SAFRA GAÚCHA – Daniel Galera, Carol Bensimon, Luisa Geisler e Antônio Xerxenesky |
“Deixe um livro aqui. O máximo que pode acontecer é alguém deixar outro.” O recado, escrito em um ponto de ônibus de Porto Alegre, combina com o momento vivido pela literatura gaúcha, que, assim como Rio de Janeiro e São Paulo, emplacou seis dos 20 nomes escolhidos pela revista inglesa Gantra, em sua edição especial Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros – a primeira destinada a autores nacionais.
Apesar de o número de escritores ter sido o mesmo, a safra do Rio Grande do Sul chama a atenção por um motivo: os maiores mercados editoriais do País estão em São Paulo e no Rio – aliás, os gaúchos selecionados já lançaram pelo menos um livro por um selo de uma dessas cidades. A revista selecionou ainda um escritor de Campina Grande, na Paraíba, e um de Salvador, Bahia (leia mais no boxe abaixo).
Mas o que leva uma determinada região, em uma época, a produzir um número significativo de bons escritores? É possível definir fatores objetivos para o surgimento de uma boa safra de autores? Dos seis gaúchos eleitos pela Gantra, quatro falaram com a Brasileiros sobre o assunto:
Daniel Galera, autor, entre outros, de Barba Ensopada de Sangue (Cia. das Letras) e coautor da graphic novel Cachalote. Nasceu em São Paulo, mas passou quase toda a vida em Porto Alegre: “No sul-sudeste está o maior público consumidor e, consequentemente, os autores têm mais visibilidade”. Para ele, é subjetivo apontar razões para o bom momento do Rio Grande do Sul. No entanto, ele cita a importância de sua “experiência paulistana” para alavancar sua carreira.
Carol Bensimon, autora de Pó de Parede (Não Editora) e Sinuca Embaixo D’Água (Cia. das Letras). Foi, assim como Galera, aluna da oficina literária Assis Brasil, um dos cursos mais antigos do País: “Não acho que as oficinas têm necessariamente a ver com a quantidade de bons autores”.
Luisa Geisler, vencedora do Prêmio SESC de Literatura nas categorias conto (2010) e romance (2011) é a mais jovem autora da lista inglesa – ela tem 21 anos. É autora de Contos de Mentira e Quiçá (Editora Record): “As oficinas ajudam no processo de formação do escritor. Além disso, apesar de ainda ler mal e pouco, o gaúcho lê acima da média do brasileiro”.
Antônio Xerxenesky, autor de A Página Assombrada por Fantasmas (Editora Rocco): “Pensava que o clima frio e a falta de opções culturais levavam as pessoas a ficarem em casa e isso incentivava a produção literária. Mas tenho minhas dúvidas. Talvez haja escritores bons no norte, nordeste. Só não aparecem porque não têm a mesma habilidade de se autopromover que os gaúchos possuem”.
OUTROS SELECIONADOS PELA GANTRA
Rio Grande do Sul: Michel Laub e Leandro Sarmatz. São Paulo: Vanessa Barbara, Emilio Fraia, Julián Fuks, Ricardo Lísias, Chico Mattoso e Antonio Prata. Rio de Janeiro: Miguel Del Castillo, João Paulo Cuenca, Laura Erber, Vinicius Jatobá e Carola Saavedra. Paraíba: Cristhiano Aguiar. Salvador: Javier Arancibia Contreras. |
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