiros trabalharem com carteira assinada. Com mais renda, os brasileiros começaram a sonhar mais alto, fazer mais planos e enxergar oportunidades que antes não podiam ser vistas por causa da falta de perspectivas.

Apesar do pessimismo com o atual cenário econômico, percebemos que aumentou a vontade de empreender. Ser o dono do próprio negócio é o desejo de mais de 30 milhões de brasileiros. Milhares de jovens brasileiros também apostam no próprio negócio. Eles acreditam que a grande vantagem para trocar um emprego tradicional por uma empresa própria é poder fazer o que realmente gostam.

Na favela, por exemplo, a intenção de empreender cresce ano a ano. Em 2013, 28% tinham vontade de empreender. Já em 2015 subiu para 40% a vontade de ter o próprio negócio. Esse cenário favorece a entrada de novas iniciativas de negócios  nas comunidades, uma vez que a maioria das pessoas recorre ao comércio fora da favela na hora de comprar produtos mais caros, como eletrônicos, eletrodomésticos ou produtos de tecnologia, seja por causa da facilidade para encontrar esses itens ou pelas condições de pagamento oferecidas pelas lojas que estão fora das favelas. Existem espaços para fomentar negócios nas mais diversas áreas. Temos milhões de brasileiros que ganharam dinheiro, mas não quiseram sair da favela. São pessoas que preferem ser as mais ricas entre os pobres, do que as mais pobres entre os ricos.

E a gente quis entender o motivo que leva a favela e o Brasil em geral querer empreender. Ficou muito claro que o emprego formal foi fundamental para a distribuição de riquezas. Mas junto com o crescimento da renda aumentou também a autoestima dessas pessoas e a vontade de sonhar. O horizonte dessas pessoas mudou e elas estão descobrindo que não vão conseguir realizar o que tanto sonham apenas com o emprego formal. Só sendo donas do próprio negócio. Na vida real, dou como exemplo aquela funcionária que vendia doces na empresa para os colegas de trabalho. Aos poucos, as encomendas só foram aumentando, a renda dobrou de tamanho e ela precisou deixar o trabalho para se dedicar ao próprio negócio.

Hoje, metade dos brasileiros que querem empreender pertence à classe média e boa parte busca na abertura do próprio negócio a chance de poder ganhar mais e crescer profissionalmente. O fato de não ter chefe também impulsiona a intenção.

Ao empreender, é muito comum as pessoas empregarem parentes, amigos ou vizinhos e abrir o negócio no bairro onde mora, o que contribuiu para fortalecer a economia local. É o caso daquela mulher que foi para o mercado de trabalho, mas que trabalhava como manicure nos fins de semana para garantir uma renda extra. Ela se aperfeiçoou, e viu que poderia usar um cômodo da sua residência para atender a clientela. Com a ajuda da filha, montou o próprio salão. Assim, foram surgindo milhares de micro e pequenos negócios.

Não dá para negar que o brasileiro chama para si a responsabilidade sobre a própria vida e enxerga no empreendedorismo uma oportunidade, não uma necessidade. E não é nenhuma novidade dizer que a atual situação do País está longe de estar fácil, mas confio na capacidade do brasileiro de se virar nos momentos de adversidade.

*Presidente do Instituto Data Popular

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