Parecia uma dessas coberturas de TV em que um âncora comanda, de um local específico, a entrada de vários repórteres espalhados por lugares distantes, cada um anunciando um fato relacionado com o evento principal. Mas o multievento da tarde do dia 19 de outubro, comandado da hidrelétrica de Serra do Facão, às margens do Rio São Marcos e ocorrendo simultaneamente a outros cinco rios no Estado de Goiás, não era um esforço jornalístico. Afinal de contas, aquele que poderia ser chamado de apresentador principal era o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o fato que o levou ao interior de Goiás, próximo às cidades de Catalão e Davinópolis, era a inauguração de seis hidrelétricas de vários tamanhos e potências diferentes, que acrescentaram 645 MW de energia ao sistema elétrico integrado brasileiro.
Lula destacou: “Muitos governos passaram anos sem construir uma única hidrelétrica no Brasil. E nós estamos em um único dia inaugurando seis. Esse é o melhor exemplo de que o Brasil voltou a investir pesado em energia, que é um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento e o crescimento de um país”. O Presidente ressaltou ainda que investir pesadamente no setor de energia foi uma decisão de governo, destinada a afastar quaisquer novas possibilidades de crise energética, como a ocorrida na virada do século XXI.
[nggallery id=15067]
Segundo Lula, o novo marco regulatório para o setor elétrico, com a realização de leilões para a construção de novas usinas, com base no menor preço a ser cobrado pelo KW produzido, representou a retomada dos projetos de usinas hidrelétricas e outras formas de geração de energia no Brasil. Ele destacou que, em vez de simplesmente privatizar as empresas de energia, como foi feito em governos anteriores, foi decidido apostar em planejamento e em investimentos feitos em parceria entre o governo e a iniciativa privada. Nesse ponto, o Presidente reafirmou o papel da Eletrobras, diretamente e por meio de suas subsidiárias, como parceira dos novos empreendimentos, e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como principal financiador das obras. Um bom exemplo é a participação de Furnas, uma das principais subsidiárias da Eletrobras, como principal acionista em todas as usinas inauguradas. A estatal, que foi uma das responsáveis pela construção de algumas das mais importantes usinas geradoras de energia no País muitos anos atrás, reassumiu um papel de destaque no novo modelo, buscando sempre parcerias com o setor privado em sua área de atuação. Para o ministro das Minas e Energia, Marcio Zimmermann, outro ponto a ser destacado na retomada do crescimento do setor elétrico, após a crise do apagão quase dez anos atrás, foi a ênfase no desenvolvimento sustentável nos novos projetos.
“O setor elétrico teve a sabedoria de se adaptar ao meio ambiente. É evidente que toda fonte geradora de energia tem seu impacto, mas as usinas hidrelétricas vão durar muitos anos e trazem mais vantagens que desvantagens”, afirmou o ministro que comandou as inaugurações de Barra dos Coqueiros e Caçu. Ele destacou ainda ser fundamental nos planos do governo, para a geração de energia, a política voltada para privilegiar a hidreletricidade, equacionando os problemas ambientais, reduzindo os impactos e também abordando os problemas sociais, de forma a trazer resultados muito positivos para as regiões onde as hidrelétricas serão implantadas. No caso das novas hidrelétricas de Goiás, esses aspectos foram enfatizados, e a expectativa é que os efeitos para todos os municípios em torno das usinas sejam benéficos, com geração de empregos e desenvolvimento industrial, econômico e social. Durante a construção, Catalão e Davinópolis receberam R$ 4 milhões cada, a título de compensação por causa das obras. Agora, todos os seis municípios afetados pelo lago da represa vão faturar, anualmente, R$ 2,3 milhões cada, relativos aos chamados “royalties da água”.
