Profissão Professor

A pedagoga Maria da Graça Corsi poderia ter sido médica psiquiatra, mas os caminhos da educação a encontraram de um jeito sem volta. Se ainda na adolescência, a Medicina parecia ser uma escolha certa, afinal, na família haviam exemplos de profissionais médicos, já na fase adulta a escolha profissional pela educação não deixou dúvidas de que a decisão foi a mais acertada. 

De lá para cá são 28 anos atuando como professora, mas com uma especificidade: Maria se destinou a educar crianças e adolescentes com deficiência visual. E se especializou, fez cursos em Psicomotricidade, Psicopedagogia, alguns cursos na área de Neurologia, entre outros. Em 1985 foi convidada a integrar o Instituto de Cegos Padre Chico como coordenadora da Central de Visão Subnormal e de 1993 até hoje está na LARAMARA – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual. É lá que Maria se dedica a trabalhar com crianças e adolescentes a partir dos 6 até 21 anos e com um objetivo sempre nobre: aumentar a inclusão de alunos e descobrir suas potencialidades para uma vida autônoma e criativa.

Na terceira matéria da série Profissão Professor, é ela quem conversa com a Brasileiros sobre o papel social do professor, educação especial e a motivação por trás da profissão. Leia a seguir. 

Como você despertou para a educação especial de crianças e adolescentes com deficiência visual?

Quem me ganhou, na verdade, foram os alunos. Eu pude ver como era fascinante a área da educação quando estagiei, como era atuar com limitação sensorial. Mudei da área quando deixei a Fonoaudiologia, pois no início a intenção era trabalhar na área clínica. Mas quando eu descobri que eu poderia trabalhar com pedagogia, na área educacional e que eu teria tempo de ensinar um aluno, e de poder construir junto com eles, eu mudei. E o legal é que você tem um tempo muito maior com o aluno. Você transmite uma possibilidade de vencer com seu entusiasmo. Pois, o professor é só 50% de um processo, o aluno vem com os outros 50%. Se o aluno não se sentir motivado, se não houver uma empatia entre professor, aluno e família não rende. Se você não motivar o aluno, ele não vai querer aprender. 

Como você avalia seu papel social enquanto educadora?

É um importante papel social que envolve a questão além da vida acadêmica, informação, e responsabilidades. Enquanto educador, não compete a ele incutir valores pessoais. O papel do professor é resgatar valores, princípios culturais e sociais. Aqui no Instituto recebemos crianças, filhas de descendentes sul-americanos, bolivianos, que além do fator visão, também têm uma dificuldade com a questão da língua. Nosso papel é também traduzir esses valores de diversidade cultural e transmiti-los, compartilhá-los, pois isso também faz com que os outros alunos se tornem mais tolerantes. Nosso papel é também se adaptar, entender o tempo de cada aluno e fazer com que ele evolua para que ele se torne autônomo. 

Qual é a grande gratificação que você encontra na educação?

É revigorante. É gratificante ver uma criança transferindo um conceito que aprendeu com a gente, desde um simples amarrar de sapatos e, de repente, ela está aprendendo a fazer aquilo de um jeito diferente, de um jeito dela e evoluindo nesse conceito.

Com a inclusão da tecnologia, mudou-se muito a forma da educação para crianças com deficiência visual?

Ela ampliou a educação. Você nunca vai deixar de usar o lápis e uma caneta, mas você muda o suporte, você reúne mais recursos, você facilita o trabalho. Por lei, todo livro publicado no Brasil deve ser acessível, mas, por exemplo, um software sintetizador de voz que permite leitura de textos na Internet possibilita independência e agilidade para pessoas com deficiência visual, para o aprendizado individual.

E como você avalia a educação especial para pessoas com deficiência visual no Brasil?

No Brasil, nós sempre estivemos em vantagem em relação aos demais países. E a contribuição de Dorina de Gouvêa Nowill, hoje já falecida, foi fundamental. Ela se especializou em educação para cegos nos Estados Unidos e conseguiu chamar atenção para a inclusão social de pessoas com deficiência visual. Outro avanço também se deu quando o Instituto LAMARA, desde 1997, passou a fabricar máquinas de escrever em Braille.

E por que a motiva ser professora?

A gente ainda enfrenta preconceitos ao longo da vida escolar, e esse é o papel da escola, trabalhar as competências de cada um, incluir e dar oportunidades de todos conviverem num espaço comum a todos. E esse conceito é uma mudança de dentro para fora. E isso está presente na vida do professor. O professor se sente muito desamparado, mas por que ele não desiste da profissão? Porque ele acredita na capacidade de mudança para melhor. E quando o professor dá o sangue, o aluno percebe.  


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