Pobre Alckmin, a solidão do candidato zen tudo

Por mais que tente, não consigo separar a figura do político da sua dimensão humana. Pensei nisso ao ver esta manhã uma foto de Eduardo Anizetti, da Folha, em que aparece o ex-governador Geraldo Alckmin sozinho na estrada.

É o caso típico de fotografia que diz tudo, nem precisa vir acompanhada de um texto. Confesso que senti pena dele, porque se trata de um homem lhano, que sempre me tratou muito bem.

Candidato a prefeito de São Paulo, depois de tentar a presidência da República, de braço na tipóia, caminhando desconsolado por uma rua do Butantã, cercado de meia dúzia de anônimos gatos pingados e um menino que corre dele meio assustado, era o retrato do abandono.

Mais do que as pesquisas e as análises dos meus colegas comentaristas políticos, no olhar dele estava a melhor expressão do atual momento da campanha eleitoral em São Paulo, com Marta Suplicy consolidada na faixa dos 40% e o prefeito Gilberto Kassab subindo, já encostando no ex-governador.

A apenas 24 dias do primeiro turno das eleições, Geraldo Alckmin, um cultor da acupuntura, transformou-se no verdadeiro “candidato zen”: zen o apoio do partido, zen aliados fortes, zen discurso claro, zen recursos, zen um bom programa de TV e, parece, zen rumo.

Desde domingo último, após a divulgação das últimas pesquisas, sucedem-se as reuniões da coordenação de campanha com o candidato para discutir como é possível ainda virar o jogo para que ele não fique fora do segundo turno _ algo que poderia indicar um prematuro fim de carreira.

Como o tempo é pouco, os alckmistas resolveram partir para o tudo ou nada. Na nova estratégia, decidiu-se que o candidato vai agora atacar a ex-prefeita e desconstruir o atual prefeito, o que não será nada fácil para o eleitorado entender. Afinal, o seu partido, o PSDB, faz parte da atual administração, iniciada por José Serra, atual governador, em 2005.

No começo da tarde, anunciou-se a troca de marqueteiro: sai Lucas Pacheco do comando do programa de TV, entra Marcelo Simões, um antigo colaborador de Duda Mendonça, que em 2006 fez a campanha de Aloísio Mercadante ao governo estadual.

Para azar de Alckmin, Luiz Gonzales, o eterno marqueteiro das campanhas tucanas, agora está do outro lado, dirigindo o bem avaliado programa de TV de Kassab.

A primeira aparição pública do governador José Serra na campanha do correligionário, prevista para a noite desta quarta-feira, como convidado especial de um jantar para angariar fundos no Jockey Clube, é vista agora como um divisor de águas.

Se o evento for um grande sucesso de público e crítica, com boa bilheteria, mostrando a união dos tucanos em torno do seu candidato, talvez seja o primeiro passo para uma virada de jogo.

Se, ao contrário, prevalecer o constrangimento de quem foi obrigado a comparecer por seus superiores, com as ausências chamando mais a atenção do que as presenças, o jantar pode se tornar indigesto, a última tentativa frustrada para uma candidatura que já nasceu marcada pela divisão entre alckmistas e serristas.

O problema todo de Alckmin agora é juntar forças para chegar ao segundo turno, onde ainda tem mais chances do que Kassab para enfrentar a candidata do PT.


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