Poder nas mãos

A loja dos automóveis Lamborghini e o Museu da Imagem e do Som (MIS) na Avenida Europa, em São Paulo, estão às moscas. Afinal, são 15 horas de uma terça-feira. Mas, o estabelecimento comercial localizado entre eles está lotado. Sempre lotado. Uma dezena de carros ocupa o amplo estacionamento na porta, e o movimento de pessoas, sobretudo mulheres, no interior do casarão é intenso. A clínica Hara, que oferece uma técnica de massagem desenvolvida exclusivamente por uma brasileira – a chamada drenagem linfática profunda – atrai mais público do que museus, lojas e livrarias (a da mesma avenida também estava vazia). “É da nossa cultura”, argumenta a proprietária e criadora da massagem, Ana Luisa Massardi, 38 anos, mais conhecida por Ana Hara. “Hara” foi inspirado no nome de um chacra (centro de energia do corpo para a ioga). “Muita gente pensa que só se trata de estética, mas a drenagem previne doenças e contribui para a longevidade”, completa.

De senhoras que buscam alívio para a retenção de líquido no corpo a capas da Playboy que querem reduzir medidas na véspera de posar nuas, a clínica recebe de 5 a 8 mil clientes por mês. Um empreendimento que conta hoje com cerca de 100 funcionários, sendo 60 fisioterapeutas, e uma filial em Búzios (RJ). “Não tenho planos de estender meu negócio para o exterior. Meu público é o brasileiro”, afirma.

Paulistana do bairro de Santana, zona norte de São Paulo, Ana começou a fazer massagem na adolescência, na própria família. “Todo mundo gostava, eu curava dores de meus pais, meus avós”, conta. Filha de comerciante, aos 15 anos ela já ajudava na farmácia do pai, na Rua 25 de Março (popular rua de comércio de São Paulo). “Aproveitava para comprar coisinhas da 25 e revendia para as amigas da escola. Sempre precisei trabalhar e era boa vendedora”, relembra.

Ana estudou em colégio de freira, só de mulheres, “a vida inteira”. Era o tipo de aluna contestadora que costumava desafiar aos professores. “Sempre gostei de fazer coisas que ninguém fazia. Vencer desafios e fazer novas descobertas”, diz. Ela lembra que aprendeu a cozinhar e a costurar na escola. “Mas não massagem, lógico. Sempre gostei mais de ensinar do que de aprender, sou autodidata”, afirma.

A rebeldia da juventude a levou a sair cedo de casa, aos 18 anos. Ela conta que chegou a dormir em hotéis no Bom Retiro “com as baratas” e a alugar quarto em brechó, até que conseguiu, com dinheiro do próprio esforço, no atendimento de porta em porta com seu Fiat 147, alugar uma casa no Itaim Bibi. “Foi minha primeira clínica, comecei com duas salinhas. Eu morava nos fundos”, afirma. Em dez anos, ela já tinha uma clínica com 25 salas; hoje, sua empresa tem 40.

Ana entrou na faculdade de Publicidade, mas abandonou o curso para estudar Fisioterapia. A drenagem linfática, técnica criada em 1932 pelo médico dinamarquês Emil Vodder que age no sistema linfático – responsável por “limpar” o organismo -, ela aprendeu na faculdade, que transformou, com estudo, pesquisa e a própria experiência no que ela chama de drenagem linfática profunda. Hoje, do alto de seus 20 anos de experiência, Ana sabe que não basta ter talento para ser bem-sucedida, é preciso faro empresarial. “Tenho ótimas funcionárias, mas também já tive gente que aprendeu comigo e achou que poderia levar minhas pacientes e ainda ficar milionária, mas isso não aconteceu”, afirma. “Sofri muitas traições. Tive de recomeçar várias vezes, mas nunca falhei, pelo contrário, só cresci. Há quem pense que sou uma perua milionária, que minha vida é fácil. Não é. Desde o começo foi muito difícil”, completa.

Ana entende seu público. Embora a drenagem linfática seja conhecida por atrair pessoas preocupadas com a estética, a procura inicial por esse tipo de massagem geralmente é desencadeada por um fator emocional. Segundo ela, “gente que quer mudar de vida”. “Quando eu fazia a avaliação das pacientes, percebia que a maioria procurava o tratamento no mês do aniversário. Outros fatores que também motivam são separação e TPM”, afirma. Seja qual for o motivo, o que ela observa é que todos saem da clínica mais serenos do que entraram.

Para melhorar o funcionamento do sistema linfático, ela explica, é necessário “tirar as contraturas musculares” do corpo, portanto, a massagem aplicada na clínica é no mínimo relaxante. Os bangalôs de madeira estilo balinês com piso de vidro por onde é possível contemplar carpas, a música asiática e a cama aquecida contribuem para criar um clima transcendental.

Com a satisfação de fazer o que gosta e ainda ajudar as pessoas, como ela diz, Ana sonha com um resort que leve o nome de sua empresa. Talvez daí ela tire alguns dias de férias. Há 20 anos, seu maior passatempo é trabalhar.

Bela mulher, bela empresa


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