O bom e velho punk não está morto e tem um representante de peso na Bahia. Com letras de protesto e ritmo alucinante, há 15 anos a banda Pastel de Miolos costuma deixar o público em transe – como aconteceu no show de lançamento do álbum Da Escravidão ao Salário Mínimo no Festival Big Bands, realizado de 20 a 24 de outubro de 2010, em Salvador.
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A banda saiu das gravações caseiras para uma produção profissional pela primeira vez com o EP Ruas (2007). “Passamos anos e anos lançando tosqueira. Aí, fizemos algo de qualidade e foi o início de um novo ciclo”, conta Alisson Lima, o frontman.
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Valeu, Bukowski!
Cantor, instrumentista e compositor, formado em Letras, admirador de Drummond e Bukowski, professor da rede pública de ensino, Lima também desenvolve um projeto paralelo, autoral, batizado de Macabéa, que homenageia os escritores Clarice Lispector e Malba Tahan. No Macabéa, ele compõe todas as músicas e grava todos os instrumentos, exceto a bateria. Já tem um disco gravado e está em fase de finalização de outro. Neste projeto, Lima explora um vocal melódico e às vezes limpo, diferentemente do que faz na banda punk, em que grita em alto e bom som. “Noventa e nove por cento das letras da Pastel de Miolos são politizadas”, afirma Jera Cravo, que faz a direção musical das gravações do grupo desde Ruas.
Em 2009, Cravo trabalhou novamente com a banda no álbum virtual Ciranda, disponível gratuitamente pela internet. O disco foi eleito por um site especializado e um programa de rádio locais como o 4º melhor álbum do rock baiano daquele ano.
Em 2010, a Pastel queria algo para celebrar seus 15 anos de estrada. Veio a oportunidade de gravar um CD com 24 músicas. O novo disco surgiu logo após uma série de shows com plateias de diferentes origens nordestinas, que consolidaram a renovação de do repertório.
Refinamento e energia
Agora, a banda apresenta certa abertura para outras sonoridades, além das clássicas batidas do punk e do hardcore. A faixa Opressão, por exemplo, tem toda a pegada de uma boa canção punk, mas a guitarra ao final remete a uma estética mais etérea, que lembra algo de Radiohead. E, em Da Escravidão ao Salário Mínimo, ska-punk que dá título ao disco, um teclado enriquece o arranjo.
O refinamento das estruturas musicais resulta do amadurecimento conquistado pela banda e da contínua parceria com Jera Cravo. Mas, em vez de negar as influências clássicas do trio, o novo disco reafirma o domínio do grupo em fazer o público suar, gritar, dançar e balançar a cabeça. Uma das faixas mais agitadas do disco, Terra em Transe, quando tocada nos shows, funciona como convite para subir ao palco.
Temas contemporâneos
Uma das músicas do CD foi lançada previamente no single Nova Utopia (2010), registro da época da conferência mundial sobre mudanças climáticas realizada em Copenhague (Dinamarca), em dezembro de 2009.
A temática das músicas desse novo disco é totalmente urbana e contemporânea, sem deixar de lado velhos dilemas, como a luta pelo pão de cada dia. As letras mandam recados diretos, como em “Não se engane, você não é livre:/subjugado pelo próprio instinto/Condicionado à falta de opinião/Operacionalizado pelo senso comum/Suscetível a qualquer sugestão”. Parte delas nasce da verve de Alisson Lima. Outra parte vem do baixista Alex Costa, que também compõe. Dos poetas punks, resultam também riffs rápidos, que martelam na cabeça, principalmente quando presenciados ao vivo, com o experiente baterista Wilson Santana fechando a veia punk do power trio.
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