Justa a homenagem da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty – para Ana Cristina Cesar, poeta morta em 1983.
Ela é a segunda mulher (a outra é Clarice Lispector) na série que já tem 13 laureados e foi inaugurada em 2003 com Vinicius de Moraes.
Cultuada, a produção de Ana Cristina se resume a poucos livros. Em edição independente, Cenas de Abril de 1979, Correspondência Completa, também de 1979, e Luvas de Pelica, em 1980.
Os três incluídos em A teus pés, publicado pela Brasiliense, livro que saiu com capa de Waltercio Caldas e era “bonito por dentro e por fora”, segundo Caio Graco, da também cultuada editora, em carta para a autora, pouco antes do lançamento em 1982.
Antes ainda, em 1980, Ana C. publicou Literatura Não É Documento, pela Funarte, sua dissertação de mestrado orientada por Heloisa Buarque de Hollanda, sobre as visões da literatura nos documentários brasileiros.
E isso foi tudo. O que veio depois foi póstumo.
Para a homenagem de Paraty, o IMS, Instituto Moreira Salles, lançou uma fotobiografia organizada por Eucanaã Ferraz, também poeta. Chama a atenção o carinho de Ana C. com as imagens fotográficas, solenidade afetiva típica de um tempo distante da banalização digital. Opostos aos rasos selfies, seus retratos revelam um eu profundo, magnético, fascinante, sugerido, quando não explícito; são caminhos ao seu interior com os olhos como porta de entrada. Caminhos que nem óculos escuros bloqueiam.
Também recém-lançados, Ana C. – O Sangue de Uma Poeta, de Italo Moriconi, e Ana C. – Correspondência Incompleta, com organização de Armando Freitas Filho e Heloisa Buarque de Hollanda, ambos pelo selo HB e distribuição exclusiva em formato digital pela e-galáxia.
Com estas três publicações é garantida uma viagem enriquecedora ao afeto, charme e inteligência. Em que a angústia, é evidente, está incluída.
A homenagem da Flip é alvissareira por permitir aos iniciados mergulhar uma vez mais na curta vida da escritora, símbolo de uma geração que ficou conhecida como a dos poetas marginais – Chacal, Cacaso, Armando Freitas Filho, o grupo Asdrubal Trouxe o Trombone e alguns outros – e é bem vinda também por estimular os não iniciados a conhecer e gostar de poesia, de prosa, da autora, sua obra, seu entorno e a história no fim da década de 70 e começo de 80.
Mostra um momento rico em termos intelectuais e humanísticos.
Apesar do trágico final de Ana Cristina Cesar, com a queda do sétimo andar no apartamento de seus pais, na rua Tonelero, no Rio, conhecê-la e à sua obra funciona como um bálsamo nos ásperos e áridos tempos de hoje.
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