Pobre Argentina, sem pique, sem alma, a cara de Maradona

Maradona já foi grande, assim como a Argentina – e vice-versa.

Sem pique, sem alma, com sua seleção perdida em campo, nesta noite de sábado, em Rosário, a expressão sofrida de Maradona era a própria imagem de uma Argentina que, em algum momento, perdeu o rumo, e não foi só no futebol. Um virou o focinho do outro.

Digo isso com tristeza, não com soberba, pelo simples e bom motivo de que sempre fui um admirador do futebol argentino e, mais ainda, deste nosso belo, rico e sofrido país vizinho.

Não tivesse por acaso nascido aqui, quando meus pais vieram da Europa no pós-guerra, gostaria de viver em Buenos Aires. Foi a primeira cidade que conheci fora do Brasil. Me apaixonei por ela logo na minha primeira noite portenha, no final dos anos 60.

Era menino ainda, repórter do Estadão. Fui para lá fazer a cobertura de um Torneio de Verão, acompanhando o grande Santos de Pelé, e nunca vou esquecer dos jogos na La Bombonera, o mágico estádio do Boca Juniors. Mas não me lembro quem ganhou o torneio.

Só me lembro das noites que nunca acabam, com famílias caminhando sem pressa nem medo pelas ruas. Os cafés europeus, a carne assada do Palácio de Las Papas Fritas. Teatros e cinemas abertos de madrugada, os becos escuros do tango, os grandes parques, a Corrientes e a Costanera. Os maços vermelhos de cigarro Jockey Clube, os generosos vinhos nativos, os sanduíches magros de pão de miga. Os meus colegas jornalistas na cabine de imprensa sempre altivos e elegantes, as fornidas bancas de jornal e de flores, a fartura das quitandas

Ao ver esta noite a Argentina em campo, tomando um vareio do Brasil de Dunga, que marcou no primeiro tempo os dois gols mais fáceis destas Eliminatórias – Luisão pulando sozinho para marcar o primeiro de cabeça e Luis Fabiano só empurrando a bola para fazer o segundo com o gol vazio – fiquei pensando que países são como as pessoas.

Tem hora que começa a dar tudo errado, o cara não consegue mais se achar em campo. Tem hora que tudo começa a dar certo, como está acontecendo com Dunga e o Brasil, já classificados para a próxima Copa do Mundo, ainda faltando três rodadas para o final das Eliminatórias. Deve ser coisa do destino, não tem muita explicação.

A Argentina ainda faria um belíssimo gol, recobrando as esperanças, com um chutaço de Dátolo do meio da rua, aos 20 minutos do segundo tempo. Mas, logo em seguida, Luís Fabiano faria o terceiro do Brasil, para desespero de Maradona e de um estádio lotado de argentinos angustiados que não acreditavam no que estavam vendo.

Pobre Argentina, pobre Maradona, agora correndo o risco de ficar de fora da próxima Copa do Mundo. Só falta isso para a tragédia ficar completa.


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