Geralmente o conceito de design é acompanhado da ideia de requinte ou até mesmo de supérfluo. O design pode ser feito por arquitetos, engenheiros, artistas plásticos, gente da área visual, até por designers mesmo, uma atividade relativamente recente. Mas na realidade seu campo é a interface. Onde há interface homem-objeto, homem-informação, aí está o design. Se você pegar uma cabine de elevador, um projeto de engenharia por excelência, ela vai necessitar uma interface não só como produto, tipo colocar um espelho porque inibe depredação, como o desenho da botoneira. Se no elevador entra criança, então a altura tem de ser pensada. Se entra deficiente visual a botoneira terá de ser padronizada, a posição da escrita em Braille decidida, em cima, embaixo, do lado. Deficientes visuais que não são cegos (presbiopia) necessitam de números grandes. Onde colocar o botão de alerta se o elevador para? Essa interface que para nós é tão natural, que parece que nasceu em árvore, é pensamento de design. Então o design é uma área do conhecimento que lida com as interfaces. E que se intensificou a partir da complexidade do mundo.
A rápida explicação é da jornalista e professora Ethel Leon que está lançando o livro Memórias do Design Brasileiro com 12 perfis de profissionais cuja atuação foi decisiva para implantação do conceito no Brasil. Jornalista da área cultural, com mestrado em literatura brasileira na Universidade de São Paulo (USP), há 20 anos especializou-se no assunto que passou a estudar, primeiro como autodidata, fazendo depois mestrado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e se tornando uma das criadoras do curso de design da Faculdade de Campinas (Fecamp) onde leciona atualmente. É autora também de Design Brasileiro: Quem Fez, Quem Faz (Viana & Mosley – 2005), coordenou com Zuleika Alvim a pesquisa para o volume História da Embalagem no Brasil (Abre – 2006), escreveu o texto crítico do livro João Baptista da Costa Aguiar – Desenho Gráfico 1980 – 2006 (Senac – 2006) e organizou várias exposições, assinando por exemplo a cocuradoria da mostra Brasil, Convivência de Extremos (Berlim – 2006).
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Segundo Ethel, o livro surgiu porque se cansou de xerocar seus textos antigos para publicações da área que eram pedidos quase que semanalmente. Brinca dizendo que “parece que o pessoal tem uma certa preguiça de pesquisar”. A seleção, avisa, obedeceu um corte quase que etário, pois realizou inúmeras entrevistas ao longo de sua carreira. A escolha se deve ao fato de achar que houve uma geração que foi muito importante nos anos 1950, 1960 e até 1970 no Brasil, muito sólida. Afinal foi a geração que viu Brasília, viu o projeto desenvolvimentista, que achou que o Brasil estava entrando na modernidade, que tinha utopias muito grandes em relação ao design. Em sua carreira entrevistou gente muito mais jovem e o pessoal fica brincando com a possibilidade de sair o número dois, o que não havia pensado. Houve a preocupação de mostrar pessoas que ficaram soterradas pela nossa historiografia ainda não consolidada, nomes que não se acha em nenhum livro. Como Livio Levi, que não chegou a conhecer pois morreu em 1973, mas foi atrás da viúva dele, que cedeu material. Entre outros feitos, Levi é o criador da iluminação da Catedral de Brasília, projetando um aparelho que lança a luz a partir do espelho d’água que circunda a construção, fazendo com que a estrutura pareça elevar-se para o céu. Ele é autor também das luminárias do Centro de Convenções do Anhembi paulistano, além de jóias, talheres, metais sanitários. Morreu bem jovem, a exemplo de Ruben Martins, um dos fundadores da Forminform em cujos escritórios passaram nomes como Alexandre Wollner, Emilie Chamie, João Carlos Cauduro, que ao lado de Ludovico Martino é o criador da sinalização vertical da Avenida Paulista, todos personagens do livro de Ethel.
Outra figura esquecida é a de Estella Aronis. Ninguém conhece o trabalho, diz Ethel. A única referência é que ela foi casada com Alexandre Wollner e enquanto estava no escritório dele fez uma coisa ou outra. Mas ela tem uma carreira solo enorme. Foi ela que introduziu toda a identidade visual de estacionamentos em São Paulo. Uma pessoa que tem uma presença na cidade, monumental. E mais. Estella é responsável pela sinalização dos aeroportos, o que não é pouco. E não se acha em nenhum livro. Nenhum não. No de Ethel, que traz, além dos citados, Jorge Zalszupin, da fábrica de móveis L’Atelier; Manoel Coelho, que trabalhou com Jaime Lerner em Curitiba; Michel Arnoult, o preferido de Ethel; o homem por trás da Mobília Contemporânea, Milly Teperman, tão presente em Brasília; e o inevitável Pietro Maria Bardi, que criou um curso regular de desenho industrial dentro do seu Instituto de Arte Contemporânea. Em 1950.
Saiba mais sobre design e arquitetura no site www.agitprop.com.br
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