Primeiro plano

Pesquisa do Instituto Itaú Cultural, que esmiuçou dados de mais de 19 mil exposições realizadas desde 1987 no mundo, aponta o carioca Waltercio Caldas, 66, como o artista brasileiro de maior visibilidade no País e no exterior. Entre mostras individuais e coletivas, ele acumula até agora 314 exposições, 14 a mais que a segunda colocada, a artista plástica e arte-educadora gaúcha Regina Silveira. Quatro dias após a “surpreendente revelação”, segundo ele, Caldas concedeu breve entrevista à Brasileiros, em que fala sobre o ascendente mercado de arte contemporânea do País e as escolhas que considera equivocadas de alguns novos artistas, além de suas impressões sobre a própria mostra na Pinacoteca de São Paulo.

Exposta no final de 2012 na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, e agora na capital paulistana, Waltercio Caldas: O Ar Mais Próximo e Outras Matérias vai permanecer aberta para visitação até 7 de abril e, depois, seguirá para Austin, nos Estados Unidos, onde será montada no Blanton Museum. Parceiro da Fundação Iberê Camargo na realização dessa exposição, o museu texano detém uma das maiores coleções de arte contemporânea brasileira nos Estados Unidos e, desde os anos 1960, promoveu mais de uma centena de mostras individuais e coletivas envolvendo artistas latino-americanos.

A exposição dedicada a Caldas tem curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro e Ursila Davila-Villa e apresenta 87 trabalhos, em um recorte temático de quatro décadas de produção, que dispensa o rigor cronológico dos balanços mais tradicionais, como enfatiza o artista: “A ideia de retrospectiva não é exatamente esclarecedora, pois não há um recorte cronológico nessa exposição. Os trabalhos foram divididos em famílias de relações e só a partir daí é que as conexões entre as obras foram estabelecidas. Uma solução coerente, pois sempre recorri a vários núcleos de interesse e retornei a eles. A curadoria foi muito fiel ao processo e a poética do meu trabalho”.

A preocupação de que os curadores mantivessem essa unidade estética foi tão bem-sucedida e estimulante que nove obras inéditas acabaram sendo incluídas e apontaram outras direções a Waltercio. “Trabalhos que nunca expus acabaram entrando na última hora, justamente porque cumpriam a função de reportar questões tratadas há muito tempo. Essa exposição levantou uma série de questões que acabaram me estimulando e apontando direções para o futuro.” Entre as obras inéditas, trabalhos como Verde por Dentro e Asas (ambas de 2008), O que é Mundo. O que não é e Planisfério (de 2011). Trabalhos que evidenciam a forte identidade autoral de Waltercio e o que ele considera “famílias de relações”, aspectos presentes no rigor tridimensional das formas de seus desenhos, esculturas, objetos e instalações. A mostra ainda reúne obras cultuadas, como Aquário Completamente Cheio (1981), Dado no Gelo (1976) Centro de Razão Primitiva (1970), Convite ao Raciocínio (1978), Thelonius Monk (1998), entre outras.

A liderança na pesquisa elaborada pelo Itaú Cultural reiterou outro importante dado: assim como o mercado brasileiro de arte contemporânea (que cada vez mais desperta o interesse de galeristas, colecionadores, museus e feiras ao redor do mundo), a carreira internacional de Waltercio também cresceu exponencialmente dos anos 1990 para cá. Fenômeno visto com entusiasmo e prudência pelo artista: “Acho que existem fatores positivos, mas há também questões que precisam ser integradas a essa nova realidade. Não podemos perder a oportunidade de demonstrar as particularidades da nossa produção artística e meu receio é que certa visão de mercado predomine sobre nossa complexidade cultural. A arte brasileira é dinâmica e diversa. Há uma grande quantidade de artistas atuando no País e é isso que deve ser mostrado, neste momento de grande visibilidade. Essa riqueza não pode ser eclipsada por regras de mercado”.

Questionado sobre a produção de artistas emergentes, ele revela que também observa, à distância, tal movimentação e aconselha, embasado pela experiência de quem se consolidou como um dos mais importantes artistas do País. “Prefiro me interessar por um novo artista, quando ele chega à metade da carreira. Acredito que a densidade produtiva de um artista só é possível através de certas obsessões, algo que só se dá com o tempo, e muitos jovens artistas queimam rapidamente suas possibilidades, pois aceitam jogar o jogo vertiginoso do mercado.


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