Fernando Haddad não foi reeleito, mas entrega a Prefeitura de São Paulo aclamado internacionalmente. Sua gestão ganhou no mês de novembro US$ 5 milhões pelo primeiro lugar no Grande Prêmio do Mayors Challenge da América Latina e do Caribe de 2016 da Bloomberg Philanthropies.
O Mayors Challenge é uma competição criada pela Bloomberg Philanthropies, departamento de filantropia da Bloomberg L.P., empresa norte-americana de tecnologia, comunicação e de dados sobre o mercado financeiro, fundada e presidida por Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York que governou a cidade de 2002 a 2013. Bloomberg, um dos homens mais ricos do mundo, é reconhecido pela gestão de 12 anos em Nova York que deixou um legado de transformações na cidade após o 11 de setembro.
Desde 2013 o Mayors Challenge premia cidades que apresentem soluções inovadoras para problemas relevantes. A competição de ideias, que também é conhecida como Desafio dos Prefeitos, incentiva projetos que possam resolver grandes desafios nas cidades e melhorar a vida dos cidadãos, focando principalmente no desenvolvimento urbano e sustentável.
Após realizar edições nos Estados Unidos (em 2013, Providence, capital do estado norte-americano de Rhode Island, ganhou o primeiro lugar) e na Europa (em 2014, Barcelona , na Espanha, foi a grande vencedora), este é o primeiro ano do Government Innovation na América Latina e no Caribe. Mais de 900 cidades foram convidadas a concorrer, 290 se inscreveram e cinco chegaram à final.
A capital paulista concorreu com o projeto Ligue os Pontos, uma plataforma digital que pretende potencializar as políticas públicas relacionadas à agricultura local e familiar na subprefeitura de Parelheiros, zona rural e sul de São Paulo. O projeto irá envolver produtores, distribuidores e consumidores, facilitando e ampliando a distribuição de produtos de agricultura familiar da região.
Ligue os Pontos foi produzido e ficará sob governança de um comitê que reúne integrantes da SP Negócios, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Secretaria Municipal do Trabalho, Desenvolvimento e Empreendedorismo. Eles pretendem conectar, com a criação dessa plataforma, os agricultores locais a restaurantes e mercados da cidade que precisam de produtos orgânicos.
A gestão pesquisou as necessidades da região e resolveu ligar os produtores locais ao empreendedorismo, como forma de fomentar a agricultura agroecológica para atender a duas demandas da região de Parelheiros: proteção das áreas de mananciais e criação de empregos locais. Criaram, assim, um projeto que utilizará a tecnologia como ferramenta de integração e desenvolvimento de políticas públicas socioambientais.
A plataforma digital será de domínio público. Os agricultores venderão diretamente seus produtos aos consumidores por meio do portal. Além disso, eles poderão se capacitar, tirar dúvidas e buscar suporte técnico pelo site. A logística das entregas e ofertas de empregos também fará parte da plataforma.
“São Paulo é uma cidade de diversas faces, visíveis na pujança de sua indústria, no seu comércio e na sua cultura. Para mim, é um orgulho muito grande falar dessa face pouco conhecida: a de 40 mil pessoas que vivem na zona rural de São Paulo e ainda esperam o reconhecimento do território rural como parte integrante da cidade. O projeto apresentado por São Paulo busca multiplicar por três vezes a renda de famílias em situação de grande vulnerabilidade social, inserindo-as na cadeia produtiva agrícola de uma metrópole com 12 milhões de habitantes. Esse projeto é uma simples plataforma de encontro entre produtores e consumidores e oferece ao poder público municipal uma preciosa ferramenta de articulação de ações setoriais para formular políticas públicas integradas. Em nome da população do distrito de Parelheiros, incrustada no coração da Mata Atlântica, na Serra do Mar, e de toda a população de São Paulo, agradeço a oportunidade”, disse o prefeito Fernando Haddad na Cidade do México, onde foi a entrega do prêmio.
Além de São Paulo, as outras finalistas foram: Bogotá, com a proposta de criação de um transporte escolar mais eficiente e seguro para a juventude da cidade; Guadalajara, com a construção de um site para licenciamento de construções que trará mais transparência e combaterá a corrupção no uso do solo da cidade; Medellín, com um projeto para viabilização de fundos de empréstimos como forma de reduzir os empréstimos ilegais; e Santiago, com a criação de uma plataforma de mobilização da comunidade escolar contra a obesidade infantil.
Fernando Haddad e sua gestão foram os criadores e ganhadores do projeto, mas João Doria Jr. é quem ficará com a execução. O contrato com a Bloomberg prevê a implementação do Ligue os Pontos entre 2017 e 2019, período em que a Bloomberg Philanthropies proverá apoio financeiro e técnico. O caso de mudança na liderança da Prefeitura de São Paulo já estava previsto no relatório do projeto entregue na inscrição do prêmio como uma possibilidade. Junto a esse adendo, estão também argumentos para que o novo líder realize o projeto de acordo com o que foi planejado e que a sociedade, assim como
Bloomberg Philanthropies, cobre dele a entrega, o investimento dos US$ 5 milhões e o funcionamento da plataforma Ligue os Pontos.
Sem dúvida nenhuma, a conquista desse prêmio corresponde a uma extensão e continuidade de políticas públicas feitas durante os últimos quatro anos que seguem os mesmos princípios e ideias do projeto Ligue os Pontos e do Mayors Challenge.
O Plano Diretor Estratégico, que recuperou a zona rural no município e incentiva o desenvolvimento de atividades econômicas capazes de conciliar proteção ambiental com geração de emprego e renda, reduzindo a vulnerabilidade e a exclusão socioambiental nesses distritos, e a regulamentação da Lei 16.140, que torna obrigatória a inclusão de alimentos orgânicos ou de base agroecológica na alimentação escolar municipal, abriram caminho para a criação do agora premiado internacionalmente Ligue os Pontos.
Premiado anteriormente com o Sustainable Transportation Award 2015, Haddad já foi descrito pelo The Wall Street Journal como um visionário não reconhecido no Brasil e pelo The New York Times como um desafiador da “supremacia do automóvel” por priorizar, enquanto prefeito da maior cidade da América Latina, o transporte público e as bicicletas. Agora, mesmo não reeleito, deixa para São Paulo um prêmio inédito e inestimável para uma região grande em área e possibilidades, mas que recebia, até agora, poucos investimentos.
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