A principal estrela entre as seis hidrelétricas – Serra do Facão (Catalão e Divinópolis), Barra dos Coqueiros (Cachoeira Alta e Caçu), Caçu (Cachoeira Alta e Caçu), Foz do Rio Claro (São Simão e Caçu), Salto (Itarumã e Caçu) e Salto do Rio Verdinho (Itarumã e Caçu) -, inauguradas formalmente no mês passado (todas já estavam em operação experimental), era exatamente a maior, a de Serra do Facão que, sozinha, vai gerar 212,6 MW do total de potência instalada do grupo de usinas. Com um custo total de pouco mais de R$ 1 bilhão, 54% financiados pelo BNDES e o restante pelos acionistas, Serra do Facão tem características peculiares. Com uma barragem estreita e muito alta – 87 m em um vale profundo do Rio São Marcos, a hidrelétrica, que foi construída em menos de três anos pela Camargo Corrêa, que integra, junto com Furnas (49,47%), Alcoa (34,97%), Camargo Corrêa Energia (10,09%) e DME Energética (5,47%), a Serra do Facão Energia (SEFAC), consórcio concessionário da usina, possui apenas duas turbinas que aproveitam a queda de água de 83 m para gerarem, cada uma, 106,03 MW. Para se ter uma ideia da dimensão dessas turbinas, cada uma produz 25% a mais de energia que as gigantes turbinas bulbo da hidrelétrica de Jirau, em construção no Rio Madeira.
Esse aproveitamento da força da água é obtido por causa do tipo de barragem, alta, adequada a rios com vales profundos. O próprio lago gerado pela barragem, que alcança cinco municípios de Goiás e um de Minas, é comprido, acompanhando o vale do Rio São Marcos, o que reduz o impacto de seus 200 km2 de extensão. A SEFAC, entre as várias medidas de compensação ambiental, fez o reflorestamento das margens do Ribeirão Pirapitinga, no município de Catalão, e um dos afluentes do São Marcos, com o plantio de 19 mil mudas de árvores nativas do Cerrado. Esse projeto de reflorestamento e de compensação da emissão de CO2 foi o único no Brasil escolhido para participar da Hidro 2009, Congresso Mundial de Grandes Barragens, realizado em Lyon, na França. As árvores plantadas compensarão a emissão de 26 milhões de quilos de CO2, equivalente à queima de 10 milhões de litros de óleo diesel. Todas as outras usinas, segundo o Ministro Zimmermann, também atenderam às novas exigências ambientais e sociais estabelecidas para o setor elétrico.
Na verdade, Serra do Facão conseguiu entrar em operação antes da inauguração oficial, porque as novas linhas de transmissão de energia, até a subestação da Celg, companhia de energia elétrica de Goiás, já estavam prontas, também obedecendo a novos critérios de construção que buscam afetar menos o meio ambiente e as populações próximas. Isso serviu para compensar, por exemplo, uma redução temporária na produção da hidrelétrica de Ilha Solteira, no Rio Paraná, em São Paulo, ainda a terceira em produção do País, com mais de 3 mil MW de potência. Com a energia adicional de Serra do Facão e das novas usinas de Goiás, foi possível permitir o reparo de algumas turbinas na mega usina de São Paulo, sem que o abastecimento nacional ficasse comprometido.
As demais usinas inauguradas ficam no Rio Claro e no Rio Verdinho, na região Sudoeste de Goiás. Barra dos Coqueiros, com 90 MW de potência, integra um complexo com a Usina de Caçu (com potência de 65 MW), ambas no Rio Claro e situadas a pouco mais de 30 km de distância, tem como principal concessionária o Grupo Gerdau. A Usina do Salto do Rio Verdinho, por sua vez, tem potência de 93 MW. A Usina de Foz do Rio Claro é de menor porte, com 68,9 MW de potência, enquanto a última, a de Salto, é a segunda em tamanho das novas usinas de Goiás, com 116 MW de potência instalada. O investimento total nas seis usinas ficou em R$ 2,9 bilhões. Os dados de recuperação da produção de energia no Brasil mostram que, apenas em 2010, foram acrescentados 4.200 MW de potência instalada no País, sendo 922,2 MW referentes a usinas hidrelétricas, total superior à produção de Ilha Solteira, energia capaz de abastecer toda a região metropolitana de São Paulo. Goiás, com as novas seis usinas, contribui com praticamente 70% desse total.
|
Deixe um comentário