Pó-de-arroz da Paraíba nunca perde a fé

“Domingo é nóis de novo!”. O ano todo, mesmo quando o São Paulo estava por baixo, eliminado do Paulista e da Libertadores, e não engrenava no Brasileirão, toda vez que o encontrava lá vinha ele com sua profissão de fé no tricolor.

Anunciava não só a vitória como também o resultado. E, várias vezes, acertou na mosca. Se o São Paulo é conhecido como o “clube da fé”, ele é certamente o nosso profeta.

Nas últimas semanas, ficou impossível, todo gabola, não perdoando suínos, raposas, gambás, urubús e outros bichos, toda a fauna do nosso futebol. “Vai dar nóis de novo, eu não falei?”.

No começo do segundo turno, quando o São Paulo perdeu por 1 a 0 do tricolor gaúcho no Olímpico, e ficou 11 pontos atrás do líder Grêmio, joguei a toalha, como a grande maioria dos são-paulinos, torcedores, dirigentes e até jogadores, que já se davam por contentes com uma vaga na Libertadores.

Acho que só ele e o Muricy ainda acreditavam que este ano o São Paulo, com o futebolzinho que vinha jogando, poderia se tornar o primeiro time a conquistar seis vezes, em anos alternados, e três consecutivos o título de campeão brasileiro.

Ele é o cabeça-chata José Hailton Guilherme da Silva, 36 anos, um dos faxineiros do prédio onde moro, que todo mundo só chama de “Ceará”. Esta semana fiz uma entrevista exclusiva com ele para saber de onde vem seu fanatismo e a fé que o alimenta.

Zé Hailton, na verdade, nasceu na Paraíba, numa pequena cidade chamada Solânea, no agreste do Estado, perto de Campina Grande, e veio para São Paulo faz 25 anos. Ao contrário de outros retirantes nordestinos, que aqui chegando adotam logo o tricolor, ele já veio para cá são-paulino.

Num tempo em que o clube do Morumbi ainda não era o rei da cocada preta, seu irmão mais velho, Haroldo, montou um time em Solaina com o nome e a camisa do São Paulo. Não uma camisa tricolor qualquer, mas a oficial, que ele veio comprar no Morumbi.

Foi nesse time que Zé Hailton começou a jogar bola e viu despertar sua paixão. Neste domingo, ele não irá ao Morumbi porque, como faz todo ano, vai numa excursão de romeiros para Aparecida do Norte. Só espera voltar a tempo de ver o jogo em casa.

Não fez promessa para o São Paulo ganhar. “Tenho certeza que nós vamos ganhar de 2 a 0, só aqui no meu pensamento e na moral, não preciso fazer promessa”, explica, convicto. Não se conforma de não ter conseguido fazer nenhuma aposta desta vez com seus colegas aqui do condomínio do prédio.

“Eles não apostam mais comigo. Sabe como é, já perderam muito este ano, estão com medo”

Zé Hailton é uma figura emblemática do novo torcedor são-paulino, que se multiplica como praga por todas as partes do país, especialmente no Norte e Nordeste, onde sumiram das ruas as camisas do Flamengo e do Coríntians, e até la fora.

Na minha recente viagem a Buenos Aires, vi na calle Florida mais torcedores com a camisa do São Paulo do que do Boca Juniors _ e nenhuma de qualquer outro time brasileiro.

Pó-de-arroz da Paraíba? Acabou aquela velha história de torcedor pó-de-arroz e time de elite que levou os desaforados torcedores de outros times menos vencedores a chamar a nossa torrcida de bambi.

Deixa falar, não tem problema. Podem chamar do que quiserem, mas neste domingo vamos ser obrigados a colocar mais uma estrela na camisa.

Elite agora é aquele time da Marginal do Tietê, que tem entre seus torcedores desde o presidente da República até alguns dos maiores empresários do país, como Antonio Ermírio de Moraes, passando pelo publicitário Washington Olivetto e o multimídia Juca Kfouri, agora legítimos campeões da segunda divisão.

Aquela camisa vermelha com que comemoramos o título do ano passado, com o 5-3-3 das nossas conquistas em branco, vai sair de linha na segunda-feira. Entra a nova já com 6 (brasileiros) – 3 (sul-americanos) – 3 ( mundiais). Tá bom assim ou querem mais?

“Vem pra festa!”, grita a manchete do Lance, o maior jornal esportivo do país, com exclamação e tudo, em preto, branco e vermelho. Estão todos convidados. O espetáculo do tricolor paulista começa neste domingo às 17 horas, no agora rebatizado Morumtri. O Fluminense é nosso convidado especial.


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