Fotos Divulgação
Um total de 514 alunos vindos de 13 países da América Latina, dos Estados Unidos e da Turquia e 74 professores da América Latina, Europa e Estados Unidos. Esses 588 protagonistas a fizeram da 8ª edição do FEMUSC, Festival de Música de Santa Catarina, em Jaraguá do Sul, um evento memorável. Para ilustrar o espírito do festival, descrevo uma emblemática cena que presenciei.
Na sala de refeições improvisada no salão do último andar do prédio da Sociedade de Cultura Artística de Jaraguá do Sul, em meio a estudantes, professores, funcionários, jornalistas, conversas, risadas, música (sempre), o compositor, pianista e regente pernambucano Marlos Nobre, um dos mais conhecidos e executados compositores da atualidade no Brasil e no mundo, atende em uma peculiar master class um aluno de trompete colombiano.
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À mesa, eu compartilhava encantada a refeição com o maestro e a fagotista Catalina Klein. Em um misto de informalidade e extremo respeito, o rapaz, que afortunadamente ocupava a mesa vizinha, pediu ao maestro que analisasse uma composição que acabava de criar. Nobre finalizou seu almoço, típico de bandejão universitário, e colocou-se, apesar da apresentação de uma pequena orquestra de saxofones, a ler a partitura e orientar detalhadamente o jovem, muito jovem, aspirante a compositor.
Pouco antes, em conversa com Nobre e Alex Klein, maestro-oboísta, idealizador e “comandante” do FEMUSC, ouvi que uma das prioridades do festival é tirar do conflito a tônica que muitas vezes se cria entre professor e aluno. “O professor deve ser um colega com mais experiência, mais conhecimento. O trabalho do professor é despertar no aluno aquilo que ele ainda não conhece. Com seriedade, claro”, diz Klein. Marlos Nobre arrisca: “Podemos lembrar Guevara, ‘duro, sem perder a ternura’”.
Essa filosofia resulta em grande produtividade. Em duas semanas de trabalho, grupos que não haviam tocado juntos anteriormente (os alunos discutem o repertório nas redes sociais antes do festival e podem estudar as obras individualmente) apresentaram, com grande qualidade, obras como a 5ª Sinfonia de Mahler, concerto para violino e orquestra de Samuel Barber (com o violinista canadense Charles Stegeman), o concerto número 5 para piano e orquestra de Beethoven (Ricardo Castro ao piano) e a complexa 10 ª Sinfonia de Shostakovich, em emocionante execução.
O goiano Thierry de Lucas Neves, de 16 anos, que atuou como primeiro violino na apresentação, conta que a orquestra teve cinco ensaios com a maestrina inglesa Catherine Larsen-Maguire, mas não foi possível fazer uma única passagem da obra inteira sem interrupções antes da apresentação. “Aqui é o lugar onde eles podem arriscar”, completa Alex Klein.
João Felipe da Fraga, capixaba de 18 anos, começou a tocar aos 14 e estava em Jaraguá do Sul pela quarta vez. Foi spalla em edições anteriores. Ousado, foi quem sugeriu a obra de Shostakovich. Os colegas, tão ousados quanto, não se amedrontaram e o resultado confirmou.
O festival possibilita aos jovens músicos perceberem melhor sua própria capacidade e a oportunidade de mostrarem seu talento para profissionais experientes.
Destaque do festival desde a edição número 7, Gideoni Loamir Veríssimo não tinha nenhuma ligação com a música, mas aos 9 anos conheceu o violino, que era o único instrumento disponível no projeto Cidade da Música em Volta Redonda (Rio de Janeiro). A máxima: “Ele não escolheu o violino. O violino o escolheu”. Gideoni é enfaticamente elogiado pela sua sensibilidade e sonoridade por autoridades como Leon Spierer, que foi por 30 anos spalla da Sinfônica de Berlim sob a regência de Karajan, e Simon Bernardini, um dos atuais spallas da mesma orquestra alemã.
Spierer, nos seus elegantes 82 anos, foi uma das presenças mais carismáticas e inspiradoras do festival e agradeceu com um soberbo rebolado, em meio à megaorquestra no encerramento dessa oitava edição, ao reconhecimento dos alunos e dirigentes.
Os números do Festival:
514 alunos – 1.300 inscrições
74 docentes
28 países representados, entre professores e alunos
Alunos
Brasil – 297
Colômbia – 85
Argentina – 43
Chile – 18
Peru – 18
Costa Rica – 15
México – 12
Estados Unidos – 6
Equador – 6
Venezuela – 4,
Bolívia – 3
Paraguai – 3
Uruguai – 2
Honduras – 1
Turquia – 1
Professores
Brasil – 43
Estados Unidos – 9
Argentina – 4
Costa Rica – 2
Inglaterra – 2
Alemanha – 2
Canadá – 2
Romênia – 1
França – 1
Chile – 1
Itália – 1
Cuba – 1
Islândia – 1
Portugal – 1
Áustria – 1
Holanda – 1
Rússia – 1
Espanha – 1
18 Estados brasileiros representados
Alunos
São Paulo – 74
Santa Catarina – 56
Rio de Janeiro – 43
Bahia – 25
Paraíba – 18
Minas Gerais – 14
Espírito Santo – 13
Goiás – 8
Paraná – 8
Pernambuco – 8
Distrito Federal – 7
Rio Grande do Sul – 7
Sergipe – 7
Rio Grande do Norte – 5
Amazonas – 1
Ceará – 1
Maranhão – 1
Pará – 1
Professores
Santa Catarina – 12
São Paulo – 9
Rio de Janeiro – 4
Paraná – 3
Bahia – 2
Paraíba – 2
Minas Gerais – 1
Rio Grande do Sul – 1
30 mil horas/aula
Mais de 700 obras executadas. A maioria por sugestão dos alunos.
3 mil pessoas é a média de público diário
450 empregos gerados direta ou indiretamente
R$ 6 milhões é a estimativa de movimentação econômica no município de Jaraguá do Sul
Mais de 200 apresentações em cidades vizinhas: Blumenau, Corupá, Joinville, Pomerode, Timbó, Shroeder, Guaramirim, São Francisco do Sul e São Bento do Sul. E concertos sociais em shoppings, igrejas, empresas, postos de gasolina, museus, presídios e casas de idosos.
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