Poesia para ler, ouvir e entender

Leitura de poesia é, sobretudo, um exercício de interpretações pessoais. Salvo em raras exceções, como na poesia concreta, a singularidade de cada poema reside na experiência provocada em quem o lê. Mas, mesmo em poemas de natureza subjetiva, é possível desvendar teias construtivas que desencadeiam tais emoções.

Com a proposta de decifrar artifícios estéticos de grandes autores, dar contemporaneidade e aproximar jovens leitores e antigos poemas (alguns seculares, como Eles Verde São, escrito no século 16, por Luís Vaz de Camões), recém chegou às livrarias O Canto das Musas: Poemas para Conhecer, Ler, Recitar e Cantar. O livro reúne análise, perfis dos autores, um CD com canções originadas de cada um dos poemas e um livreto com orientações e propostas de atividades para professores. A obra é coassinada pela educadora Zélia Cavalcanti, seu irmão, o cantor e compositor Péricles Cavalcanti, e as professoras de literatura Aline Evangelista Martins e Cibele Lopresti Costa.

Concebido por Zélia e Péricles, o projeto nasceu em 2010. Mantenedora da Escola da Vila, uma das instituições pioneiras no ensino construtivista, fundada em 1980, em São Paulo, Zélia convidou Aline e Cibele, que lecionam na escola, para produzir os pequenos ensaios analíticos dedicados aos 12 poemas. A lista de autores traz um verdadeiro quem-é-quem da poesia escrita em língua portuguesa: Gregório de Matos, Luís Vaz de Camões, Olavo Bilac, Gonçalves Dias, Castro Alves, Alphonsus de Guimaraens, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos, Machado de Assis, Antero de Quental, Fernando Pessoa e seu heterônimo Ricardo Reis.

A partir de uma lista com dezenas de poemas selecionados por Aline e Cibele, Péricles empunhou seu violão e partiu para uma árdua peneira: experimentar quais obras dessa primorosa lista teriam mais chances de resultar em boas canções. Findada a seleção, Cibele e Aline partiram para a análise estrutural dos poemas. O resultado é cativante.

Em ensaios curtos, que não chegam a exceder dez páginas, elas tornam agradável ao leitor o que poderia sugerir um exercício de interesse único para acadêmicos. Para os não iniciados, os breves perfis dão conta da magnitude dos autores selecionados.

Mas a atemporalidade dos poemas é mesmo evidenciada quando o leitor trava contato com as versões de Péricles. Escoltado por nomes da nova safra da música brasileira, como o guitarrista Guilherme Held, as cantoras Tulipa Ruiz e Juliana Kehl, Tatá Aeroplano, líder do Cérebro Eletrônico, o baterista Décio Sete, do combo instrumental Bixiga 70, Péricles (que também contou com o apoio do filho, o cantor e compositor Leo Cavalcanti) funde samba, reggae, rap, bossa, balada e o que mais couber para dar um verniz de modernidade a poemas eternos


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