Polegar pra cima

Na última terça-feira, dia 22 de setembro, mais uma vez as grandes metrópoles do Brasil e do mundo participaram do Dia Mundial Sem Carro. No Brasil, a data teve adesão pela primeira vez em 2001 e, apesar de mais pessoas se conscientizarem do problema do trânsito e da poluição por causa do excesso de carros, ainda falta muito para um cenário ideal. No dia 22, por exemplo, pouca gente abriu mão do conforto do carro para experimentar outro tipo de transporte.
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Os automóveis respondem por 60% a 80% da poluição atmosférica das grandes metrópoles e também são os grandes responsáveis pelo cada vez mais caótico trânsito das cidades. Em São Paulo, por exemplo, enquanto o transporte coletivo (ônibus, trem e metrô) realiza 10,3 milhões de viagens/dia, seis milhões de carros fazem quase o mesmo número, 10 milhões de viagens/dia.

A cada dia, a maior metrópole da América Latina tem índices maiores de congestionamentos. Na sexta-feira (25), no fim do dia foram registrados 220 km de lentidão. O maior culpado é o carro. Em um dia como sexta-feira, quando você estiver dentro de seu automóvel, provavelmente sozinho e certamente no meio de um mar de outros carros parados em algum nó paulistano, olhe para os lados. Você vai ver que quase todos os carros terão somente uma ou duas pessoas.

Segundo estudos, os automóveis em São Paulo transportam, na maior parte das vezes, menos de duas pessoas. Foi em um dia de trânsito insuportável na capital paulista que Cido de Paulo, formado em administração de empresas, pensou em algo que pudesse ajudar a diminuir o cenário caótico.

Cido notou que a maior parte dos carros parados no congestionamento tinha a clássica configuração de uma pessoa só.”Aí eu me perguntei, será que as pessoas estão sozinhas em seus carros simplesmente porque são egoístas e não querem dividi-lo com ninguém ou porque não sabem que tem gente indo para o mesmo destino que elas?”, questionou ele.

Ele apostou na segunda explicação e criou um site para aproximar as pessoas que estão dispostas a dar caronas com outras que precisam de caronas para se locomover. Surgia, no segundo semestre de 2008, o e-carona.

O site, disponível para todo o Brasil, funciona de maneira muito simples. O usuário se cadastra gratuitamente como caronista (quem dá carona), caroneiro (quem pega carona) ou os dois. Feito o cadastro, consulta mapa ou as comunidades que existem no site para ver outros usuários que fazem o mesmo percurso. Por meio de mensagens, a carona é combinada.

A primeira preocupação para quem ouve falar do e-carona é a segurança. As pessoas hesitam utilizar o serviço por causa da violência. Cido diz que a segurança dos usuários é fundamental para o bom funcionamento do e-carona. Por isso, há vários procedimentos, como a solicitação de dados cadastrais, com verificação de CPF e incentivo para que caronista/caroneiro conversem por telefone antes de dar/receber carona.

Além disso, existe uma avaliação de caronista e caroneiro, visível para outros usuários levarem em consideração na hora de dar/receber carona. Qualquer problema, o site disponibiliza o e-carona Denúncia, um canal para que as pessoas relatem qualquer uso inadequado ou suspeito do serviço. “Nunca foi relatado nada. Acredito que os usuários levam a sério nossas medidas de segurança”, revela Cido.

Segurança à parte, um apelo para o uso do e-carona toca no bolso das pessoas. No site, existe um cálculo: um veículo 1.6 em São Paulo roda em média 18 mil km por ano, consome um litro de gasolina a cada 10 km, o que dá um gasto de R$ 5 mil/ano, sem contar despesas de manutenção e tempo perdido no trânsito. Segundo o site, com a carona, a economia pode chegar a R$ 3,5 mil. Uma poupança considerável.

O idealizador do e-carona conta que o site foi inspirado em outros serviços oferecidos no exterior. “Antes de criá-lo, eu e meu amigo Vitor (Rolim, designer do site) pesquisamos muito, e encontramos alguns sites, principalmente na Europa, que já prestam esse tipo de serviço, em Portugal, França, EUA, etc. Eles estão bem à nossa frente quando o assunto é uso sustentável do automóvel!”, analisa.

Além de Cido e Vitor, a equipe conta com mais dois membros: Denis Paulo Figueiredo, analista programador, e Luciana Fernandes, da área comercial e de assessoria de imprensa. Segundo Cido, o e-carona foi criado com recursos próprios, com um investimento inicial de R$ 80 mil.

Ele diz que está em busca de parceiros que queiram divulgar o site, além de empresas que desejam disponibilizar o serviço internamente, para uso dos funcionários. Assim, as empresas contribuiriam para a manutenção do serviço, que atingiu dois mil usuários cadastrados, exatamente no Dia Mundial Sem Carro, na última semana.

“A recepção tem sido ótima. As pessoas acham o serviço muito interessante e moderno. Elas percebem o quanto essa atitude tão simples, de oferecer/pegar caronas, pode trazer muitos benefícios para sua vida. O site está se expandindo naturalmente. Já temos comunidades e usuários em várias regiões do Brasil”, conta Cido.

O objetivo é crescer ainda mais, mas sempre oferecer o serviço de graça. Cido sonha com uma mudança gradual na mentalidade das pessoas. Para ele, o ideal seria as pessoas questionarem porque têm um carro, apenas um meio de locomoção, mas que foi alçado a patamar de “status”, segundo Cido. “Muito friamente, o carro só serve para te levar para onde você quiser a hora que quiser, mais nada. E isso é muito pouco!”, opina.

Realmente, é muito pouco. Iniciativas como a do e-carona são mais do que bem-vindas para mudar de vez o cenário de buzinas, poluição, estresse e caos que os brasileiros das grandes cidades enfrentam todos os dias. Portanto, polegar pra cima e boas caronas!


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