A edição 69 da Brasileiros, que chega às bancas nos próximos dias, traz reportagem de capa que aborda a polêmica nomeação do pastor e deputado Federal Marco Feliciano (PSC-SP) para assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. A matéria também propõe uma reflexão para o futuro político imediato do País e o significado de tal episódio para a corrida eleitoral de 2014.
Há um mês a frente da CDHM, nas ruas e em redes sociais da internet, Feliciano vem sofrendo ostensivas manifestações de repúdio a sua permanência, mas resiste no cargo, beneficiado por alianças e conchavos políticos que ferem princípios básicos de direitos humanos e democráticos – como a recente aprovação de restrição de participação de populares nas sessões da CDHM, em Brasília.
A reportagem, intitulada O Bastião do Conservadorismo, também traz o artigo Feliciano te Representa, de Pedro Markun, ciberativista e um dos idealizadores do Transparência Hacker, entidade com mais de 800 voluntários, que propõe a utilização de ferramentas virtuais para uma maior interação da sociedade nos processos democráticos. Markun faz uma analise da influência das redes sociais sobre o episódio, mas vai além, ao sugerir que somos coniventes com um processo político falho e passível de toda sorte de manobras questionáveis para legitimar a permanência no poder – como tem feito Feliciano.
A reportagem também traz uma entrevista exclusiva com o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que conclui: “Para a imagem que eles (os evangélicos) projetam a outros setores da sociedade, é ruim que sejam associados a alguém como Feliciano. E, a meu ver, ele não representa o pensamento evangélico. Tem, na verdade, um projeto de poder, de ambição pessoal.”
Procurado, por dias, para a concessão de uma entrevista ou a publicação de artigo, assinado por Feliciano ou algum representante do partido, o PSC não manifestou seu posicionamento até o fechamento da edição, quando a legenda encaminhou email, através de sua assessoria de comunicação, anunciando que não participaria do debate.
No editorial, Hélio Campos Mello, diretor-de-redação da Brasileiros, enfatiza que a perigosa mistura entre política e religião pode ameaçar princípios democráticos: “Laicidade pode ser uma palavra com um som um pouco estranho, mas o seu significado é simples. Trata-se da qualidade do que é laico. Laico, por sua vez, significa não pertencer a nenhum tipo de religião. Portanto, não obedecer, não ser regido, não ser governado e, principalmente, ter o direito de se negar a ser influenciado por qualquer religião. O Brasil é um Estado Laico.”
Parece óbvio, mas não é o que tem sido constatado recentemente, visto que além da polêmica postura de Feliciano, foi aprovada, na mesma CDHM conduzida pelo pastor/deputado, a (PEC) 99/11. Se sancionado, o projeto de emenda constitucional dara às religiões o direito de impor ações diretas de inconstitucionalidade e ações declaratórias de constitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF). Concessões que ferem gravemente a laicidade do Estado Democrático de Direito e os princípios éticos da Constituição de 1988.
A reportagem ainda traz uma reflexão sobre assuntos de gravidade similar, que foram eclipsados pelo episódio Feliciano, como a permanência de Renan Calheiros – que havia sido alvo de petição virtual com mais de 1,5 milhões de assinaturas, exigindo sua destituição, e foi esquecido – e a ação truculenta do Bonde dos Carecas, grupo de policiais militares de São Paulo, que vem impondo à população de Paraisópolis, na zona sul da cidade, um arbitrário toque de recolher.
Na semana passada Feliciano voltou a ser destaque em redes sociais do Facebook e do Twitter, onde faz sua análise sobre dois episódios trágicos, a morte do ex-beatle John Lennon e dos integrantes da banda brasileira Mamonas Asssinas.
Feliciano, sobre a tragédia que ceifou a vida dos músicos do Mamonas Assassinas:
“O avião estava no céu, região do ministro do juízo de Deus, lá na serra da Cantareira. Ao invés de virar para um lado, o manche tocou para o outro. O anjo pôs o dedo no manche, e Deus fulminou aqueles que tentaram colocar palavras torpes na boca das nossas crianças”.
Feliciano, sobre o assassinato de John Lennon:
“Eu queria estar lá no dia que descobriram o corpo dele. Ia tirar o pano de cima e dizer, ‘Me perdoe, John, mas esse primeiro tiro é em nome do Pai, esse é em nome do Filho, e esse é em nome do Espírito Santo’. Ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar”.
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