Que chapéu é esse?

O pior é que agora deram para usar chapéu. Que raio de mania! Onde quer que um cristão olhe, parece estar assistindo a filme de gangster. Sem, é claro, o benefício do acompanhamento de ternos risca de giz, que pelo menos davam classe àquele que está debaixo do Fedora. Digo “Fedora” por força do hábito, porque tem nego usando Borsalino, Coco, Pork Pie e, desconfio, vale até sombreiro.

No Brasil, pelo que vejo em fotos, a coisa enveredou para o Panamá. Está todo mundo tirando uma onda de fazendeiro cubano da época do Batista. A presidente Dilma deveria baixar uma MP decretando o banimento da indumentária de palha. Se o caboclo não for caipira nem se chamar Tom Jobim, não pode usar aquele item. O erro nesse abrigo do crânio já começa pelo nome: “Panamá”. O negócio é feito mesmo no Equador.

Quando eu era criança, os homens usavam chapéu. Não como acessório, mas sim integrado ao conjunto do traje. Um cavalheiro não ficava andando por aí com a cabeça descoberta. Protegia o quengo e mantinha uma elegância sóbria. O único sujeito que eu conhecia intimamente e que não usava a peça era meu pai. Uma vez lhe perguntei por quê?

“Baixinho não usa chapéu. Fica parecendo abajur de criado-mudo de mulher do meretrício”, respondeu o velho filósofo.

Meus tios, que eram mais altos, cobriam as carecas com Fedora de pelos de castor. Meu tio Zezinho chamava o item de “bumbo”. Dizia que a coisa parecia o instrumento musical. Não me parecia apropriada a comparação. Principalmente no caso dele que tinha preferência por um Pork Pie marrom. E esses estavam mais para tamborim. Para quem não sabe, o Pork Pie (literalmente: torta de porco) foi popularizado por músicos negros de jazz. Saíram do sul dos Estados Unidos e carregaram os chapéus que usavam nas igrejas, aos domingos, e nos campos de colheita de algodão. Trata-se do mais simpático modelo desse acessório: pequeno, com abas curtas e, de preferência, feito com palha escura.

Nos jazzistas dos anos 1940, 1950, o Pork Pie ficava bem. Mas, no Terceiro Milênio, uma mocinha de shortinho, camiseta e tênis, um chapéu (qualquer um) é de uma vulgaridade só comparável ao guarda-roupa da Britney Spears. E a culpa disso são as bandas pop de garotos. Aquelas do tipo N’Sync, New Kids on the Block, Backstreet Boys, Boys I Wish You Were in Hell e sei mais lá que outras torturas ambulantes. Foram eles que lançaram a nova onda que já está tão velha quanto o Ricky Martin.

Hoje em dia, até mesmo bebês estão tirando uma de Justin Timberlake ou James Cagney. Famílias inteiras cobrem as cabeças como se partissem para uma vaquejada. Acabe-se com isso, pelo amor de Deus! Depois da invenção do carro, chapéu virou artefato redundante. E não me deixem começar a falar sobre carecas que tentam esconder sua condição em disfarce tão tosco. Esses nem merecem piadas.
Fica combinado, então: se não for judeu ortodoxo ou condutor de animais de grande porte por longas distâncias, não pode mais usar chapéu.


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