Que venham novos começos…

Este texto faz parte do especial 2017 x 24 – visões, previsões, medos e esperanças da edição número 113 da Revista Brasileiros, onde articulistas e colaboradores foram convidados a pensarem sobre o que e o quanto podemos esperar – se é que podemos – para nosso País no próximo ano.  

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Desde pequeno, aprendi que o amanhã pode (e deve) ser diferente. Até meus 10 anos, fui preparado para o desapego e a possibilidade de abrir mão da “estabilidade” em troca do inesperado, do inédito. Então, no dia seguinte do meu décimo aniversário, troquei o quintal de casa por um playground fascinante: a imensidão do mar. Quando parti com meus pais, Vilfredo e Heloísa, e meus irmãos, Pierre e Wilhelm, para a primeira volta ao mundo a bordo de um veleiro, aprendi que o futuro é sempre oportunidade para um novo começo. Isso porque o mundo está em constante movimento, seja no cosmos, seja na sociedade, e nenhum momento ou lugar será igual ao outro. O tempo é irreversível e ele só anda em uma direção.

 Partindo do exercício de observar atentamente o comportamento do outro (e o meu também) e do intenso 2016, iço as velas e foco a lente para zarpar rumo a 2017 com expectativas de um ano transformador e melhor. Até poderia desejar repetir a dose, afinal 2016 foi de importantes realizações. Participei da concretização de sonhos: a Família Schurmann acaba de retornar de nova volta ao mundo com a Expedição Oriente e lancei o nosso lindo Pequeno Segredo, por exemplo. Paradoxalmente, o filme é um dos motivos que me levam a desejar transformação e mudança, em especial do ser humano. Lançado em ano de conflitos políticos, arrancaram o direito de o Pequeno Segredo ser só um filme. Uma obra que reflete a realização do sonho de um cineasta de contar uma história. Sonho que começou há mais de seis anos e envolveu elenco e equipe técnica multiculturais e com grandes talentos.

 Dessa experiência, não me faço de vítima. Apesar das (muitas e injustas) surras que levei, foi uma das jornadas mais incríveis de minha vida! Mas é dela que pude confirmar que o ser humano muda pouco. Ele ainda é capaz de apontar o dedo para o outro, de julgar a pessoa ao lado, sem perceber (ou simular) seus próprios defeitos. Exemplo disso foram algumas das críticas, de cineastas e formadores de opinião, que, mesmo sem terem assistido ao filme, tentaram rebaixá-lo. O mundo parece ter urgência de buscar uma polarização burra. Coisa que já vi e não dá certo. Dizemos que somos mais tolerantes, mais informados, mas a realidade é que seguimos todos trancados dentro de nós mesmos, replicando os mesmos comportamentos.

Por anos, mantive nosso “segredo” para proteger minha irmã Kat do injusto e cruel preconceito humano. Quando revelo sua história (um desejo dela, que não conseguiu realizar), de modo inovador (e, por que não?, ousado), me deparo com esse comportamento tão arcaico, vindo de quem menos se espera. Justamente daqueles que se consideram “pra frente”, “democráticos”. Mas isso não afetou o apoio de milhares de pessoas, do senhor que não ia ao cinema há anos e fez questão de ver o filme, dos colegas respeitados de profissão. Pequeno Segredo transforma e toca o coração de brasileiros e pessoas ao redor do mundo. A jornada do filme, com sua possível indicação ao Oscar, foi (e ainda é) uma das mais gratificantes e desafiadoras que já vivi.

 No mar, aprendi a suportar os momentos de tempestades para encontrar um novo horizonte. Foi ali, entre as ondas revoltas em momentos difíceis, que aprendi a utilizar a serenidade e habilidade para sobreviver. Foi ali que adquiri resiliência e um eterno otimismo. Em 2016, confirmei que os inovadores nem sempre são compreendidos inicialmente, mas são eles que nos surpreendem. E é esse novo começo que vislumbro para 2017, um ano de transformações e realizações. Logo, voltarei a atuar atrás das câmeras em novas produções da Schurmann Filmes. Desejo que 2017 seja o ano para se apostar em novos modelos, sejam eles no cinema, sejam na política, na economia, na justiça e em nossa conduta. Está na hora de agirmos, expurgando de vez o que, um dia, já foi aceitável (ou tolerado) e que já não tem mais espaço em nossa sociedade e vida. Isso vale para tudo!

*David Schurmann é cineasta, CEO das empresas da Família Schurmann e responsável pelo planejamento e desenvolvimento da Expedição Oriente


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