Pobre Kassab, não tem para onde correr

SÃO SEBASTIÃO – Final de tarde na terça-feira, 11/1/2011. Por aqui ainda não choveu, apesar de todas as assustadoras previsões do tempo. Está todo mundo preocupado com o que acontece em São Paulo, onde a maioria vive quando não está de férias. “Temporal volta a afundar São Paulo e mata 15 pessoas”, mancheteia a capa do iG.

(Foram só estas poucas linhas que sobraram do texto que escrevi sobre mais uma enchente paulistana. A conexão da internet da Claro anda cada vez pior, cai a toda hora. Tem que salvar a cada minuto, eu sei, mas me esqueço. Tentarei fazer tudo de novo).

Todo ano é a mesma história, só muda o número de mortos. Deu até pena de ver no portal a cara desconsolada do prefeito Gilberto Kassab, que não tem para onde correr. Desde o final do ano passado, a imprensa comenta que ele quer trocar o moribundo DEM pelo PMDB, mas isso vai adiantar alguma coisa? Vai chover menos na cidade, morrer menos gente?

Desde que comecei a fazer a cobertura de enchentes em São Paulo, faz mais de 40 anos, aprendi que não adianta fulanizar ou partidarizar este drama paulistano. A cada ano, só piora a situação: chega mais gente do que sai, nasce mais gente do que morre, todo dia entram mais de mil carros zero quilômetro no trânsito, novos prédios são plantados e áreas verdes destruídas, não tem mais aonde jogar lixo e a roda do progresso não pára de girar.

Chegou a um ponto em que nem Jesus Cristo, pessoalmente, daria jeito nisso, como me disse certa vez um motorista de táxi parado no trânsito. Pobre Kassab, que entrou de gaiato neste navio já afundando, ao ganhar o abacaxi de presente de José Serra, menos de dois anos após a posse, quando ele saiu para se candidatar a governador, já pensando em ser presidente da República. Os outros podem até pensar em mudar de cidade; ele, não.

Kassab relegeu-se pelas próprias pernas em 2008 e agora tem mais dois anos de mandato e não sei quantas enchentes pela frente. Já nos anos 1970, um prefeito nomeado pelos militares, Manoel de Figueiredo Ferraz, proclamou que São Paulo precisava parar, e foi execrado.

Desde aquele tempo, a cada nova enchente fala-se sempre a mesma coisa: choveu mais em um dia do que o previsto para o mês inteiro, o asfalto e o concreto impermeabilizaram o solo da cidade, os rios viraram calhas de esgoto a céu aberto, a água não tem para onde correr.

Todo mundo tem o diagnóstico, mas ninguém sabe o que fazer para atacar a doença. Não adianta nada construir mais rodoanéis, viadutos, piscinões e todas aquelas obras que fazem a alegria das empreiteiras, apenas transferindo congestionamentos e alagamentos, enquanto novas favelas são espetadas nos morros e nas beiras de córregos.

Que fazer? Se algum leitor ou leitora tiver alguma brilhante idéia, um plano, projeto ou simples sugestão, não se acanhe, pode falar com o prefeito aqui mesmo. Da minha parte, nem sei mais o que dizer. Só sei que quinta-feira volto para lá, não tem jeito. Apesar de tudo, paulistano não consegue viver longe desta cidade.

Em tempo:

Como me alertaram vários leitores, o nome correto do ex-prefeito de São Paulo citado no texto é José Carlos de Figueiredo Ferraz. Esta é uma das vantagens da internet: o leitor pode corrigir o jornalista e o ajuda a não publicar informações erradas.


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