Queridos, não posso deixar de homenagear nossos irmãos portugueses pela maravilhosa conquista, aprovada ontem que foi a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo . O casamento homossexual agora é uma realidade em toda a Península Ibérica, mais este grande exemplo para o mundo todo, vamos comemorar com eles. Já escrevi que cada avanço, não importa o quão longe, nos ajuda, sempre. É o grande rio correndo para o mar, salgado por tantas lágrimas de Portugal (F. Pessoa). Escolhi dois sonetos, o primeiro de Camões, talvez o maior nome de toda a rica literatura portuguesa, e o segundo de Fernando Pessoa. Camões viveu no século XVI, e morreu quando Shakespeare nascia. Ele é tão atual que um cantor (gay) maravilhoso como Renato Russo musicou seus sonetos, os de número 5 e 11, e ficou lindo, de chorar, ouçam aqui e aproveitem. Fernando Pessoa foi tão grande quanto Camões, mas viveu quatro séculos depois, escolhi seu poema pela primeira parte, “Se Deus quer…”, que acho adequada á conquista do casamento gay por eles. Abraço do Cavalcanti a todos vocês.
Camões – Soneto Número 5
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Soneto ao Infante Dão Henrique – Fernando Pessoa
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagroute, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
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